Na noite desta quinta-feira (27), os candidatos ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) fizeram o último debate antes da votação no segundo turno, que ocorrerá no próximo domingo (30).
Ao longo do debate, transmitido pela TV Globo, a estratégia de Haddad – em especial nos dois primeiros blocos – foi focar em críticas a Bolsonaro e em tentativas de vincular eventuais erros na gestão do atual presidente a Tarcísio, que foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro até março deste ano. Já o candidato do Republicanos, ao responder, acabou mantendo o debate no âmbito nacional. Em paralelo, sobretudo na metade final do debate, os candidatos passaram a aprofundar mais nas questões sobre o estado paulista.
Diferentemente dos debates anteriores neste segundo turno, nos quais os candidatos priorizam por evitar embates contundentes, o atual confronto foi marcado por discussões mais ríspidas e acusações mútuas entre os postulantes ao governo paulista.
Veja a seguir os principais pontos do debate:
Primeiro bloco é marcado por tensão e denúncias entre os candidatos
Na primeira pergunta, feita por Haddad, o petista questionou o ex-ministro em relação à frequência escolar e à vacinação de crianças. Antes de responder, Tarcísio fez duras críticas a fake news difundidas pela campanha petista. A primeira estaria relacionada ao aumento da conta de água, no caso de eleição de Tarcísio, em decorrência da proposta de possibilidade de privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O candidato do Republicanos afirmou que a eventual privatização não impactaria em aumento de preços.
A segunda notícia falsa segundo Tarcísio se refere ao não reajuste real do salário em eventual reeleição do atual presidente. “Falso. Mentira. O salário mínimo vai ter aumento acima da inflação. Aposentarias e pensões não vão ter aumento real? Mentira. Vão ter aumento acima da inflação. Funcionários públicos não vão ter aumento acima d a inflação. Mentira. Vão ter aumento acima da inflação também”.
Tarcísio ainda mencionou outros pontos apontados como falsos, como a alegação de que Bolsonaro acabaria com o Auxílio Emergencial e o 13º terceiro. “Foi tanta fake news, Haddad, que pessoas ligadas a você – me refiro ao Márcio França – disseram que o goleiro Bruno, condenado por assassinato, seria meu secretário. Aí já começa a entrar na área do deboche com o eleitor”.
Haddad, em sua resposta, fez novas alegações contra Tarcísio e Bolsonaro e voltou a questionar sobre vacinação de crianças. A discussão, no entanto, passou a ser em relação ao deslocamento de oxigênio para Manaus durante a pandemia, sob a gestão do governo Bolsonaro. Haddad apontou falhas na operação, enquanto Tarcísio defendeu que houve decisões acertadas.
Voltando ao tema da vacinação, Tarcísio disse que “trabalharia incessantemente para que a vacinação seja um sucesso”. “O Brasil tem uma tradição de vacinação. Eu vacinei meus filhos, e é muito fácil convencer cada pai, cada mãe a vacinar seus filhos. Vamos levar a vacinação onde os pais estiverem”. Disse também que não promoveria vacinação obrigatória, mas investiria em promover a importância da vacinação aos paulistas.
Sobre o combate à evasão escolar, Tarcísio disse que aumentaria a bolsa para estudantes a fim de incentivar a permanência dos estudantes. “Vamos pagar essa bolsa para 1,2 milhão de estudantes, ou seja, para todos os alunos do ensino médio”. A bolsa teria aumento de valor (de R$ 100 para R$ 140) e seria prorrogada por dois meses a mais, segundo o candidato.
A pergunta seguinte, feita por Tarcísio a Haddad, tratou-se da política de desapropriação de terras e relação do petista com o MST. “O agronegócio tem uma lei no país, que terras improdutivas elas têm que ser destinadas à produção de alimentos”, disso o petista, que em seguida passou a questionar a política econômica de Jair Bolsonaro. Na sequência, perguntou a Haddad sobre sua visão a respeito do salário mínimo nacional.
“Como eu disse aqui, o ministro Paulo Guedes já colocou isso de maneira muito enfática, e o presidente Bolsonaro também: salário mínimo vai ter aumento real no ano que vem, vai aumentar maior do que a inflação”, disse o ex-ministro. Com relação ao salário mínimo no estado paulista, Tarcísio disse que estuda elevar o salário para R$ 1.550 ou 1.600.
O ex-ministro voltou a questionar Haddad sobre o MST. O petista se defendeu dizendo que quando foi prefeito de São Paulo comprou muitos alimentos da agricultura familiar, incluindo o MST, e voltou a levar as críticas para o âmbito federal, com críticas a Bolsonaro. Para responder, seu oponente acabou mantendo a discussão no âmbito nacional fazendo a defesa da condução econômica do governo federal.
Segundo bloco tem discussão sobre população de rua e saúde
No segundo bloco, Tarcísio questionou Haddad sobre propostas para famílias que vivem nas ruas. O candidato do PT disse que ofereceria para essa população “todas as possibilidades possíveis e necessárias para que ela encontre um caminho. A solução não será única; existem famílias que irão receber um auxilio-aluguel, outras vão receber a renda básica. Existem indivíduos, às vezes egressos do sistema prisional, que não têm nenhuma dependência química. Vamos abrir frentes de trabalho”, disse. Em relação àqueles que possuem dependência química, disse que seriam encaminhados para tratamento. “É um conjunto de medidas que iremos fazer com os prefeitos”, prosseguiu.
