O ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) participa da pré-campanha para o governo de São Paulo na condição de “candidato oficial” do presidente Jair Bolsonaro. Em recente entrevista ao programa Roda Viva, declarou ter alinhamento total com o chefe do Executivo e afirmou também esperar ser contemplado com a “transferência de votos” dos paulistas que apoiam o presidente. A situação de Tarcísio, porém, não é a mesma de outros pré-candidatos alinhados a Bolsonaro. Em diferentes estados do Brasil, defensores do governo disputam entre si a chancela de “candidato de Bolsonaro” e, em muitos casos, o cenário tem proporcionado brigas em alta temperatura.
O próprio caso de São Paulo é um exemplo. Se na corrida pelo governo estadual Tarcísio não tem competidores na busca pelo apoio do presidente, a disputa para o Senado tem três pré-candidaturas que se relacionam com o governo. São as de Janaína Paschoal (PRTB), Nise Yamaguchi (Pros) e Paulo Skaf (Republicanos).
Outro nome que figurava nessa lista era o de José Luiz Datena (PSC). Ele contava com o apoio do presidente da República, mas nesta semana decidiu abandonar a corrida eleitoral. "Em primeiro lugar eu queria deixar a minha palavra aqui de carinho para com o presidente, que hoje de manhã deu uma declaração que tinha me escolhido como senador e foi isso mesmo que foi acordado, mas pensei bem e resolvi seguir meu caminho (…) não foi por parte dele que não dei certo", afirmou Datena nesta quinta-feira (30).
A saída dele desta disputa animou nomes que se apresentam como alinhados históricos ao presidente, caso de Yamaguchi, que se aproximou do chefe do Executivo no início da pandemia de coronavírus, e de Paschoal. A deputada estadual de São Paulo já foi muito próxima do presidente, a ponto de ter sido cotada para concorrer como vice em 2018, mas nos últimos anos tem alternado críticas e elogios ao governo.
Já Skaf é visto como uma espécie de opção alternativa do partido de Tarcisio. Ele é empresário, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e, na entidade, fez eventos em que aproximou Bolsonaro da elite empresarial. A deputada Carla Zambelli (PL) também é citada como um possível nome de Bolsonaro ao Senado, embora seu plano inicial seja a reeleição à Câmara.
Veja casos de disputas pelo apoio de Bolsonaro em outros estados.
Minas: apoio oficial x apoio “disfarçado”
O senador Carlos Viana, do PL, partido de Bolsonaro, se lançou para o governo de Minas Gerais. Ele terá em sua chapa como candidato ao Senado o hoje deputado federal Marcelo Alvaro Antonio (PL).
Apesar de ser do mesmo partido do presidente da República, Viana terá certa dificuldade para emplacar no eleitorado mineiro o rótulo de “candidato de Bolsonaro”. Isso porque o presidente também é próximo do atual governador, Romeu Zema (Novo). Tanto Zema quanto Bolsonaro foram eleitos em 2018 e ambos tinham – e ainda têm – a oposição ao PT como um dos seus principais discursos.
O Novo tem seu próprio pré-candidato a presidente, Felipe D’Ávila, mas em Minas o voto casado em Bolsonaro e Zema deve ser replicado com intensidade durante o período eleitoral. A postura é, por exemplo, adotada por deputados federais mineiros do PSD que rejeitam o pré-candidato de seu próprio partido ao governo estadual, o ex-prefeito Alexandre Kalil.
Rio de Janeiro: nome do partido x governista “raiz”
No terceiro estado mais populoso do país a disputa interna se dá por uma vaga de candidato ao Senado. Romário (PL) é o senador cujo mandato se expira agora e, portanto, é candidato natural à reeleição. Ele não foi eleito pelo PL e se filiou ao partido apenas no ano passado. Recente é também sua aproximação com Bolsonaro. Em 2018, apoiou Alvaro Dias (Podemos) no primeiro turno da corrida presidencial.
Já o adversário de Romário na disputa interna é um dos apoiadores mais ferrenhos do presidente da República: o deputado federal Daniel Silveira (PTB). Ele faz parte da relação de pessoas que não estavam próximas da política até a ascensão de Bolsonaro e que em 2018 disputaram sua primeira eleição. Silveira se lançou pré-candidato ao Senado e conta como trunfo o fato de ter sido contemplado com um indulto presidencial de Bolsonaro, que o livrou da condenação por ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas não são apenas os obstáculos políticos que Silveira precisa enfrentar para confirmar sua pré-candidatura ao Senado: juristas avaliam que, mesmo com o indulto concedido por Bolsonaro, ele estaria inelegível em outubro. O deputado rejeita a análise e mantém seu nome na corrida eleitoral.
A corrida pelo Senado no Rio tem ainda o nome da também deputada Clarissa Garotinho (União Brasil), que recentemente ensaiou uma aproximação com o governo.
