Na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), a palavra “cidadania” aparece 55 vezes. Entre as competências gerais que as instituições de ensino devem ajudar os alunos da educação básica no Brasil a desenvolver, o documento ressalta a capacidade de “fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.
De fato, é importante que as escolas assumam um compromisso com a formação dos valores cidadãos. É na idade escolar que os jovens começam a se dar mais conta, por exemplo, do valor da responsabilidade, da busca pela excelência, do respeito às outras pessoas, da honestidade, da lealdade e do espírito de cooperação. Isso pode ser favorecido pelo bom exemplo dos educadores, por boas aulas, por um nível alto de exigência dos estudantes e pelo desvelo em criar um clima de cordialidade e ordem dentro do ambiente escolar. Mais ainda: como prevê a BNCC, convém que a grade curricular incentive a reflexão direta sobre o tema da cidadania.
Mas, por melhor que seja a educação escolar nesse ponto, seria ingênuo pensar que as escolas são o ator mais influente na consolidação do caráter dos jovens. Uma política educacional prevendo a formação das virtudes cidadãs não é suficiente para fazer germinar uma geração de pessoas responsáveis, livres, honestas, solidárias e competentes. Há outras forças com influência mais pervasiva sobre a mentalidade de crianças e adolescentes do que as escolas.
A família, naturalmente, é o agente com maior impacto sobre os hábitos que levamos para a vida. Por isso mesmo, é difícil haver boa formação se a estrutura familiar é frágil e se não há vínculo estreito entre as famílias e os educadores a quem elas confiam suas crianças. Mas, especialmente no mundo atual, onde as tecnologias de comunicação podem colocar as pessoas rapidamente em contato com tipos variados de visões de mundo, os meios de comunicação, o entretenimento e as artes exercem um papel determinante sobre o que pensamos.
As redes sociais, os serviços de streaming, os sites de vídeos, os jornais, a televisão, o cinema, a literatura e todos os meios pelos quais estabelecemos contato com diferentes ideias, experiências estéticas e modos de vida são importantes formadores de nossa personalidade. E, com o relativismo que se insinua em muitos desses meios – nos quais se tornou tão comum desconfiar seriamente da própria capacidade do ser humano de buscar a excelência –, boas políticas educacionais e até mesmo bons exemplos dentro de casa podem se tornar inócuos no desafio de educar para a cidadania.
Sem o esforço de todas essas instâncias da sociedade por promover o bem comum – começando por reconhecer que o bem comum é uma meta possível, ainda que árdua de se atingir –, a cultura da desconfiança tenderá a prevalecer acima dos valores cidadãos. A firme convicção na vocação do ser humano para a excelência é a base sobre a qual se constrói uma sociedade. Recuperar essa convicção é uma boa meta para o Brasil nos próximos anos.
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