A busca de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelos votos que faltam para virar ou consolidar a vitória na eleição presidencial se transformou em uma disputa nos estados que inclui desde governadores já eleitos em primeiro turno, alguns que disputam o segundo turno e, até mesmo, quem saiu derrotado no dia 3 de outubro.
São, pelo menos, quatro nomes de peso e destaque na política nacional que se tornaram cabos eleitorais que trabalham para virar voto e diminuir a abstenção no próximo dia 30 de outubro.
Do lado do presidente Bolsonaro, Romeu Zema (Novo), governador reeleito de Minas Gerais, busca reverter a vantagem que Lula teve sobre o atual presidente no primeiro turno em um estado tido como termômetro da eleição presidencial – historicamente, o candidato a presidente que ganha em Minas leva também a Presidência da República.
Já em São Paulo, Bolsonaro tem o apoio do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que se juntou também a Tarcísio de Freitas (Republicanos), da base governista, após sair derrotado do primeiro turno ao buscar a reeleição.
Do outro lado, Lula tem o apoio de Helder Barbalho (MDB), que governa o Pará e foi reeleito com a maior votação proporcional do país (70,41% dos votos válidos), e da correligionária Fátima Bezerra, também eleita em primeiro turno no Rio Grande do Norte, com 58,31%. Eles buscam contribuir com a expectativa do PT de vencer a eleição presidencial com uma margem maior do que os seis milhões de votos que Lula teve em relação à Bolsonaro no primeiro turno.
Como Zema e Garcia trabalham na campanha de Bolsonaro
Entre os maiores cabos eleitorais de Bolsonaro, Zema é o que mais está dedicando esforços a favor da reeleição do presidente. A declaração de apoio apenas dois dias depois do primeiro turno emendou com reuniões com prefeitos mineiros e pedidos de campanha intensa nas cidades – principalmente naquelas onde Lula saiu vitorioso.
Na última semana, durante uma visita de Bolsonaro a Belo Horizonte, Zema reuniu prefeitos da Associação Mineira de Municípios (AMM) para pedir o total empenho deles a virarem votos nas suas cidades. Dos 853 municípios que formam a entidade, Bolsonaro venceu em apenas 223.
“Eu conto com vocês, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, líderes, vai ser um trabalho de formiguinha. Eu e o presidente Bolsonaro não temos condições de irmos em todos os municípios, até gostaríamos. Então, cabe a cada um aqui levar essa mensagem para os seus vereadores e as suas lideranças municipais”, disse ressaltando que ele próprio vem dedicando “boa parte do tempo” em campanha para o presidente.
É um trabalho que se repete nas sucessivas entrevistas e nos comícios que tem participado, onde conta com a presença de ministros do governo Bolsonaro divulgando o legado dos últimos quatro anos. Em alguns dias de campanha, Zema chega a visitar quatro cidades com aliados do presidente, como o empresário Luciano Hang, a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos) e com o candidato a vice, General Braga Netto (PL), que tem se dividido na mobilização a favor de Bolsonaro.
Nas suas redes sociais, o governador também tem feito declarações contra o PT mineiro. "No governo PT em Minas teve posto de saúde fechado, merenda sopa de arroz, hospitais abandonados, estradas sem qualquer manutenção e servidores com salários atrasados. O mineiro não é gado. É povo sábio e honrado, que do PT já tá vacinado", postou em 10 de outubro no Twitter.
Antônio Carlos Arantes (PL), deputado estadual eleito em Minas Gerais e aliado de Bolsonaro, acredita que Zema pode conseguir os votos necessários para Bolsonaro virar a eleição nacional.
“O Zema hoje é o político que tem maior credibilidade em Minas Gerais e um dos mais confiáveis no Brasil. A participação dele já tem efeito imediato, que já tem mais de 680 prefeitos. A virada já está acontecendo em função da movimentação do governador”, diz.
Embora não tenha citado números que comprovem essa virada de votos – Lula terminou a apuração com 48,29% da preferência do eleitorado em Minas contra 43,60% de Bolsonaro –, Arantes vê que a vitória do presidente é certa e que o estado só tem a ganhar com um “governador e um presidente sincronizados". "Se o Lula ganhar, o estado só vai ter problemas”, completou.
