Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançaram um esforço conjunto na última semana para tentar aproximar a campanha do mercado financeiro. A estratégia ocorre em meio a críticas provocadas pela prévia do plano de governo do PT que previa, por exemplo, a revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista. O esboço foi redigido pela Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao PT, mas o documento final elaborado com a anuência dos demais partidos da coligação deve retirar o termo "revogação" pelo menos da reforma trabalhista.
Desde o ano passado, as mudanças propostas por Lula na reforma trabalhista são motivos de diversos reveses dentro da campanha do PT, justamente por causa das críticas do mercado e de lideranças de centro, com quem Lula busca uma aproximação. A expectativa era de que a prévia do plano de governo trouxesse apenas o termo revisão da reforma.
Contudo, o ex-ministro Aloizio Mercadante, responsável pela elaboração do documento, optou pelo termo "revogação", o que desagradou partidos como PSB e Solidariedade, além de provocar reações negativas no mercado. Escalado para solucionar o impasse, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) procurou empresários para sinalizar que o documento divulgado pelo PT ainda passará por uma revisão, com a colaboração dos demais partidos da coligação.
Além do PT, integram o grupo o PSB, responsável pela indicação do ex-governador Geraldo Alckmin como vice na chapa, o Solidariedade, Psol, PV, Rede e PCdoB. "Pode ter certeza que o programa Lula e Alckmin será dos dois, dos vários partidos e da sociedade, não apenas de uma fundação de um partido", amenizou Padilha depois da divulgação do documento.
Nesta terça-feira (14), os demais partidos da coligação anunciaram ter chegado a um acordo para formulação do programa de governo. Ao todo foram analisadas 124 contribuições ao texto inicial, que agora será submetido à análise de Lula, Alckmin e dos presidentes das legendas. A expectativa é que a versão final do programa seja divulgada já na próxima semana e sem a palavra "revogação" da reforma trabalhista.
Deputado dialoga com empresários para evitar desgastes de Lula com o mercado
Escalado para contornar a crise, Padilha jantou na semana passada com banqueiros e representantes do mercado financeiro em São Paulo. O encontro, que reuniu ao menos 40 empresários, foi oferecido pelo grupo Esfera, do empresário João Carlos Camargo.
De acordo com o deputado, a campanha do PT tem mostrado aos empresários que Lula está aberto ao diálogo e que pretende ouvir todos os setores. Como sugestão, o PT pretende emplacar no plano de propostas uma mesa de negociação com representantes do governo, do empresariado e dos empregados.
"Aquilo [plano de governo] ainda é um rascunho, que está sendo discutido com os partidos coligados e também com a sociedade. Lula nunca usou a palavra revogação da reforma trabalhista", disse Padilha.
Como forma de amenizar as críticas, a coordenação da campanha de Lula já antecipou ao mercado que vai excluir a palavra "revogação" da reforma trabalhista das diretrizes do plano de governo. O termo dará lugar a uma proposta de mudança da legislação trabalhista construída em negociação tripartite.
A previsão de revogação da reforma trabalhista foi alvo de críticas por nomes como Luiza Trajano, dona da rede de varejo Magazine Luiza. De acordo com ela, o texto aprovado em 2017 pelo então presidente Michel Temer (MDB) foi responsável pela geração de diversos empregos.
"Essa reforma não dá para tirar. Ela ajuda a criar muitos empregos. Temos de enfrentar as taxas de desemprego com outras soluções", disse Trajano em entrevista à revista Veja.
Em postagem no Twitter no último domingo (12), a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, tentou minimizar a polêmica e disse que "o verbo usado é o que menos importa”.
"Revogar ou revisar são verbos equivalentes. Para rever uma legislação ao final tem de revogar as disposições em contrário. Essa celeuma em relação a reforma trabalhista é fumaça. Não ajuda na solução do problema que temos hoje, desemprego e baixa renda", escreveu.
PT vai propor mesa de negociação entre Lula e o mercado financeiro
Agora, líderes do PT afirmam que o eventual governo de Lula não pretende enviar para o Congresso uma proposta sem antes debater todos os pontos entre representantes dos trabalhadores e das empresas. Também atuando como interlocutor de Lula com o mercado, o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), admitiu o recuo da campanha. "Pontos serão revogados, não a reforma trabalhista como um todo”, afirmou, sem especificar.
Além da mudança no termo sobre a reforma trabalhista, o PT sinaliza que pode rever a proposta sobre o teto dos gastos – embora isso seja menos provável. Criticada por Lula, a lei também foi implementada no governo de Michel Temer e limita os gastos do governo.
Líderes do PT costumam defender a revogação do teto de gastos, de um modo geral. Mas, em outros partidos, há uma ala que busca por um meio-termo. Neste caso, a revogação do teto aconteceria apenas para determinados tipos de gastos, como os da área social e da educação, por exemplo.
Lula vai jantar com empresários em evento por adesão
Até o momento, Lula tem dito que não pretende se reunir formalmente com empresários para discutir seu plano de governo. Integrantes do partido têm defendido que, neste momento, as conversas ocorram apenas por meio de interlocutores do ex-presidente.
Além de Padilha, essas conversas estão ocorrendo por meio da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do economista Gabriel Galípolo, que foi presidente do banco Fator. O economista é visto como uma espécie de "ponte" do PT com o mercado financeiro.
Integrantes do núcleo de campanha defendem que a estratégia de Lula visa evitar desagradar aliados antes de haver consenso sobre as propostas a serem apresentadas na disputa pelo Palácio do Planalto.
Paralelamente, Lula pretende se reunir no final deste mês com empresários e advogados mais próximos para arrecadar fundos para sua campanha. O jantar está sendo promovido pelo Prerrogativas, grupo de advogados críticos à operação Lava Jato, e os ingressos para participar custam entre R$ 3 mil e R$ 20 mil. O grupo também foi responsável pelo primeiro encontro público entre Lula e Alckmin no final do ano passado. Desta vez são esperadas cerca de 100 pessoas.
No encontro, a ideia é que Lula e Alckmin debatam sobre seus planos para um eventual governo.
Economistas lançam manifesto em apoio à chapa Lula-Alckmin
Um grupo de economistas lançou nesta última terça-feira (14) um manifesto em apoio à chapa de Lula com Alckmin. O documento, que reuniu mais de mil assinaturas, defende revisões nas reformas trabalhista e previdenciária, e a elaboração das reformas política e tributária ampla, com a taxação de lucros e dividendos.
Os economistas pedem ainda a revisão da política de paridade de preços dos combustíveis a valores internacionais, especialmente ao dólar. Em diversas vezes Lula já sinalizou que, se eleito, irá “abrasileirar” o preço do etanol, diesel e gasolina.
"Temos clareza de que o retorno do Brasil a uma trajetória de progresso civilizatório passa, necessariamente, pela eleição da chapa Lula-Alckmin no primeiro turno das eleições gerais", diz um dos trechos do manifesto.
Entre os signatários estão Leda Paulani, professora de Economia na USP, Clélio Campolina, ex-ministro da Ciência, Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e Rogério Studart, ex-diretor-executivo do Banco Mundial.
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