A escolha de prioridades como a revitalização da democracia e o foco na educação não significa que o próximo governo tenha de deixar de lado outras áreas de fundamental importância. Saúde pública, saneamento, segurança, assistência social, infraestrutura, combate à pobreza são temas que também exigem o olhar do poder público para que as mazelas socioeconômicas não sigam prejudicando os brasileiros. Não há como esperar que indivíduos e famílias possam realizar todo o seu potencial se lhes faltam as condições básicas para isso: se talentos são ceifados prematuramente pela violência ou cooptados por ela; se doenças perfeitamente evitáveis continuam a se espalhar por falta de medicamentos, políticas preventivas ou ligações de água e esgoto; se o desemprego ou o subemprego deixam pais e mães de família sem ter nem mesmo o que colocar na mesa.
O Estado provedor e assistencialista, no entanto, já se mostrou um fracasso no combate aos graves problemas socioeconômicos do país. Não apenas ele não conseguiu resolver tais mazelas, como também atrofiou todos os demais atores sociais ao tomar para si o protagonismo – quando não a exclusividade – na busca e execução de soluções, fazendo deles, no máximo, coadjuvantes nos casos em que o governo finalmente reconhece sua incapacidade. É necessário promover uma mudança radical que reconheça e restaure o verdadeiro papel do Estado e da sociedade no combate à pobreza e às demais deficiências do país. Esta mudança passa por duas etapas.
A primeira é o mapeamento abrangente das mazelas socioeconômicas para que se conheçam exatamente quais são as prioridades de cada região. É impossível saber onde empregar recursos humanos ou financeiros sem ter a dimensão exata do que precisa ser feito – agir sem ter clareza sobre o cenário é receita certa para redundâncias e desperdícios, e deixa espaço para a imposição de medidas ou políticas públicas unificadas que não necessariamente farão sentido em todos os locais ou contextos.
Uma vez mapeadas as necessidades de cada região, o poder público precisa torná-las públicas e colocar em prática todos os mecanismos para que a iniciativa privada, tanto por meio de empresas quanto por entidades da sociedade civil organizada, seja a protagonista na busca e na execução de soluções para as mazelas socioeconômicas, não como mera assistente do Estado, mas em um papel de liderança, tendo o poder público como auxiliar em um papel subsidiário. A capacidade da sociedade civil organizada já foi testada e aprovada em diversos setores, inclusive na gestão de unidades de educação e saúde. Um poder público ciente do poder da sociedade não hesitará em deixar para trás ranços estatizantes, saberá responder ao discurso surrado (e ideologicamente enviesado) da “privatização de serviços públicos” e adotará boas práticas para parcerias que economizarão o dinheiro do contribuinte e estarão orientadas para a busca de melhores resultados para a população.
Por fim, é importante também recordar que a sociedade terá mais condições de dar respostas adequadas às mazelas socioeconômicas se sua célula mais básica estiver fortalecida. É preciso voltar o olhar para a família, hoje bombardeada de todos os lados por inúmeras ameaças, como a falta de incentivo a compromissos duradouros, fechando os olhos para a desagregação familiar; o desestímulo à abertura à vida; a negação do papel fundamental de pai e mãe na vida de cada criança; o descaso com os idosos; ou a disseminação das drogas e de outros comportamentos degradantes. Políticas públicas voltadas à família, portanto, devem ser componente importante de qualquer plano de governo. Elas não podem, no entanto, se limitar a combater o erro, mas também devem dar condições para que as famílias floresçam, por exemplo ao garantir que o cuidado com a família não seja um impeditivo para a participação em outras dimensões da sociedade, como o mundo do trabalho.
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