É um movimento parecido com o que o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), vem fazendo após perder a disputa estadual para Tarcísio e Fernando Haddad (PT). Na semana passada, ele recebeu Bolsonaro e Freitas no Palácio dos Bandeirantes para um jantar em que se comprometeu a ajudar a mobilizar prefeitos do estado para se mobilizarem em busca de votos para Bolsonaro.
“Todos nós sabemos o que está em jogo no próximo domingo (30) e por isso estamos aqui para reforçar o nosso apoio incondicional”, disse Garcia a jornalistas pouco antes do encontro com o presidente.
O encontro teve a presença, ainda, de 85 políticos do estado entre deputados e prefeitos de cidades do interior, como Orlando Morando (PSDB), de São Bernardo do Campo.
“Peço a vocês, já que há uma diferença enorme entre nós e o outro lado, que a gente possa colaborar, trazer mais gente para que tenhamos certeza de que o Brasil não voltará a ter aquele retrocesso, todos sabem o que foi o período de 2003 a 2016”, disse Bolsonaro durante a recepção.
As expectativas do apoio de Barbalho e Fátima
Enquanto Bolsonaro conseguiu o apoio dos dois maiores colégios eleitorais do país – São Paulo e Minas Gerais –, Lula puxou para o seu lado Helder Barbalho (MDB), governador reeleito com a maior votação do país (70,41%).
Barbalho manteve a neutralidade no primeiro turno, mas embarcou na campanha de Lula para a disputa de 30 de outubro. O objetivo dele é aumentar a preferência pelo petista no Pará, que no primeiro turno foi de 52,22% do eleitorado do estado – Bolsonaro teve 40,27% dos votos paraenses.
Dirceu Ten Caten, deputado estadual reeleito pelo PT do Pará, diz que a campanha teve um diferencial do restante do país que contou muito para a eleição de Barbalho em primeiro turno com a maior votação: uma coligação de partidos que, historicamente, nunca caminharam juntos – PT, PSDB e MDB.
Segundo Ten Caten, as diferenças ideológicas dos partidos foram deixadas de lado nos últimos quatro anos, durante o primeiro mandato de Barbalho, e que isso acabou afetando a relação com o governo federal de Jair Bolsonaro, então no PSL quando foi eleito, e hoje no PL.
“O Lula deixou bem claro que essa vitória se deu por um trabalho feito dentro do estado sem nenhum tipo de apoio do governo federal nos últimos quatro anos, que atrapalhou e perseguiu. O Helder é um apoio fundamental não só pelo que representa a figura pública dele enquanto governador, mas pelo que representa o bloco político liderado por ele”, disse.
Para o deputado, o apoio de Helder a Lula também pretende melhorar a relação entre o estado e o governo federal, com a liberação de verbas que ajudem no desenvolvimento de áreas como a saúde e a educação no Pará. A expectativa, segundo Ten Caten, é de fazer a votação de Lula crescer de 5% a 8% neste segundo turno.
Lula conta também com o apoio de Fátima Bezerra (PT), reeleita governadora do Rio Grande do Norte com 58,20% dos votos. A petista já vinha fazendo campanha para Lula desde o primeiro turno, mas reforçou o apoio no segundo para ampliar a margem de votos dele no estado – que na primeira etapa de votação foi de 62,98% contra 31,02% de Bolsonaro.
Carlos Eduardo Alves (PDT), que concorreu ao Senado pelo Rio Grande do Norte em uma coligação com o PT e mais cinco partidos no estado, diz que o objetivo é avançar a campanha principalmente no interior do estado, onde seu adversário, o ex-ministro Rogério Marinho (PL), eleito senador pelo estado, conseguiu apoio de uma maioria de prefeitos – segundo ele, por conta de recursos alocados na Codevasf, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba.
“Eu creio que o [ex-]presidente vai aumentar a maioria tanto na capital como o interior. Estamos fazendo mobilização em três a quatro municípios por dia e, no final de semana, vamos dedicar a campanha em Natal. Estamos ocupando os espaços que conseguimos nas ruas”, conta.
Em sua própria campanha ao Senado, Carlos Eduardo teve o apoio de apenas seis prefeitos do estado, enquanto o ex-ministro conseguiu 150 prefeituras a seu favor – Marinho teve o apoio de Jair Bolsonaro.
