Desde que a reeleição passou a ser permitida no Brasil, há mais de 20 anos, o Rio Grande do Sul nunca teve um governador eleito por duas vezes consecutivas. Em 2022, Eduardo Leite (PSDB) deve tentar desafiar o histórico – mas, segundo especialistas, ainda é cedo para dizer se o pré-candidato terá sucesso.
Leite foi eleito em 2018 com 53,62% dos votos, contra 46,38% do então governador, Ivo Sartori (MDB). Naquele ano, o tucano declarou apoio a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno – e, agora, além de derrotar a "tradição", precisará vencer justamente um nome apoiado por Bolsonaro.
Levantamento de intenção de voto divulgado pelo Paraná Pesquisas no início de julho (veja a metodologia abaixo) aponta que o tucano tem 29,5% da preferência do eleitorado, contra 22,1% de Onyx Lorenzoni (PL) – deputado federal e ex-ministro da Cidadania no governo Bolsonaro.
Definição de candidaturas
Thiago Sampaio, professor do curso de Ciência Política da Unipampa (Universidade Federal do Pampa), diz que ainda é preciso entender como as candidaturas vão se consolidar no estado. Pelo calendário eleitoral, os partidos têm até o dia 15 de agosto para registrar seus candidatos.
De um lado, o senador Luis Carlos Heinze (PP), outro apoiador de Bolsonaro, também se apresenta como pré-candidato. No levantamento do Paraná Pesquisas, Heinze aparece com 6,6% das intenções de voto. “Se os dois [Onyx e Heinze] forem mesmo candidatos, os eleitores de Bolsonaro podem se dividir”, afirma Sampaio.
No campo da esquerda, Beto Albuquerque (PSB) e Edegar Pretto (PT) apresentam desempenho semelhante ao de Heinze, com 7,6% e 5,3% das intenções de voto, respectivamente.
“No primeiro turno acho difícil que os eleitores que votam no PT, por exemplo, escolham o Eduardo Leite. Mas [no segundo turno] a esquerda pode apoiá-lo para não dar a vitória ao candidato de Bolsonaro”, diz o professor.
Outro levantamento do Paraná Pesquisas (veja metodologia abaixo) mostra que Bolsonaro pode ter votação expressiva no Rio Grande do Sul. Segundo a pesquisa, o presidente tem 39,3% das intenções de voto, contra 34,5% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – pela margem de erro, ambos estão tecnicamente empatados.
Quando questionados, na mesma pesquisa, sobre o desempenho de Bolsonaro no governo, 37,7% dos eleitores avaliaram a administração como ótima ou boa. Outros 42,6% disseram que a gestão é ruim ou péssima.
Eduardo Leite prometeu não tentar reeleição
Além do apoio a Bolsonaro – que, no ano passado, Leite definiu como “um erro” –, o tucano tem pelo menos outros dois pontos para se preocupar durante a campanha.
Primeiro, antes de se eleger governador, Leite havia prometido que não tentaria a reeleição. Depois, em 2022, o tucano renunciou ao cargo com a perspectiva de se candidatar a presidente – plano que acabou não se concretizando.
Em entrevista ao portal UOL, o político afirmou que “mudou de opinião, mas não de princípios”. Ele usou justamente a renúncia para justificar uma possível candidatura ao governo.
“A única razão pela qual eu admito poder me apresentar para ser governador novamente é porque deixei o governo. Se estivesse no governo, não teria como dividir atenção entre governador e candidato”, afirmou.
Na mesma entrevista, o agora ex-governador disse não ter abandonado o posto. “Eu liderei um projeto para o estado, mas não o fiz sozinho. Fiz com outras mãos, com gente que me ajudou e me ajuda, com o governador Ranolfo [Vieira Júnior, que assumiu o posto após a renúncia]. O governo segue adiante, o projeto continua em frente, não há abandono nenhum”, disse ao UOL.
Crise financeira afeta popularidade
Para Carlos Borenstein, cientista político e analista da Arko Advice, o desempenho de Leite "vai depender da narrativa” que ele conseguirá construir.
“De um lado, pode prevalecer essa agenda de modernização do estado e o projeto que ele representa. De outro, pode ser que seus adversários consigam colocá-lo em uma posição defensiva, de modo que ele tenha que passar a campanha toda se explicando”, diz.
O fato de ter passado quase quatro anos como governador não necessariamente é algo bom para Leite, já que o Rio Grande do Sul enfrenta, há anos, uma crise financeira.
Entre 2015 e 2020, por exemplo, o estado precisou parcelar o pagamento de salários aos funcionários públicos. Durante sua gestão, Leite promoveu as reformas administrativa e previdenciária, além de privatizações, com o objetivo de recuperar o caixa do estado, o que também gerou antipatia de funcionários públicos aposentados que tiveram que voltar a contribuir para a previdência.
“Houve um desgaste e isso vai ser explorado”, diz Sampaio, da Unipampa. “Os outros candidatos também vão explorar essa situação que o próprio Eduardo Leite criou, da candidatura a presidente que não deu certo. Pode ser que digam que ele vai governar [nos próximos quatro anos] querendo ser candidato a presidente. Se o eleitor vai comprar essa ideia, a gente ainda não consegue prever”, afirma o professor.
Por que o RS não reelege governadores?
Se Leite for bem-sucedido, ele romperá uma tradição ligada ao ambiente político do estado.
O cientista político Carlos Borenstein diz que a rejeição dos gaúchos à reeleição está associada a uma cultura política enraizada no Rio Grande do Sul. “Embora no período anterior a 1998 não houvesse reeleição, nos anos 1980 já observamos que o partido político que governava o estado não conseguia fazer o sucessor. É um padrão de comportamento eleitoral”, diz.
Segundo ele, esse padrão está associado a uma postura “mais crítica” em relação aos governos. “E, paralalelamente a isso, os governantes tiveram de lidar com uma crise fiscal, que cria dificuldades para que os governos sejam bem avaliados pela opinião pública”, afirma Borenstein.
Sampaio, da Unipampa, avalia que a existência de vários grupos políticos fortes divide o estado. Ao mesmo tempo, uma parte dos eleitores não está vinculada a nenhum desses grupos, ou seja, é composta por indecisos. Esse grupo acaba mudando de candidato a cada eleição.
“Um governador é eleito, começa a sua administração e vai tomando decisões, o que gera um desgaste natural. [Depois,] aqueles eleitores que não estão vinculados a esse grupo político acabam deixando esse governador de lado [e votando em outro candidato]”, explica.
Metodologia da pesquisas citadas
- Paraná Pesquisas - governador
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 pessoas, entre os dias 27 de junho e 1º de julho. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número RS-07079/2022.
- Paraná Pesquisas - presidente
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 eleitores no Rio Grande do Sul, entre os dias 27 de junho e 1º de julho, em 64 municípios do estado. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral com o protocolo BR-08027/2022.
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