Com dois candidatos à Presidência da República com experiência no cargo, a campanha eleitoral deste ano tem sido marcada por comparações entre indicadores econômicos de seus respectivos governos. Nos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), a questão do emprego é tema recorrente.
Mudanças de metodologia – tanto no cálculo do estoque de empregos formais quanto da taxa de desemprego – dificultam uma comparação precisa entre as diferentes gestões, no entanto.
Confira a seguir alguns dados do mercado formal e de desocupação ao longo dos últimos 20 anos, período que abrange os governos de Lula, Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.
Mercado de trabalho formal
O número de empregados formais, ou seja, com registro de contrato em carteira de trabalho, é atualizado mensalmente pelo governo federal por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), instituído em dezembro de 1965.
A base de dados é utilizada para acompanhamento e fiscalização do processo de admissão e dispensa de trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e, além de servir para assistir os desempregados e apoiar medidas contra a desocupação, é também importante fonte de dados sobre a conjuntura econômica do país.
A partir de janeiro de 2020, houve uma mudança na metodologia do levantamento, que passou a considerar, além das declarações sobre admissão e desligamento enviadas pelas empresas, dados dos sistemas eSocial e empregadorWeb.
No eSocial, as empresas precisam informar vínculos temporários de trabalho, o que não era obrigatório anteriormente, o que fez com que o estoque de empregos aumentasse com a mudança de metodologia do Novo Caged, dificultando uma comparação exata entre períodos que utilizam os diferentes modelos.
O gráfico abaixo mostra o saldo mensal de empregos, que pode ser positivo (quando há mais contratações que demissões), ou negativo (quando os desligamentos são maiores). Em todos os anos o saldo de dezembro é negativo, o que explica as fortes quedas "periódicas" do gráfico abaixo (o texto da reportagem prossegue após os gráficos).
Sob Lula, foram gerados 13,2 milhões de empregos com carteira – média de 138 mil por mês
Ao assumir o governo federal pela primeira vez, Lula herdou de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) um país com estoque de 21,6 milhões de empregos com carteira assinada. Seu primeiro mandato terminou com 27,1 milhões de trabalhadores formais, ou seja, um saldo positivo de 5,5 milhões de vagas formais.
Ao fim de seu segundo mandato, eram 34,8 milhões de empregados com carteira assinada, segundo os dados do Caged. Ao longo dos dois mandatos de Lula, portanto, foram gerados 13,2 milhões de empregos, o que corresponde à geração de 137.824 vagas por mês, em média.
Governo Dilma teve alta de 3 milhões de vagas formais – média de 46 mil por mês
No governo Dilma Rousseff (PT), o estoque de empregos formais chegou a bater os 40,3 milhões em setembro de 2014, mas despencou no segundo mandato da petista.
Em maio de 2016, quando ela foi afastada do cargo durante o processo de impeachment, eram 37,8 milhões de vagas ocupadas no mercado formal. Isso significa um saldo positivo de cerca de 3 milhões de empregos enquanto ela esteve à frente do Executivo – média de 46.124 vagas geradas por mês.
Sob Temer, houve queda de 366,7 mil empregados – 12 mil por mês
Nos dois anos e meio em que Michel Temer (MDB) governou o país, o número de empregos com carteira assinada chegou a cair dos 37,8 milhões herdados de Dilma para 36,8 milhões, voltando a 37,5 milhões ao fim de seu mandato. O governo de Temer foi encerrado com um saldo negativo de 366,7 mil empregos, o que equivale a um saldo negativo de 11,8 mil por mês, aproximadamente.
Bolsonaro acumula saldo positivo de 5,1 milhões de empregos formais – 115 mil por mês
Do atual governo de Bolsonaro, os dados mais recentes do Novo Caged, divulgados nesta quinta-feira (29), contemplam o estoque de empregos formais até agosto de 2022. No primeiro ano do mandato do atual presidente, o saldo ficou positivo em 599,4 mil vagas formais, fazendo o estoque subir para 38,1 milhões em dezembro de 2019.
A partir de janeiro de 2020 até agosto de 2022, já sob a aferição do Novo Caged, houve saldo positivo de 4,4 milhões de empregos com carteira assinada. Com a pandemia, o estoque chegou a diminuir para 36,8 milhões de vagas formais ocupadas em julho de 2020, mas o mercado se recuperou em seguida, especialmente a partir de 2021.
