O ex-governador paulista João Doria (PSDB) desistiu de sua candidatura presidencial nesta segunda-feira (23) e, de imediato, os holofotes foram direcionados para a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Também pré-candidata ao Palácio do Planalto, a parlamentar passaria a receber, com a saída de Doria, o aval que lhe faltava para ser homologada como o nome único da chamada terceira via na disputa, e assim tentar superar a polarização colocada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL).
A chancela definitiva, porém, ainda não chegou a Tebet. A emedebista tem outras barreiras a serem superadas em sua tentativa de concorrer, com forte apoio institucional, à chefia do Executivo nacional. A lista de obstáculos inclui resistências em seu próprio partido, grupos do PSDB que ainda defendem a candidatura própria, outras forças partidárias que disputam o "espólio" de Doria e o desempenho dela nas pesquisas, ainda pouco expressivo até o momento.
MDB e suas divisões costumeiras
A desistência de Doria não muda o quadro de que muitos segmentos do MDB não apoiam a candidatura de Simone Tebet. Estes grupos, via de regra, não têm problemas com a senadora. A questão é que muitos de seus integrantes têm simpatia às candidaturas de Lula e Bolsonaro. O MDB tem, por exemplo, o líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (TO). Na mão oposta, o senador Renan Calheiros (AL) é ardoroso defensor da candidatura de Lula.
O quadro atual repete uma tendência histórica do MDB, que é a de o partido se dividir na hora das eleições presidenciais. Em 2018, o partido teve como candidato formal o ex-ministro Henrique Meirelles, que teve pouco apoio de lideranças tradicionais.
Em entrevista coletiva concedida em Cuiabá, Tebet disse que as divisões fazem parte da democracia e declarou que as lideranças contrárias à sua candidatura são minoritárias no MDB. A senadora também rebateu questionamentos de que sua candidatura poderia enfraquecer o partido: "o que diminui um partido não é ter candidatura, e sim o contrário".
Num contexto de precisar mostrar apoio de lideranças, a senadora ganhou um grande apoio nesta segunda: o ex-senador Romero Jucá (RR) disse considerar "muito importante" a candidatura de Tebet e que a senadora "tem todas as qualidades de ser uma grande candidata". “Eu considero muito importante que o MDB possa ter candidatura própria. O MDB precisa ter a condição de colocar para a sociedade brasileira o que pensa e o que defende na economia, na política, nos programas sociais. O partido que não disputa eleição não forma time”, declarou. Jucá foi presidente do MDB e é pré-candidato a senador em 2022.
O MDB fará uma reunião nesta terça-feira (24) para discutir os novos encaminhamentos de seu projeto presidencial. O anfitrião será o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do partido e entusiasta da candidatura de Tebet.
Aliados: Cidadania sim, PSDB talvez
"Tebet para presidente". O presidente nacional do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire (PE), foi direto em seu perfil no Twitter ao manifestar apoio à pré-candidatura da senadora. O endosso de Freire deve se replicar pelo Cidadania e o partido integrará a coligação da senadora, se confirmada.
Já o PSDB mergulhou em indefinições. A desistência de Doria não se converteu em uma adesão automática dos tucanos ao projeto emedebista. Ao contrário: a decisão do ex-governador paulista relançou o PSDB em uma série de especulações que só serão definidas nos próximos dias, ou mesmo em um futuro mais distante.
Tucanos históricos não admitem que o partido não tenha um candidato a presidente. A relação dos que mantêm essa posição contém nomes como o ex-senador José Aníbal (SP), o deputado Aécio Neves (MG), o ex-governador Marconi Perillo (GO) e o ex-deputado Marcus Pestana, que é pré-candidato ao governo de Minas Gerais. Este grupo defende que o partido volte a trabalhar o nome do ex-governador Eduardo Leite (RS), que foi derrotado por Doria nas prévias do partido.
"Continuo defendendo, como sempre fiz, que tenhamos candidatura própria. A partir da decisão do ex-governador paulista, o partido está em condições de analisar outros nomes da nossa legenda que possam liderar não só o PSDB, mas também importantes setores do centro democrático, nesse momento grave da vida nacional", declarou Aécio, em nota divulgada à imprensa.
A indefinição fez com que o PSDB desmarcasse sua reunião antes prevista para esta terça (24). O encontro ficou para uma data futura, ainda não resolvida.
