A “prioridade dentro da prioridade” é o estabelecimento de metas agressivas para a evolução dos indicadores de ensino.| Foto: Bigstock
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Como o Brasil pode se beneficiar plenamente da revolução tecnológica em curso se os brasileiros estão saindo da escola sem saber o básico nem do próprio idioma, nem de Matemática? Pois esse é apenas um dos bondes que o país está perdendo ao não dar a devida prioridade à educação; um conhecimento deficiente não prejudica apenas o aproveitamento das novíssimas tecnologias; ele impede os brasileiros de exercerem tarefas bem mais prosaicas, puxando para baixo a produtividade. Por isso, a “prioridade dentro da prioridade” é o estabelecimento de metas agressivas para a evolução dos indicadores de ensino.

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O desempenho medíocre do Brasil em provas internacionais como o Pisa, que mede habilidades em leitura, Matemática e Ciências, não pode mais ser encarado como um dado da natureza ao qual nos conformamos, mas como uma vergonha imensamente maior que a de uma goleada sofrida em Copa do Mundo. As primeiras etapas da educação necessitam de uma atenção especial: se temos universitários praticamente analfabetos, incapazes de entender textos e fazer cálculos que nem podemos elencar entre os mais complexos, é porque os ensinos fundamental e médio estão falhando muito. Estabelecer pequenas melhoras como objetivo é contentar-se com pouco; governantes nas três esferas precisam mirar alto e investir com inteligência. Casos exemplares como os de Portugal e da cidade cearense de Sobral mostram que é possível evoluir muito em pouco tempo fazendo o básico com inteligência e foco.

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As avaliações precisam se tornar mais frequentes e mais rigorosas, sem truques que mostrem evolução onde não há nenhuma – se o ritmo de melhora no Ideb é maior que no Pisa, por exemplo, podemos ao menos suspeitar que a avaliação nacional talvez não esteja medindo adequadamente o conhecimento dos estudantes. Gestores precisam ser cobrados pela forma como investem os recursos públicos destinados à educação, já que o Brasil é conhecido não por gastar pouco, mas por gastar mal. A dita “valorização do professor” tem de sair do discurso e se tornar prática – e a melhor maneira de fazê-lo é tornar a docência um caminho atrativo para os profissionais mais brilhantes em seus campos, sobretudo pela criação de um ambiente de admiração pelo trabalho do professor, de respeito por sua autoridade, e por uma remuneração congruente com a relevância da atividade.

E, por si só, o foco em metas agressivas de desempenho nos conteúdos mais importantes e necessários para que alguém possa ser capaz de “navegar” pelo mundo moderno ajudará também a resolver outros problemas da educação nacional, como a ideologização do ensino levada adiante por professores mais interessados em militância político-partidária que em preparar seus alunos para tarefas básicas do cotidiano. Além disso, a ênfase nos conteúdos mais essenciais não exclui uma sólida formação humanística; os estudantes precisam ter acesso aos clássicos da literatura, das humanidades, das artes e das ciências, verdadeiro patrimônio da humanidade – mas eles só serão capazes de aproveitar tudo isso se, antes, tiverem sido capacitados a compreender textos mais elaborados.

O ensino superior merece um capítulo à parte, a começar pelo próprio modelo que privilegia o diploma universitário enquanto despreza o ensino técnico, tendo como resultado uma multidão de bacharéis de qualificação baixa enquanto faltam profissionais em carreiras vitais para a sociedade – um erro grave que tem de ser revertido. O pesado investimento feito nos universitários e nas universidades brasileiras (proporcionalmente maior que o destinado aos estudantes do ensino fundamental e médio, algo que precisa ser revertido) não tem trazido os benefícios esperados. O Brasil tem de aproximar universidade e setor produtivo, com ênfase em inovação; tornar sua pesquisa mais relevante mundialmente, em vez de se trancar em uma bolha autorreferente; e tornar a universidade um local que faça jus ao nome, um autêntico espaço de pluralismo de ideias, quebrando uma hegemonia ideológica que é hostil a qualquer diálogo com quem pensa diferente.