Candidatos tentam diminuir a abstenção no segundo turno| Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
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Após a maior abstenção da história desde a redemocratização, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscaram, durante os 27 dias de campanha do segundo turno, votos para virar ou consolidar a votação de 2 de outubro. Boa parte dos esforços de ambos foram direcionados para os 32,7 milhões de eleitores (20,95%) que não foram votar no começo do mês. A tarefa, porém, é difícil, já que, historicamente, a abstenção é maior nas disputas de segundo turno.

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Na eleição presidencial de 2018, por exemplo, 20,1% dos brasileiros deixaram de votar no primeiro turno (29,6 milhões de eleitores). O número subiu para 21,1% no segundo (31 milhões) – um acréscimo de um ponto percentual, o que representa 1,4 milhão de eleitores.

O mesmo movimento aconteceu em 2014, quando 2,4 milhões de eleitores a mais deixaram de votar entre um turno e outro – 29,9 milhões na segunda etapa da votação (21%, 1,7 ponto percentual a mais na taxa de abstenção).

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Os eleitores deixam de votar no segundo turno pelos motivos mais diversos, entre eles, por não compactuar com os programas e objetivos dos dois candidatos que avançaram na disputa. Veja abaixo como foi a abstenção no Brasil nas últimas três eleições presidenciais:

Os mais de 32 milhões de eleitores que se abstiveram no primeiro turno da eleição deste ano podem fazer a diferença, seja para um ou para outro candidato. No final da apuração do primeiro turno, Lula ficou à frente de Bolsonaro por pouco mais de 6 milhões de votos, o que torna ainda mais importante a conquista do eleitorado nesta reta final da campanha.

E não apenas dos que se abstiveram, mas também dos brasileiros que votaram em branco ou nulo no primeiro turno – embora os números do primeiro turno de 2022 tenham sido menores do que em 2018, com 3,39% agora contra 6,99% daquela eleição

Não à toa, Lula e Bolsonaro estão focando os últimos dias de campanha nos maiores colégios eleitorais do país, onde têm mais chance de conquistar novos eleitores. São Paulo, por exemplo, teve 1,5 milhão de votos em branco e nulos e 7,4 milhões que se abstiveram de votar (21,61% do total de eleitores no estado).

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Já em Minas Gerais, o primeiro turno terminou com 638,5 mil votos em branco e nulos, e 3,6 milhões de eleitores não compareceram às urnas (22,28% do total de eleitores no estado).

Na comparação com a eleição presidencial de 2018, o aumento da abstenção entre o primeiro e o segundo turno variou bastante entre as unidades da Federação: teve um aumento de 0,22 ponto percentual no Distrito Federal, por exemplo, e de até 8,13 pontos no Acre. Veja abaixo como foi o não comparecimento às urnas nas últimas três eleições presidenciais, por estado, em percentual:

Os votos que estão em jogo no segundo turno

A campanha de Lula espera manter a diferença de 6 milhões de votos à frente de Bolsonaro e ainda somar pelo menos metade dos que votaram em Simone Tebet (MDB) no primeiro turno – em torno de 2,5 milhões dos 4,9 milhões que obteve.

A senadora entrou de cabeça na campanha do petista e o mesmo fez Carlos Lupi, presidente do PDT, que tenta convencer os 3,5 milhões de eleitores de Ciro Gomes (PDT) a votar em Lula. O ex-presidenciável, por sua vez, declarou voto contra Bolsonaro, mas não fez campanha para o petista neste segundo turno.

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“Eu penso que a estratégia de qualquer candidato em qualquer lugar do mundo é a de tentar convencer primeiro as pessoas que não foram votar por qualquer razão, que compareçam a votar, tentar mostrar a elas o que nós oferecemos para o Brasil. Essa eleição vai definir se queremos viver num regime democrático ou numa barbárie”, afirmou Lula nesta segunda (24).

Ele acredita que essa tentativa de convencimento vai se dar, entre outros motivos, com os acenos que vêm fazendo à classe média, como a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a renegociação de dívidas. A campanha também pretende reforçar que vai dar aumento real ao salário mínimo – que entrou na pauta da discussão eleitoral na semana passada –, a manutenção do Auxílio Brasil a R$ 600, entre outras medidas econômicas e assistenciais.

Lula também viu como favorável a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de liberar os estados a oferecerem transporte coletivo gratuito no dia da votação aos eleitores. “Acho que todos os municípios deveriam garantir transporte para que o povo possa comparecer em massa para votar”, disse. Todas as capitais do país anunciaram algum tipo de isenção de pagamento de transporte público no domingo (30), com regras diferentes.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Moderação no discurso e atenção ao noticiário

Para a campanha de Jair Bolsonaro, a estratégia é tentar conquistar os votos com argumentos que aumentem a rejeição a Lula – mas, sem elevar o tom do próprio discurso. Ao longo deste segundo turno, o presidente tem moderado as falas em entrevistas e comícios, na tentativa de ir além dos votos que já conquistou no primeiro turno.

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No entanto, a prisão de Roberto Jefferson (PTB), no começo desta semana, acendeu o sinal de alerta na campanha do presidente, já que o ex-deputado foi um aliado do governo. Integrantes do núcleo de campanha de Bolsonaro avaliaram que a prisão dele pode afastar o candidato do eleitor de centro e indeciso nessa reta final do segundo turno.

Bolsonaro também adotou uma estratégia similar à de seu oponente, de buscar votos em São Paulo e Minas Gerais, onde conta com os apoios de Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), do governador mineiro Romeu Zema (Novo) e do governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL).

Ele também tem a máquina do governo trabalhando a seu favor e aposta na recente de queda no preço dos combustíveis, no Auxílio Brasil e no empréstimo consignado do benefício. Em outra frente, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora Damares Alves (Republicanos) atuam para aumentar os votos do presidente entre evangélicos e mulheres.

“Você que vai anular seu voto, está ajudando o Lula a ter mais voto nas urnas. É um momento de você decidir fazer um filtro de quem está falando a verdade. Isso é gravíssimo. Ele quebrará o Brasil”, disse Bolsonaro durante a sabatina da Record TV no último domingo (23).

Ele tem usado as entrevistas e comícios para criticar Lula e fazer comparações do legado do seu governo com os casos de corrupção envolvendo o petista no passado. Citações ao mensalão, aos desvios da Petrobras e, mais recentemente, aos descontos que os servidores dos Correios têm nos contracheques para cobrir o rombo no fundo de pensão Postalis vêm fazendo parte dos discursos.

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Além disso, a equipe do presidente também intensificou o uso das redes sociais para conseguir votos principalmente dos mais jovens, que são a maioria dos usuários. Postagens no Facebook e no Instagram, além de comerciais em vídeos no YouTube, passaram a ser impulsionadas ao longo deste segundo turno, principalmente desde o dia 18, segundo o Google.

Ao longo da campanha, a equipe de Jair Bolsonaro gastou R$ 22,6 milhões em 904 anúncios no Google, sendo R$ 20 milhões no formato de vídeo no YouTube (que pertence ao Google). Deste montante, R$ 15,7 milhões foram apenas nestas últimas duas semanas antes do segundo turno.

Do total já gasto pela campanha, R$ 5,28 milhões foram em publicidade direcionada aos moradores do estado de São Paulo, R$ 2,09 milhões para Minas Gerais, R$ 2,02 milhões para o Rio de Janeiro e R$ 1,41 milhões para a Bahia – os quatro maiores colégios eleitorais do país.