O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu comitê eleitoral definiram as articulações políticas como a principal estratégia para o início do segundo turno. O objetivo é massificar o apoio junto às bases nos estados, sobretudo de governadores, a fim de obter a "transferência" de votos dos aliados. A meta é que esses esforços possam impulsionar outras ações adotadas em busca dos votos das mulheres, dos nordestinos e dos mais pobres.
Na última terça-feira (4), Bolsonaro obteve o apoio dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). Ele também formalizou a adesão do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), à coalizão construída por seu núcleo político para o segundo turno. Nesta quarta-feira (5), ele recebeu os apoios dos governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).
O próprio Bolsonaro tem construído uma série de apoios e colocado a "mão na massa", afirmam interlocutores do comitê da campanha. Quem conduz o trabalho de articulação é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador-geral da campanha, e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP.
Mas o presidente da República tomou a iniciativa de conversar com governadores e tem feito muitos contatos por telefonemas ou enviado emissários para dialogar. O próprio Bolsonaro afirmou na manhã de terça-feira ter conversado com Ratinho Júnior e o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Bolsonaro também disse estar à disposição para dialogar com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), candidato ao governo da Bahia que disputa o segundo turno contra Jerônimo Rodrigues (PT). O petista baiano venceu o primeiro turno com 49,45% dos votos válidos, enquanto ACM obteve 40,80%.
Como as articulações ajudam Bolsonaro e o que tem sido dialogado
As articulações políticas visam obter votos de eleitores que são menos propensos a votar em Bolsonaro e poderiam optar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), votar em branco ou então se abster. A campanha presidencial entende que o resultado do primeiro turno mostra que a estratégia em busca do voto útil foi bem sucedida e pode ser ainda mais com o apoio de aliados.
Em Minas Gerais, por exemplo, Zema foi reeleito em primeiro turno com 56,18% dos votos válidos, enquanto o candidato apoiado por Lula, Alexandre Kalil (PSD), obteve 35,08%. Já Bolsonaro ficou com 43,60% dos votos no estado, abaixo de Lula, que atingiu 48,29% do eleitorado.
A diferença no resultado dos votos válidos obtidos por Bolsonaro e Zema levam os coordenadores eleitorais a acreditar que ao menos parte dos eleitores do governador mineiro apoiaram Lula no voto para presidente da República. O objetivo no segundo turno é "transferir" esses votos ao candidato à reeleição.
O entendimento da campanha de Bolsonaro é que governadores podem apoiá-lo por convicção ideológica ou pelo sentimento do "antipetismo". Além disso, as articulação também envolvem a possibilidade de renegociação de dívidas entre estados e a União. Zema, por exemplo, espera que o governo avance com o regime de recuperação fiscal de Minas Gerais.
Quais os desafios e quais caciques e partidos apoiam a articulação
Apesar dos esforços, algumas articulações de Bolsonaro podem encontrar dificuldades, como na Bahia, estado onde ele quer superar os 24,31% dos votos válidos obtidos no primeiro turno. Interlocutores de ACM Neto dizem, porém, ser improvável ele apoiar o presidente e falam que a probabilidade maior é manter a independência. O entendimento é de que os eleitores que votaram no ex-ministro da Cidadania João Roma (PL), que foi o candidato de Bolsonaro, votarão no ex-prefeito de Salvador pela natural aversão ao PT.
Outro argumento é de que o petista Jerônimo Rodrigues já absorveu muitos votos dos eleitores "LuNeto", aqueles que votaram em Lula e em ACM Neto. A leitura do entorno do ex-prefeito é que uma associação ao presidente seria mais prejudicial do que benéfica. Outro empecilho é o distanciamento com Roma, que explorou polêmica sobre a cor da pele de ACM em debate.
A posição de ACM Neto pode ter um peso decisivo para a decisão do União Brasil no segundo turno, que poderia liberar sua bancada nos estados. Já os governadores do partido no Mato Grosso, Mauro Mendes, e em Goiás, Ronaldo Caiado anunciaram apoio a Bolsonaro. Outro membro do partido, o senador eleito Sergio Moro (PR) acenou a favor da candidatura presidencial.
A campanha de Bolsonaro entende que, por decisão de neutralidade ou não no segundo turno, alguns partidos podem optar por não integrar a base de apoio. Porém, o núcleo político acredita que mesmo governadores e demais candidatos eleitos ou reeleitos dessas legendas podem apoiá-lo no segundo turno. É o exemplo de lideranças e caciques de União Brasil, Novo, MDB, PSD e PSDB.