No último fim de semana, um comício conduzido por Fátima foi interrompido por um tiroteio em Macaíba, na Grande Natal. De acordo com a coordenação da campanha, os tiros foram disparados por um homem que trafegava em uma motocicleta nas proximidades do evento. A governadora foi retirada do comício em segurança.
Entre apoios explícitos e velados nos estados
Já nos outros estados do país, os candidatos que disputam o segundo turno para governador se dividem entre apoios mais explícitos, outros contidos e alguns com neutralidade. Levantamento feito pela Gazeta do Povo nas redes sociais e materiais de campanha aponta que pelo menos 11 dos 24 candidatos que concorrem neste domingo (30) não estão poupando esforços para colar suas imagens às de Lula e Bolsonaro.
Há desde o apoio mais explícito, como o voto “Jerolula” de Jerônimo Souza (PT) a Lula na Bahia, até a disputa nos estados do Mato Grosso do Sul e Rondônia, onde os quatro candidatos tentam se colar a Bolsonaro.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, se colou a Bolsonaro para concorrer ao governo de São Paulo e superar a desconfiança dos paulistas, uma estratégia que deu certo.
É algo como o voto “Jerolula” na Bahia, em que Jerônimo Rodrigues tenta fazer uma dobradinha com Lula para conquistar votos de ACM Neto (União Brasil), que terminou em segundo lugar na apuração (40,80% contra 49,45% do petista) e faz campanha sem se aliar a nenhum dos presidenciáveis.
Para Natália Mendonça, professora de marketing político e pós-graduação na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), a disputa baiana pode terminar apertada, e o apoio de Lula a Jerônimo pode fazer toda a diferença na apuração final.
“Em uma eleição tão parelha como tudo indica que será este segundo turno, estar ao lado do ex-presidente vai ajudá-lo a conquistar uma vantagem melhor no dia 30 de outubro. Lula tem uma forte presença na Bahia”, completa.
Os candidatos que optaram pela neutralidade
Por outro lado, há aqueles que preferiram manter uma distância segura da corrida presidencial, como ACM Neto (União Brasil) também na Bahia, Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco e Eduardo Leite (PSDB) no Rio Grande do Sul, que vem sendo pressionado por seu adversário a revelar em quem votará no segundo turno, principalmente após ter recebido um "apoio crítico" do PT gaúcho.
Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo, é um caso à parte. Embora os capixabas afirmem que Casagrande tem uma predileção pelo voto em Lula, seus materiais de campanha são neutros e não citam o presidenciável e nem mesmo as cores petistas – o PSB faz parte da coligação de Lula. Em entrevista à TV Gazeta, o candidato disse que não teria problema em governar com qualquer um deles.
“Eu saberei governar com qualquer presidente eleito. Eu tenho o meu partido coligado com o ex-presidente Lula, mas a minha capacidade de diálogo é com qualquer presidente da República que for escolhido pelos brasileiros e pelos capixabas”, disse. No Espírito Santo, Casagrande terminou o primeiro turno com uma vantagem de 8,48 pontos percentuais sobre o adversário Carlos Humberto Mannato (PL).
Natália Mendonça diz que até haveria uma afinidade ideológica entre Casagrande e Lula, caso o capixaba desejasse colar na imagem presidencial. No entanto, em outros estados, isso não seria possível.
“É no sentido de não conseguir se colar a nenhum dos lados. O ACM Neto, por exemplo, não tem um alinhamento ideológico com Bolsonaro e nem com Lula, ele teria um problema de imagem perante o eleitorado que não tem uma memória dele com os dois presidenciáveis no passado”, analisa.
ACM Neto chegou a ser pressionado a tomar lado de um dos dois candidatos após o União Brasil liberar a bancada a apoiar quem quisesse – e era o desejo de Bolsonaro para conseguir mais votos na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país. No entanto, segundo fontes internas do partido ouvidas pela reportagem, uma aliança com o presidente candidato à reeleição seria prejudicial para a imagem dele.
É a mesma estratégia adotada por Raquel Lyra em Pernambuco. Em uma sabatina realizada nesta segunda (24), ela afirmou que decidiu “não fazer campanha para nenhum candidato. Minha decisão é unir Pernambuco, a gente não vai separar lulistas e bolsonaristas”, disse ao jornal Folha de São Paulo.
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