O primeiro debate deste segundo turno entre os candidatos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), foi realizado na noite desta segunda-feira (10) sob a organização da TV Bandeirantes. Assim como os debates do primeiro turno, os confrontos entre os dois candidatos giraram boa parte do tempo em torno dos seus padrinhos políticos, Jair Bolsonaro e Lula, rivais no segundo turno da disputa presidencial.
Durante as duas horas de debate, os candidatos alternaram entre propostas e comentários sobre suas eventuais gestões à frente do governo paulista, e críticas e enaltecimentos aos governos de Bolsonaro e Lula. Apesar da replicação do embate presidencial, o debate – que teve temas como segurança pública, educação e saúde abordados com maior profundidade – transcorreu de maneira bastante pacífica, sem o registro de sequer uma interrupção nas falas dos oponentes.
A primeira pergunta feita pelo mediador do debate, Rodolfo Schneider, a ambos os candidatos foi a respeito da redução do ICMS sobre os combustíveis, que recentemente foi reduzida de 25% para 18%. Os candidatos foram questionados sobre seu comprometimento com a manutenção do imposto nesse patamar.
Tarcísio de Freitas, primeiro a responder, disse que a redução do ICMS foi “uma briga comprada pelo presidente Bolsonaro” que teve impacto direto na redução da inflação. Destacou também que a redução dos preços nos combustíveis impactou na redução de preços de outros produtos, em especial de alimentação. O candidato comprometeu-se a manter o ICMS a 18% caso eleito.
Haddad também prometeu manter a atual taxa no atual patamar. Por outro lado, criticou a atuação de Bolsonaro dizendo que, ao reduzir o ICMS para os combustíveis, fez “caridade com o chapéu alheio” às vésperas da eleição. “Tomou dinheiro dos governadores para abaixar, durante as eleições, o preço do combustível”. O petista também acenou a Lula em sua fala dizendo que lutaria ao lado do padrinho político para “enfrentar o lobby dos acionistas estrangeiros da Petrobras”.
No primeiro confronto direto entre os candidatos com tema livre, Tarcísio trouxe à baila o tema da segurança pública e questionou Haddad a respeito de uma fala de Lula que, recentemente, disse que “Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial”, que naquela época gerou críticas por parte de agentes de segurança.
O candidato petista justificou a declaração de Lula alegando que o ex-presidente confundiu as palavras e queria dizer “milícia” e não “polícia”. Em seguida, passou a criticar falas de Bolsonaro. Sobre segurança pública, disse que é contra a retirada de câmeras dos uniformes dos policiais militares paulistas; a retirada dos itens é defendida por Tarcísio de Freitas. Haddad disse que valorizaria a carreira policial e contrataria mais policiais civis. O petista também questionou Freitas sobre políticas armamentistas.
Tarcísio reforçou que, se eleito, a segurança pública seria tema prioritário em seu governo e que isso seria conduzido em conjunto com o governo federal. “A era de tratar o policial como suspeito e o bandido como parceiro vai acabar”, disse.
Sobre a política de câmeras, afirmou que a eventual retirada é simbólica e transmite o recado de que o estado está amparando os policiais. “É um recado aos criminosos. Se for olhar a produtividade, vamos ver que a produtividade nas áreas de influência dos batalhões que estão com câmera caiu. A câmera não conseguiu restabelecer a segurança”, afirmou Tarcísio.
Em relação à política de armas vigente no governo Bolsonaro, disse que “a arma sempre chegou ao bandido, e agora está chegando ao cidadão de bem”. Em seguida, destacou a redução dos homicídios de 2019 para cá, após a vigência dos novos decretos do governo federal que flexibilizaram o acesso a armas e munições.
Freitas aproveitou para criticar fake news do Partido dos Trabalhadores durante o período eleitoral. Haddad negou a ocorrência de fake news e passou, novamente, a fazer críticas a Bolsonaro, em relação à condução da pandemia pelo governo federal. Os embates nos minutos seguintes se deslocaram do estado paulista e passaram a versar sobre críticas e enaltecimento dos governos de Bolsonaro e Lula, respectivamente.
Tarcísio de Freitas retomou, em seguida, dizendo que seu eventual governo trabalharia, “usando a liderança que o estado de São Paulo tem”, para reduzir a maioridade penal e rever benefícios como as “saidinhas” dos presídios. No âmbito da política prisional, afirmou que construiria mais presídios para o regime semiaberto.
Haddad se recusou a responder as perguntas de segurança pública feitas pelo adversário e voltou a pedir que Freitas comentasse a condução do governo Bolsonaro sobre a crise de saúde pública, a fazer críticas ao atual presidente e a, novamente, elogiar Lula.