“A reunião da executiva foi cancelada, pois seria uma reunião com a presença do ex-governador João Doria, no qual trataríamos das deliberações do encontro que tivemos com o Cidadania e o MDB nos últimos dias. Após o gesto de grandeza de Doria, esta reunião se tornou inócua naturalmente. O presidente Bruno Araújo vai remarcar a reunião para seguirmos alinhados", disse o líder do partido na Câmara, Adolfo Viana (BA), também por meio de nota.
PT pode virar pedra no caminho de Tebet
A disputa que Tebet travará para consolidar o apoio do PSDB poderá ter um adversário inusitado: o PT. Setores do partido passaram a falar que o PSDB será procurado para conversar após a desistência de Doria, num esforço para concentrar as "lideranças democráticas" ao lado da candidatura de Lula.
“Diante da desistência, temos que procurar o Doria e o PSDB, dentro dessa jornada em prol da democracia para derrotar Bolsonaro. Avalio que deveremos fazer isso dentro de alguns dias. No momento, Doria ainda está lambendo as feridas”, disse ao site Metrópoles o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto.
Grupos do partido esperam que a aproximação entre o ex-governador paulista Geraldo Alckmin e o petismo também possa contribuir para uma eventual adesão de setores do PSDB à candidatura Lula. Alckmin foi um dos fundadores do PSDB e militou até o ano passado no partido, que deixou para ir ao PSB e ser vice de Lula. Além dele, o ex-senador Aloysio Nunes (SP), outro tucano histórico, anunciou voto em Lula e pode colaborar para unir os grupos.
PDT fala em "diálogo aberto" e "respeito à decisão do MDB"
Enquanto isso, o partido de Ciro Gomes, outro nome tido como terceira via na disputa presidencial, olha a desistência de Doria com distanciamento. O presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, destacou que ao longo dos meses vários nomes cotados como terceira via foram deixando a corrida presidencial: além de Doria, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, o apresentador Luciano Huck, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Mas Ciro resistiu.
À Gazeta do Povo, Lupi reiterou o momento de Ciro e disse que a pré-candidatura do ex-governador do Ceará segue forte dentro do partido. Ele apontou que tem um "diálogo aberto" com o MDB e outros grupos de centro. Mas disse que não cogita sugerir ao MDB que apresente Tebet como vice de Ciro, ao mesmo tempo que não espera o oposto.
"A conversa está sempre aberta, mas eu coloco um voto de respeito. Se peço respeito à decisão do PDT de apresentar a candidatura de Ciro, respeito a decisão do MDB de colocar a candidatura da Simone", reiterou.
Recentemente, Ciro Gomes fez um aceno público a Tebet e disse considerá-la uma pessoa "diferente" dentro da terceira via ao ser questionado sobre qual pré-candidato ele aceitaria ter coo companheiro de chapa.
Tebet demonstra confiança, mas vai mal nas pesquisas
A senadora Simone Tebet disse que foi "positivamente surpreendida" com a desistência de Doria e chamou o posicionamento do tucano de um ato de "grandeza e generosidade". Ela afirmou que está "extremamente confiante" na possibilidade de receber os votos que, hoje, estariam destinados a João Doria. Ela chamou ainda o ex-governador paulista de "imprescindível" para o projeto presidencial da terceira via.
A emedebista precisa agora superar o quadro atual, em que tem baixa preferência do eleitorado. Pesquisa do Ipespe divulgada no último dia 20 mostra que ela tem apenas 2% das intenções de voto. Ficou atrás de Lula, Bolsonaro, Ciro e do agora ex-pré-candidato Doria, e empatando com o deputado André Janones (Avante), que se apresenta como um "outsider" da política.
Já na última pesquisa eleitoral da Genial/Quaest, divulgada no último dia 11, Tebet aparece também em quinto lugar, com 1% das intenções de voto.
Metodologia das pesquisas citadas
A pesquisa Ipespe foi realizada no período de 16 a 18 de maio de 2022, com 1.000 eleitores de 16 anos ou mais de todas as regiões do país. A margem de erro máximo estimada é de 3.2 pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,5%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-08011/2022.
Já a pesquisa do instituto Quaest foi contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 5 e 8 de abril de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-01603/2022.
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