Distrito Federal: disputa entre ex-ministras
Em Brasília, a briga pelo Senado é protagonizada por duas ex-ministras do governo Bolsonaro: Flávia Arruda (PL), que é deputada federal e comandou a Secretaria de Governo, e Damares Alves (Republicanos), ex-titular da pasta de Direitos Humanos. Assim como no caso do Rio de Janeiro, é também um confronto entre a ala que está ideologicamente mais ligada a Bolsonaro, personificada por Damares, e o grupo de políticos tradicionais, representado por Flávia, que é esposa do ex-governador José Roberto Arruda (DF).
Até o momento, Flávia parece estar se saindo melhor na disputa. Levantamento do Paraná Pesquisas com eleitores do Distrito Federal, divulgado em 13 de junho, a coloca como líder da corrida ao Senado, com 35,6% das intenções de voto, contra 21,4% de Damares (veja metodologia abaixo). Damares, porém, diz que mantém a pré-candidatura e que aguardará o período de convenções para definir seu futuro. Flávia e Damares costumam reforçar que são amigas e que a disputa não escalará para um rompimento.
A também deputada Paula Belmonte (Cidadania) é igualmente pré-candidata ao Senado pelo Distrito Federal. Embora seu partido faça oposição a Bolsonaro, ela é alinhada ao presidente e casada com Luís Felipe Belmonte, advogado que foi um dos líderes do processo de criação do Aliança Pelo Brasil.
Alagoas: briga de medalhões
A disputa pelo aval de Bolsonaro em Alagoas não põe em lados opostos políticos que disputam os mesmos cargos, mas sim que lideram grupos que deverão se enfrentar em outubro na eleição para governador. E os políticos em questão são dois figurões do cenário nacional: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Fernando Collor (PTB), ex-presidente da República.
Collor é pré-candidato ao governo estadual e tem buscado unir seu nome ao de Bolsonaro. Entre outras iniciativas, ele custeou outdoors que estimulavam a filiação ao PTB e diziam que o partido é “100% Bolsonaro”.
Já Lira apoiará na disputa ao governo Rodrigo Cunha (União Brasil), que é senador, tendo sido eleito ao cargo em 2018. Cunha tem atuação discreta no Congresso e busca se posicionar como nome equidistante de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lira concorrerá a um novo mandato na Câmara.
Rondônia: Marcos x Marcos
Em Rondônia, a disputa pelo apoio de Bolsonaro confronta dois pré-candidatos ao governo com o mesmo nome: o atual governador, Marcos Rocha (União Brasil), e o senador Marcos Rogério (PL).
Rocha foi eleito em 2018, em sua primeira disputa eleitoral, filiado ao PSL, o então partido de Bolsonaro. Ele se manteve aliado ao presidente e reiterou apoio a Bolsonaro mesmo com a transformação de seu partido em União Brasil – legenda que reúne adversários do chefe do Executivo e que tem nome ao Palácio do Planalto, Luciano Bivar.
Rogério, por sua vez, é um dos principais apoiadores de Bolsonaro no Congresso e ganhou notoriedade ao defender o presidente durante a CPI da Covid.
Santa Catarina: choque de senadores
A corrida pelo governo de Santa Catarina tem os três atuais senadores do estado como pré-candidatos: Dario Berger (PSB), Esperidião Amin (PP) e Jorginho Mello (PL). Os dois últimos são aliados de Bolsonaro e querem o apoio do presidente na disputa local.
Mello, assim como o rondoniense Marcos Rogério, também se tornou nacionalmente conhecido por defender Bolsonaro durante a CPI da Covid. Já Amin é um dos nomes mais experientes da política do estado e tem como trunfo o fato de ser colega de partido de Ciro Nogueira, o atual ministro da Casa Civil e um dos principais aliados de Bolsonaro no plano nacional.
Rio Grande do Sul: figurões querem o governo
No Rio Grande do Sul, a disputa pelo apoio de Bolsonaro confronta dois políticos tarimbados que querem governar o estado. De um lado, o senador Luis Carlos Heinze (PP), que ganhou fama pela atuação durante a CPI da Covid. O parlamentar defendeu o governo e também se notabilizou pelo posicionamento a favor do tratamento precoce.
Do outro lado, está o deputado Onyx Lorenzoni (PL). Ele foi um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro, aderindo ao presidente ainda nos meses iniciais de 2018, e serviu ao governo como titular de três ministérios: Casa Civil, Cidadania e Trabalho. Onyx foi ministro desde o início do governo até o prazo limite para as desincompatibilizações.
Em entrevista recente à Rádio Gaúcha, Onyx declarou que tem uma “amizade gigantesca” com Heinze e que a escolha entre os dois caberá ao eleitor.
Metodologia da pesquisa citada
O Paraná Pesquisas ouviu 1.540 eleitores do Distrito Federal, pessoalmente, entre os dias 6 e 10 de junho de 2022. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi feito com recursos próprios do instituto e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo DF-09171/2022.
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