Em seguida, o debate passou à educação. Tarcísio prometeu investimento na qualificação e valorização dos professores e no plano nacional de recuperação da aprendizagem devido ao longo período com escolas fechadas devido à pandemia da Covid-19 e ao combate à evasão escolar por meio de políticas de transferência de renda. Mais à frente, abordou propostas culturais que, segundo o candidato, teriam a preocupação de serem também descentralizadas para o interior do estado.
Haddad, na sequência, defendeu sua gestão à frente do Executivo da capital paulista entre 2013 e 2016. Na área da cultura, criticou políticas culturais durante o governo Bolsonaro e disse que “artistas passaram fome no meio da pandemia”. Também acenou para a população do interior paulista em relação às políticas na área cultural.
Segundo bloco é novamente marcado por segurança pública, além de educação e transporte
No segundo bloco, os candidatos foram questionados sobre propostas para combater crimes como sequestro-relâmpago e roubos de celulares, em alta em diversas cidades de São Paulo. Haddad disse que o problema está relacionado à falta de investigação para chegar nos criminosos e prometeu fortalecer a Polícia Civil.
Já o candidato do Republicamos reforçou sua proposta de investimento prioritário na área da segurança e prometeu novos concursos para as polícias, valorização das carreiras policiais e aumento do uso de tecnologias nas forças de segurança. Apontou que mudanças legislativas como o fim das audiências de custódia e a redução da maioridade penal são determinantes e devem contar com a atuação do governo do estado para seu avanço a nível federal.
Ao responder sobre o agronegócio e políticas para produtores rurais, Freitas disse que seu eventual governo contribuiria em aspectos como fornecimento de crédito rural, regularização fundiária e tecnologia e pesquisa para o agronegócio. Já o candidato petista disse que fortaleceria os órgãos de licenciamento ambiental do estado para facilitar a aprovação célere dos licenciamentos.
Sobre políticas de transporte sobre trilhos, Haddad destacou a importância do rigor nas parcerias público-privadas e afirmou que Lula, se eleito, faria um “grande investimento em trilhos aqui em São Paulo, para levar o metrô para a região metropolitana, mas também para fazer o trem intercidades”.
Freitas criticou os atrasos na circulação de trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que se tornaram um problema crônico para os paulistas. “Temos que cobrar imediatamente o cumprimento do contrato de concessão”, disse, emendando que seu eventual governo os contratos seriam cumpridos “com uma ação firme”.
Em pergunta sobre educação, o petista disse que de forma emergencial criaria um plano de alfabetização de crianças de até dez anos para recuperar dos impactos da pandemia na educação. O combate à evasão escolar também seria uma pauta prioritária em eventual governo de Haddad, assim como a “garantia da autonomia universitária” no estado.
Tarcísio de Freitas voltou a apontar foco prioritário no combate à evasão escolar por meio da concessão de bolsa de R$ 120 ao mês para todos os alunos do ensino médio para retê-los em sala de aula. Como prioridade, apontou também a adesão do estado ao plano nacional de recuperação de aprendizagem.
No terceiro bloco, candidatos focaram mais em propostas do que na polarização Lula-Bolsonaro
No terceiro e último bloco, novamente de perguntas com tema livre, Fernando Haddad iniciou questionando seu oponente sobre o financiamento de suas propostas de governo e questionou sobre o impacto do chamado “orçamento secreto” na distribuição dos recursos ao estado.
Adotado em 2020 pelo Congresso Nacional, o “orçamento secreto ou paralelo” é como ficaram conhecidas as emendas de relator (identificadas pelo código RP-9) no Orçamento Federal, que destinam uma fatia dos recursos públicos da União para livre execução de deputados e senadores em obras e melhorias em seus redutos eleitorais. Não há ingerência do poder Executivo na destinação desses recursos. O projeto de lei orçamentária de 2023 reserva R$ 19,4 bilhões para as emendas de relator.
Freitas garantiu que não faltariam recursos para atender políticas públicas como merenda escolar e Farmácia Popular. Também prometeu aumentar o número de unidades que integram o programa Bom Prato, cujo objetivo é oferecer refeições para a população de baixa renda no estado, e entregar merenda escolar inclusive durante o recesso escolar.
Em seguida os candidatos debateram eventuais impactos do orçamento secreto na dispensação de recursos para São Paulo. Freitas aproveitou para enfatizar a importância de privatizações e parcerias com a iniciativa privada em sua eventual gestão, o que, segundo ele, melhoraria e baratearia serviços públicos. Disse também que não descontinuaria projetos em andamento iniciados pela gestão do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB).
Haddad voltou a dizer que, devido às emendas do relator, não haveria recursos suficientes para bancar as propostas à mesa, questionou propostas voltadas a privatizações e disse que era preciso refazer o modelo econômico para atender a “base da pirâmide”.
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