Considerando os dois períodos, o total de trabalhadores com carteira assinada aumentou em cerca de 5,1 milhões desde o início do governo Bolsonaro, o que corresponde a uma média de 115.480 empregos formais gerados por mês.
Os dados mais recentes ainda podem ser revistos, uma vez que muitas empresas enviam com atraso as declarações de admissões e desligamentos. Nesses casos, a inclusão das informações nos índices do Caged é feita de forma retroativa.
Taxa de desocupação
Dois diferentes levantamentos foram utilizados para calcular a taxa de desemprego oficial do país nas últimas duas décadas. O primeiro era a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que teve início em 1982 e foi encerrada em fevereiro de 2016. A segunda é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), que teve início em 2012 e substituiu a PME a partir de março de 2016. Ambas são calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A PME abrangia seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) e tinha como tema básico o mercado de trabalho, associado a características demográficas e de educação. A Pnad Contínua, por sua vez, cobre todo o país. Além dos indicadores habituais do mercado de trabalho, ela inclui periodicamente temas adicionais, como trabalho infantil e outras formas de trabalho, fecundidade e migração, e informações suplementares, dependendo da necessidade, sobre o desenvolvimento socioeconômico do país (o texto da reportagem prossegue após os gráficos).
Após alta no início, desemprego diminuiu no governo Lula
Conforme a série histórica da PME, Lula iniciou sua primeira gestão herdando uma taxa de desocupação de 10,5% nas regiões metropolitanas, registrada no último mês da gestão de Fernando Henrique Cardoso.
O desemprego aumentou início da gestão petista, chegando a 13,1% em abril de 2004, e diminuiu em seguida, em especial a partir de 2007. Em dezembro de 2010, quando o ex-presidente encerrou seu segundo mandato, a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas estava em 5,3% – o que indica que o desemprego caiu pela metade, ou 5,2 pontos porcentuais, do início ao fim da gestão.
Sob Dilma, desocupação caiu ao menor nível e depois disparou
O governo Dilma teve início em janeiro de 2011, herdando uma taxa de desemprego de 5,3% nas regiões metropolitanas no fim da gestão anterior. O índice caiu a 4,3% no fim de 2014, quando terminou o primeiro mandato da petista, e avançou rapidamente nos meses seguintes, chegando a 8,2% em fevereiro de 2016, a poucos meses do afastamento da presidente, quando a PME foi encerrada.
A série histórica de pesquisa de emprego vigente desde então, a Pnad Contínua, começou apontando uma taxa de desocupação de 8% na média nacional em março de 2012, que recuou gradativamente até chegar a 6,3% em dezembro de 2013 – o menor desemprego já registrado até hoje por esse levantamento.
A desocupação deu um salto a partir de 2015, no segundo mandato, e quando Dilma foi afastada do cargo, em maio de 2016, o desemprego médio no país era de 11,3%.
Governo Temer teve aumento da desocupação no início e recuo no fim
No governo Temer, a taxa de desocupação medida pela Pnad Contínua saiu dos 11,3% que ele herdou de Dilma, e subiu nos meses seguintes, chegando a 13,9% em março de 2017 – a maior até então.
Depois o índice recuou e Temer encerrou o mandato com desemprego de 11,7% na média nacional, acumulando leve aumento de 0,3 ponto porcentual ao longo de toda a gestão.
Desemprego sob Bolsonaro subiu com a pandemia e está em queda desde 2011
Bolsonaro herdou um desemprego de 11,7% de Michel Temer. A taxa subiu nos primeiros meses de gestão, mas ao fim do primeiro ano de mandato recuou para 11,1%.
Com a pandemia, a taxa de desocupação teve forte aumento em 2020 e no primeiro trimestre de 2021, chegando ao pico histórico de 14,9% na medição de março daquele ano.
Dali em diante, o desemprego passou a cair quase sem trégua, chegando a 8,9% na medição mais recente, divulgada nesta sexta-feira (30). Trata-se do menor índice em sete anos. Com isso, a taxa de desocupação nacional acumula queda de 2,8 pontos porcentuais desde o início do governo Bolsonaro.
Colaborou Fernando Jasper
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