O Brasil nunca foi um país rico, mas o que ocorreu em termos econômicos desde meados da década passada comprova que, ainda que não esteja necessariamente fadado ao fracasso, o país tampouco alcançará o sucesso sem a ousadia de promover profundas transformações, que exigirão tempo, paciência e persistência.
Nossa economia ainda não havia se recuperado da recessão de 2015-16 quando foi abatida, em voo baixo, pela pandemia de coronavírus. Por mais rápido que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha se recuperado dos impactos da crise do vírus, o cenário ainda é desolador.
Na divisão da geração de riquezas pelo número de habitantes, o PIB per capita chegou a R$ 40,7 mil em 2021. Maior que nos piores momentos dos últimos anos, mas menor que em 2010, quando o indicador era de R$ 41,5 mil por pessoa, em valores atualizados. Na média, somos mais pobres hoje do que 12 anos atrás.
Mais dramática é a comparação com outros países. Por muito tempo o brasileiro teve renda média pouco superior à mundial, mas de 2015 para cá a relação se inverteu, e vem piorando. Considerando a paridade do poder de compra, o PIB brasileiro per capita foi de US$ 14,8 mil em 2020, 13% abaixo da média global (US$ 15,6 mil), segundo os dados mais recentes do Banco Mundial.
Se em 1990 o PIB por habitante do Brasil equivalia a 80% do sul-coreano, três décadas depois ele correspondia a apenas um terço. Também em 1990, o indicador do Brasil equivalia a uma vez e meia o do Chile; na medição mais recente, o número brasileiro correspondia a 59% do chileno.
Não é difícil entender por que tantas pessoas optaram por deixar o país – o número de brasileiros morando no exterior aumentou 35% em uma década, chegando a 4,2 milhões em 2020.
Padecemos de um crônico atraso econômico, político e social. O Estado brasileiro é um mastodonte infectado por instabilidade política, corrupção e leis confusas e mutantes. Um ser que vive de altos impostos, intervém na vida de pessoas e empresas e oferece serviços públicos de baixa qualidade. Não admira que poucos se sintam seguros para viver e empreender por aqui. Tampouco espanta que, certos ou errados, exagerados ou não, tantos acreditem que o baixo crescimento econômico e a vida política imoral e corrupta façam parte da essência do país – e que portanto ele não vai mudar, muito menos dar certo.
Por mais que alguns ainda recorram à surrada (e falsa) explicação de que a culpa de nosso atraso está lá fora, em alguma superpotência ou conluio de nações inimigas, a verdade é que o Brasil é seu maior inimigo e se boicota há décadas.
Sair desse estado não é questão de poucos anos. Não é tarefa para um mandato. É preciso, antes de mais nada, fazer um diagnóstico correto dos problemas, e então elaborar um projeto com visão de médio e longo prazo. Cabe à população, às lideranças e, mais precisamente, aos eleitores cobrar dos candidatos que expliquem suas ideias e propostas para tirar o país do marasmo – e não apenas para provocar um pequeno surto de crescimento capaz de garantir a eleição seguinte.
Não há saída fácil. Mas entendemos que ela passa por uma série de medidas que, em comum, têm a capacidade de elevar a produtividade do país. Pois não existe crescimento da renda média nem do padrão de vida sem que haja um aumento na quantidade de riquezas produzida por trabalhador, por máquina, por real investido.
Por muitas décadas o país cresceu incorporando novos trabalhadores. Foi o aumento da população e, consequentemente, da mão de obra que elevaram a produção nacional. Esse tempo passou. Hoje a população dependente (crianças e, principalmente, idosos) cresce mais rápido que a população em idade produtiva; por isso, esta terá de produzir cada vez mais para sustentar a si e às demais.
Como o desemprego é elevado, ainda há espaço para elevar a geração de riquezas com o uso do contingente ocioso – assim, é claro, que houver demanda para tanto. Mas é uma margem pequena, e incapaz de nos tirar do subdesenvolvimento.
Em nossa visão, o aumento da produtividade depende essencialmente de: redução na burocracia para empreender; ampliação do investimento em infraestrutura, em especial privado; um vigoroso movimento de privatização de estatais; abertura comercial, com assinatura de acordos com outros países e blocos econômicos e redução de tarifas de importação; uma reforma administrativa, para tornar a máquina pública mais enxuta e eficiente; e uma reforma tributária, para simplificar o pagamento de impostos e reduzir a carga de tributos sobre produção e consumo, deslocando-a para renda e patrimônio.
Mesmo isolados, esses fatores já levariam a grandes avanços; juntos, têm o potencial de elevar o país a outro patamar de desenvolvimento. Porém, nada disso será suficiente se o país não fizer uma aposta firme e persistente na melhora da qualidade da educação. Sem um aumento da escolaridade e dos níveis de aprendizado de nossos jovens, não haverá como enfrentar os desafios impostos desde já pelas novas formas de consumir e produzir riqueza. Se já estávamos atrasados para uma economia mais analógica, ainda mais delicada é nossa posição em meio ao rápido avanço da digitalização.
Como se vê, é um trabalho que demanda visão, disposição e, principalmente, capacidade de convencimento. É preciso que todos conheçam a importância de trilhar juntos esse caminho, que será longo e repleto de obstáculos, com as forças do atraso sempre à espreita.