Enquanto Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encaminham para anunciar os vices que irão compor suas chapas presidenciais nas eleições de outubro, os pré-candidatos da chamada terceira via ainda parecem estar alguns meses distantes de definir essa questão.
Ciro Gomes (PDT) disse na última quarta-feira (23) que anunciará seu companheiro de disputa apenas em julho, ou seja, em uma data mais próxima do prazo final para a realização das convenções partidárias (5 de agosto).
Dois nomes foram aventados desde o começo do ano, mas as alianças não devem se concretizar: Marina Silva, presidente da Rede Sustentabilidade, e o apresentador José Luiz Datena (União Brasil). Ciro disse nesta semana que a ex-ministra do Meio Ambiente não deve ser o nome escolhido, por causa da federação partidária entre Rede e Psol, partido que, segundo Ciro, é uma extensão do PT.
Além disso, uma das principais figuras da Rede, o senador amapaense Randolfe Rodrigues, passou a integrar a coordenação da campanha do ex-presidente Lula. Outro empecilho é o desentendimento entre Marina e o marqueteiro da campanha de Ciro, João Santana, que trabalhou para o PT em eleições anteriores. Marina acredita que ele incitou ódio na campanha presidencial de 2014, quando a então pré-candidata sofreu vários ataques do PT.
Mais recentemente, o presidente do PDT, Carlos Lupi, fez um convite público para Datena (filiado ao União Brasil) ser vice de Ciro. Mas, na última quinta-feira (24), o PSDB e o União Brasil anunciaram que o apresentador disputará o Senado na chapa do pré-candidato tucano ao governo de São Paulo, Rodrigo Garcia.
A encruzilhada da terceira via de centro
A vice-presidência também está longe de ser resolvida por Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB) e outros pré-candidatos. Isso porque ainda não é dada como certa a concretização dessas candidaturas. Nesta segunda-feira, por exemplo, Doria ganhou um competidor dentro do PSDB na disputa pela vaga de candidato do partido, depois que o governador gaúcho Eduardo Leite anunciou que colocou seu nome à disposição do partido – apesar de o paulista ter vencido as prévias tucanas no ano passado.
Um grupo autointitulado “centro democrático” negocia, desde o começo do ano, o lançamento de uma única candidatura de terceira via que seria apoiada por União Brasil, MDB, PSDB, Cidadania e, talvez, Podemos e PSD. Uma decisão sobre isso só deve ser tomada a partir de junho.
Há um ponto de interrogação sobre a entrada do Podemos e do PSD neste acordo, já que parecem estar mais afastados do grupo. No último dia 21, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse que o partido vai formalizar no mês que vem uma aliança com o MDB e o União Brasil, sem citar o PSD ou o Podemos. Segundo ele, um presidenciável será anunciado em junho. E o próprio Doria disse, em entrevistas, que o candidato do Podemos enfrenta dificuldades em sua pré-campanha.
Outro sinal de afastamento é que Moro teria demonstrado incômodo com a ausência do Podemos nessas negociações mais recentes, de acordo com apuração da CNN Brasil.
“Quando Moro lançou sua candidatura, em novembro, vimos [o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique] Mandetta (União Brasil) e outros políticos de diferentes partidos na filiação. Naquele momento o Doria estava muito isolado e parecia que o Moro seria capaz de unir a terceira via. Mas agora isso mudou. Talvez seja uma demonstração de como a falta de traquejo político esteja faltando para o Moro”, avaliou o analista político Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados.
Apesar disso, políticos que apoiam a candidatura de Moro dizem que as conversas continuam. O deputado federal Júnior Bozzella, presidente do União Brasil em São Paulo, disse que, dentro do seu partido, a ala do extinto PSL está fazendo um “esforço coletivo” para buscar uma diminuição do número de candidaturas “do campo democrático” e que Moro tem sido incluído nas conversas. Segundo ele, quem lidera esse processo dentro do partido é o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, que chegou a ser sondado como vice de Moro – ambos, inclusive, se encontraram nesta segunda-feira.
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos) afirma que seu partido está mantendo contato com outros, mas que ainda há “muitas indefinições nos partidos”, que atrapalham um eventual acordo. “O PSDB está dividido entre [Eduardo] Leite e Doria; o PSD até agora não definiu um candidato; o MDB, que é um partido muito grande, tem muitas discussões internas; e o mesmo acontece com o União Brasil”, diz.
Sobre a vice-presidência de Moro, Oriovisto disse que “é preciso ter alianças para definir vice. E como não definimos esse partido ainda, não temos o vice. Mas a indicação [do vice] deve ser desse partido”. Segundo ele, o cenário começará a ficar mais claro para este grupo após o fim da janela das trocas partidárias, filiações e desincompatibilização de cargos.
Simone Tebet diz que não será vice
Mesmo que os partidos da chamada terceira via cheguem a um acordo para lançar uma única candidatura a presidente, escolher um nome para a vice-presidência será outro trabalho árduo de negociação.
A pré-candidata pelo MDB, senadora Simone Tebet, já adiantou que não será candidata a vice em uma eventual chapa única da terceira via. Para ela, isso colocaria as mulheres em um papel secundário, o que seria o oposto do que ela pretende com sua pré-candidatura. Tebet disse que, se seu nome não for escolhido, apoiará o candidato, mas concorrerá à reeleição pelo Senado.
"Eu não sou vice... Eu acho que tenho um grande discurso, que é mostrar que as mulheres não podem se submeter a um papel secundário em nenhum processo", disse ao jornal Valor Econômico nesta quarta-feira. O MDB pretende esperar até junho para avaliar o desempenho delas nas pesquisas eleitorais e decidir se segue ou não com a candidatura presidencial própria.
A posição firme pode ser uma resposta a Doria, que quando estava em campanha para as prévias do PSBD, se comprometeu a ter uma vice mulher em sua chapa e já sinalizava interesse em ter Simone Tebet como companheira de chapa. "Se tivermos oportunidade de vencer, além de dialogar com vários outros partidos, vamos buscar uma mulher para ser vice na chapa do PSDB na Presidência da República", afirmou o governador de São Paulo em setembro passado.
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