O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve uma vitória apertada no segundo turno, retornará ao comando do país com a tarefa de lidar com um Congresso Nacional que tende a ser adversário de seu futuro governo.
O principal elemento que sugere uma hostilidade do Congresso a Lula é o desempenho que tiveram candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na primeira rodada de votação, quando foram eleitos os deputados federais e senadores que tomarão posse no começo do próximo ano.
O PL de Bolsonaro fez tanto a maior bancada na Câmara quanto no Senado. Entre os deputados, foram 99 cadeiras. Já para o Senado, o PL registrou oito vitórias, sendo seis de políticos que estrearão na casa e duas de reeleitos: Romário (RJ) e Wellington Fagundes (MT).
Além do PL e dos membros de outros partidos da coligação de Bolsonaro, PP e Republicanos, a direita contará também com membros que estão em outras siglas e farão oposição ao governo Lula, como os senadores eleitos Alan Rick (União Brasil-AC), Cleitinho (PSC-MG) e Sergio Moro (União Brasil-PR).
Na mão oposta, a federação formada pelo PT de Lula e também por PCdoB e PV conquistou 80 cadeiras na Câmara. Os petistas foram os eleitos mais votados em dois estados: Espírito Santo, com Helder Salomão, e Rio Grande do Norte, com Natália Bonavides. O Psol, que teve o candidato a deputado mais votado de São Paulo, Guilherme Boulos, com mais de 1 milhão de votos, também deve reforçar a base petista na Câmara.
No Senado, o PT elegeu mais quatro membros: Beto Faro (PA), Camilo Santana (CE), Tereza Leitão (PE) e Wellington Dias (PI). Com exceção de Dias, todos os outros serão estreantes na Casa. Eles se juntarão a Jaques Wagner (BA), Humberto Costa (PT) e Paulo Paim (RS).
Devem reforçar ainda a bancada governista no Senado os senadores eleitos Renan Filho (MDB) e Flávio Dino (PSB), por Alagoas e Maranhão, respectivamente, e alguns independentes do PSD, como os reeleitos Omar Aziz, do Amazonas, e Otto Alencar, da Bahia. Além de outros parlamentares que estão em meio de mandato, como Randolfe Rodrigues (Rede), Eliziane Gama (Cidadania), Jader Barbalho (MDB) e Renan Calheiros (MDB).
Barreira intransponível? Não é bem assim
O quadro, porém, não é irreversível para o presidente eleito. Quando Lula administrou o Brasil, entre 2003 e 2010, fez uma composição partidária que incluía praticamente todos os partidos do Congresso, à exceção de PSDB, PPS (atual Cidadania), do extinto DEM e do Psol, que fazia "oposição à esquerda" e hoje está alinhado ao petista.
O arco de apoio incluía partidos e políticos que hoje fazem parte da base de sustentação de Bolsonaro, como PL, PP e Republicanos. Atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira foi um aguerrido defensor de Lula por muito tempo e percorreu ruas do Piauí para pedir apoio a Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.
O Republicanos, quando se chamava PRB, foi o partido de José Alencar, vice de Lula nos dois mandatos anteriores do petista. E a parceria entre PT e PL entrou em declínio após a deflagração do escândalo do mensalão, mas permaneceu em atividade por muito tempo, a ponto de chegar até o governo da sucessora do petista, Dilma Rousseff.
Um dos pivôs do acordo entre Lula e os partidos que hoje estão com Bolsonaro foi o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que é o atual líder do governo Bolsonaro. Em entrevista concedida à Gazeta entre o primeiro e o segundo turnos da eleição atual, Barros declarou que se preparava para negociar a governabilidade com o petista.
“O partido do presidente Bolsonaro elegeu 99 deputados e o do ex-presidente Lula, 80. O resto tem que compor, tem que chamar para negociar, para formar base, porque precisa de 257 votos para aprovar um projeto de lei e 308 votos para uma emenda constitucional. Então, como sempre, somos um presidencialismo de coalizão e haverá uma discussão entre os partidos de como dar governabilidade a quem vencer as eleições”, explicou.
Barros foi vice-líder do governo Lula na Câmara e ministro da Saúde durante a gestão de Michel Temer (MDB).
2023 será mais difícil que 2003, avalia especialista
O professor e cientista político Sérgio Praça avalia que ficaria "muito surpreso se Lula não conseguisse consolidar uma base". "A tendência do Congresso Nacional, qualquer um, é a de apoiar o presidente da República, seja qual for ele", declarou.
Praça avalia, no entanto, que o panorama de 2023 é mais árduo para Lula do que o de 2003. "Hoje o cenário tende a ser pior. Naquela ocasião, o PT elegeu uma bancada bem maior", disse. O PT conseguiu 91 cadeiras na disputa de 2002, sendo o partido da maior bancada na ocasião.
Outro componente que diferencia 2003 de 2023 e que torna o ambiente atual mais complexo para Lula é que, 20 anos atrás, havia mais "boa vontade" em relação ao petista. "Havia ainda um clima de expectativa pelo fato de ser a primeira vez que o PT chegava à Presidência da República", recordou.
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