Lideranças do PT e potenciais aliados na corrida presidencial aumentaram a pressão sobre a coordenação de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva após o ex-presidente fazer algumas declarações polêmicas. A avaliação no entorno do petista é de que, a partir de agora, a margem para erros está reduzida e é preciso centrar o discurso no que realmente importa, como o controle da inflação, a geração de emprego e a defesa da democracia.
O mesmo entendimento foi repassado a Lula por senadores do MDB e de outros partidos aliados em jantar oferecido pelo ex-senador Eunício Oliveira, na segunda-feira (11), em Brasília. No encontro, Lula foi alertado pelos parlamentares que terá de moderar o discurso para sua candidatura não ficar restrita às siglas de esquerda e atrair partidos de centro.
Além disso, ele foi cobrado pela demora no lançamento de sua pré-candidatura, já que seria o único nome que ainda não está oficializado na disputa. O PT reconhece o "atraso" e já anunciou que fará um evento com essa finalidade no dia 7 de maio, em São Paulo.
O lançamento ocorreria no próximo dia 30, mas o partido teve de adiar os planos em uma semana a pedido do Psol e do PSB. Nesse dia estão marcados para ocorrer a Conferência Eleitoral do Psol e o encerramento do Congresso Nacional do PSB. Com o adiamento, o PT espera reunir todos os aliados no mesmo palanque em torno de Lula no dia 7.
Aliados querem pauta de costumes fora da campanha
Com a sinalização de receber o apoio de ao menos 14 dos 27 diretórios estaduais do MDB, sendo a maioria no Nordeste, Lula foi aconselhado pelos caciques emedebistas a deixar a pauta de costumes de fora da campanha eleitoral. Na avaliação do grupo, as recentes declarações de Lula sobre aborto têm potencial para espantar parte do eleitorado e reduzir o arco de alianças.
Algumas falas de Lula já haviam causado saia justa em outros episódios, como no episódio em que ele comparou o tempo em que o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, e a chanceler alemã Angela Merkel estavam no poder. Ao ex-presidente, a bancada de senadores sinalizou que ele precisa focar a campanha na defesa da democracia e nos feitos de seus dois governos, entre 2003 e 2010.
"Além de escutar sugestões para o seu plano de governo, o [ex]-presidente ouviu ponderações dos senadores quanto a temas sensíveis que podem ser explorados durante a campanha, para propositalmente gerar fake news, distorções, exageros ou desinformações. Com muita tranquilidade, respondeu e debateu com todos por mais de duas horas", afirmou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), presente ao encontro na casa de Eunício Oliveira.
Integrante do PSD, sigla cortejada por Lula, o senador Omar Aziz (AM) afirmou ao ex-presidente que se ele seguir com essa articulação, acabará dando, automaticamente, palanque ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Em resposta, o petista afirmou que vai falar sobre o que o povo está interessado, como inflação, desemprego e aumento de combustíveis.
"Ele [Lula] demonstrou muita segurança no que chamou de enfrentamento necessário de algumas questões que fazem parte da pauta de costumes ou da pauta econômica", disse Prates.
Ex-governador do Piauí assumirá articulação de Lula
Além da pressão de aliados, a pré-campanha de Lula é motivo de disputa entre alas dentro do PT. Por um lado, integrantes do partido questionam a aproximação de Lula com partidos de centro e ainda resistem à composição de chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB). De outro lado, outro grupo defende que o ex-presidente abra a articulação da campanha e alinhe o seu discurso para avançar sobre o eleitorado.
Diante das divergências, o ex-governador do Piauí e pré-candidato ao Senado Wellington Dias vai assumir nas próximas semanas a articulação da pré-candidatura de Lula. No jantar com a bancada de senadores, Dias sinalizou que o PT já está recalculando a rota e afinando o discurso para colocar o "bloco nas ruas".
"O Lula sempre fala na capacidade de articulação dele [Wellington Dias] (...) Por isso, Lula fez esse convite para que ele possa ajudar na organização da campanha", disse a deputada Rejane Dias (PT-PI), esposa do ex-governador.
Além das declarações sobre aborto, a campanha do PT pretende alinhar o discurso de Lula deixando de lado outras pautas defendidas pelo petista, como a regulamentação da mídia, por exemplo. Para aliados, tais temas durante a campanha podem inviabilizar o avanço da candidatura petista ao Planalto.
"O ex-presidente Lula já tem apoio daqueles que defendem pautas progressistas. Ele não ganha nenhum voto com essas declarações, pelo contrário, pode perder. Temos que focar em coisas concretas, como a defesa da democracia, combate à fome, recuperação de empregos. Essas são pautas para a campanha", avaliou um interlocutor da campanha petista.
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024