Bolsonaro também espera a adesão de outros partidos. O PSC, do senador eleito Cleitinho Azevedo (MG), já declarou seu apoio. O PTB, que lançou o candidato Padre Kelmon à Presidência da República, não acena um apoio convicto, mas se diz "contra o PT" e em defesa aos princípios "Deus, pátria, família e liberdade".
Acenos ao eleitorado feminino e nordestino
As articulações políticas são uma forma de fortalecer a estratégia adotada ainda na reta final do primeiro turno. Para isso, Bolsonaro vai manter seu discurso a promessa de pagar 13º para mulheres que recebem Auxílio Brasil a partir de 2023. A meta também é levar essa informação à propaganda eleitoral e aos debates.
O pagamento de uma parcela extra do benefício também foi uma promessa de campanha feita por Bolsonaro em 2018. O governo pagou o 13º benefício em 2019, quando ainda era o Bolsa Família, mas o mesmo não ocorreu nos anos seguintes. Ao resgatar essa promessa, o presidente mira os votos das mulheres e dos pobres. Não à toa, o Ministério da Cidadania anunciou a antecipação do calendário de pagamentos do programa social.
Ao concentrar os esforços pelo eleitorado feminino e de baixa renda, a campanha de Bolsonaro também mira o Nordeste e as periferias da região Sudeste. Há, inclusive, planejamentos para que o presidente viaje mais vezes a cidades nordestinas e circule pelas regiões periféricas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
O senador Flávio Bolsonaro usou suas redes sociais na terça para publicar um vídeo com vários acenos ao eleitorado do Nordeste. Comparou os valores médios pagos pelo Auxílio Brasil com o Bolsa Família e destacou a conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco.
A conclusão de obras e a criação do Auxílio Brasil são apontados pela campanha como ações do governo que podem ser amplificadas pela articulação política à medida em que aliados nos estados podem ajudar a propagar a defesa do legado do governo federal. Ao declarar apoio a Bolsonaro, o próprio Romeu Zema fez destaque a isso ao citar compromissos firmados com o governo para investimentos no estado, como as obras de ampliação do metrô de Belo Horizonte e as obras de duplicação e melhorias nas BR 381 e 262.
Pauta de costumes pode ajudar as estratégias de Bolsonaro
A defesa da agenda de costumes é outro ponto a concentrar os esforços. A campanha de Bolsonaro vai apostar nas pautas contra o aborto, a legalização das drogas e a ideologia de gênero. O intuito é associar Lula como defensores dessas pautas e contra a família conservadora a fim de elevar a rejeição do petista e fortalecer as estratégias pelo voto útil. Para isso, espera contar com o apoio de lideranças cristãs, especialmente de denominações evangélicas.
A fim de intensificar esse discurso, Bolsonaro vai se reunir com lideranças evangélicas. Na terça, ele esteve com pastores e participou da Convenção Fraternal das Assembleias de Deus de São Paulo. Na próxima terça-feira (11), ele deve viajar ao Nordeste para um encontro com pastores.
A agenda deve ocorrer em Recife a convite do presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB), pastor José Wellington Costa Júnior. "É a maior organização evangélica do país, e deve ocorrer em Recife pela facilidade de voos", afirma à Gazeta do Povo o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia.
Apoiador de Bolsonaro, Malafaia entende ser natural o cumprimento da agenda no Nordeste. "É o lugar mais importante a ser conquistado, ele vai centrar fogo com lideranças evangélicas", diz. Com o apoio de pastores e de governadores do Sudeste, o líder religioso acredita que a campanha presidencial será muito fortalecida.
O apoio de lideranças cristãs também é tido como fundamental para Bolsonaro rebater os apoiadores de Lula que resgataram um vídeo de 2017 em que ele participa de uma reunião maçônica. Interlocutores da campanha admitem que a repercussão nas redes sociais foi incômoda, mas entendem que conseguiram dar a resposta pela ativação de "gatilhos" adotados com o intuito de elevar sua rejeição.
A campanha de Bolsonaro publicou vídeos de uma fala em que Lula defende o aborto como questão de saúde pública. Também repercutiu uma participação dele em um ritual de umbanda. Nas redes sociais, Malafaia minimizou o vídeo de Bolsonaro e destacou que ele é o "presidente de todos" e que os apoiadores do ex-presidente não vão manipular os evangélicos. "Por que essa mesma gente não quer viralizar um vídeo de Lula num ritual tomando passe de uma mãe de santo jogando pipoca em cima dele?", ironizou.
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