Tarcísio devolveu alegando que a população de rua aumentou durante a gestão de Haddad como prefeito da capital paulista. O petista tornou a levar o debate para o âmbito nacional afirmando que Bolsonaro “acabou com o Minha Casa, Minha Vida”. O candidato do Republicanos, então, respondeu valorizando o programa Casa Verde e Amarela, que substituiu o programa de habitação do governo petista.
Em relação a seu eventual governo, Tarcísio disse que triplicaria o valor a ser destinado a políticas de habitação e que promoveria amplo programa de aluguel social e “assistência social viva, que é aquela onde a gente apresenta o caminho de saída, constrói um plano de desenvolvimento individual para que a pessoa possa dar seus passos em direção à prosperidade. Para que a gente possa requalificar. A pessoa fica no aluguel social antes de ter a propriedade, depois que ela já está pronta, inserida no mercado de trabalho”.
A próxima pergunta, de Haddad, foi em relação à falta de médicos no SUS. O ex-ministro disse que há regiões no estado com excesso de médicos, enquanto outras sofrem com escassez. A solução apontada por ele é a elaboração de plano de cargos e salário de modo a incentivar financeiramente que médicos se desloquem a locais que atualmente sofrem com poucos profissionais. Disse também que promoveria mais concursos para médicos e demais profissionais de saúde.
Em sua fala, o petista criticou a gestão do SUS por parte do governo Bolsonaro. Ao responder, Tarcísio declarou: “Você tem uma fixação de falar do governo federal, Haddad, que eu acho que você deveria disputar de novo a presidência da República. Vamos discutir São Paulo”, disse.
Terceiro bloco tem novo enfrentamento com tema livre
Tarcísio perguntou, inicialmente, qual seria o perfil do secretariado de Haddad, caso seja eleito. O petista evitou aprofundar e disse que “não nomeia secretário antes de ganhar a eleição”. “O que posso te dizer é que o ministro da Economia do Lula não será o Paulo Guedes. Por uma razão: não conheci ninguém mais cruel com os pobres do que o Guedes”.
Em seguida, indagou o ex-ministro sobre suas propostas de transporte para pessoas que moram em cidades diferentes do local onde trabalham e também se o candidato seria a favor do bilhete único metropolitano. Tarcísio disse que é favorável e que ampliaria o programa do bilhete único e explicou projetos de infraestrutura para o estado, que, em partes teriam apoio da iniciativa privada.
“Ficam claros os caminhos diferentes para atingir o objetivo: o caminho da livre iniciativa, do investimento privado e da autonomia do orçamento público versus o caminho do Estado”, disse Tarcísio ao citar sua proposta de estudar a privatização da Sabesp. “A iniciativa privada pode trazer uma avalanche de investimentos”, continuou. Em seguida, Tarcísio criticou políticas econômicas intervencionistas durante o governo Lula e defendeu políticas liberais do governo Bolsonaro.
Haddad, por outro lado, criticou políticas de privatização alegando que isso aumentaria as tarifas à população. Aproveitou para criticar especificamente a proposta de privatização da Sabesp. “A tarifa [de água] vai subir, porque o empresário está atrás de lucro. Você pode buscar eficiência fazendo parceria com o setor privado em determinados pontos em ter que vender o controle acionário da companhia”.
Por fim, os candidatos debateram sobre políticas relacionadas à Cracolândia e fizeram novas trocas de acusações mútuas – Haddad focou em destacar que Tarcísio não é natural de São Paulo, e o ex-ministro apontou falhas na gestão do petista em relação à Cracolândia quando era prefeito da capital paulista.
No bloco final, candidatos debatem sobre violência contra a mulher e geração de empregos
Na primeira pergunta do quarto e último bloco, Haddad selecionou o tema da violência contra a mulher e indagou seu oponente quanto às propostas relacionadas a essa temática. “Vamos ser implacáveis com relação à violência contra a mulher. A mulher vai ganhar espaço de destaque no meu governo”, afirmou Tarcísio de Freitas, prometendo a criação da secretaria especial da mulher, que atuaria em frentes como empreendedorismo feminino, saúde da mulher e combate à violência contra a mulher.
Já Haddad destacou que atualmente quando uma mulher é agredida, ela deve passar por uma “via-sacra” para ser atendida – pronto-socorro para receber atendimento; IML para fazer laudo; e delegacia para fazer o boletim de ocorrência. “No meu plano de governo temos uma proposta para que essas três atividades sejam feitas num lugar só”. Declarou também que criaria mecanismos para verificação do cumprimento das medidas protetivas.
Na última pergunta do debate, o candidato do Republicanos perguntou ao petista sobre a criação de empregos formais. Haddad disse que, se eleito, faria uma reforma tributária estadual. “Se nós esperarmos sair a federal podemos continuar sangrando e perdendo indústrias e empresas para outros estados”.
Tarcísio, por outro lado, destacou que geraria empregos “reduzindo embaraços” para o micro e pequeno empreendedor, responsáveis por gerar um grande número de postos de trabalho; prometeu linhas de crédito com juros baixos para esses empreendedores a fim de incentivar os pequenos negócios; e disse que promoveria reforma tributária estadual caso eleito. Por fim, a intensificação do investimento em infraestrutura a fim de concluir obras paralisadas seria outro mecanismo para a geração de empregos segundo Tarcísio.
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