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Lula no Jornal Nacional
Luiz Inácio Lula da Silva é entrevistado por William Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional| Foto: Marcos Serra Lima/G1/Divulgação

O candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta quinta-feira (25). Terceiro presidenciável a participar da série de entrevistas promovida pelo telejornal ao longo desta semana, Lula falou sobre corrupção na Petrobras, feitos de seus governos, relacionamento com o Congresso e o agronegócio, polarização política e agenda internacional.

O ex-presidente comentou ainda a aliança com o candidato a vice em sua chapa, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB). O petista disse que se juntou ao ex-tucano para mostrar que “em política não tem que ter ódio” e que Alckmin foi aceito pelo PT “de corpo e alma”. Em outro momento, pediu aos telespectadores para “não colocar rancor na urna porque não dá certo”.

Questionado sobre quais lições ele e o PT tiraram sobre a agressividade da militância petista contra quem pensava de forma contrária nos últimos anos, Lula disse que o Brasil e a democracia brasileira eram felizes quando a polarização do país era entre PT e PSDB. Afirmou que eram adversários políticos e trocavam farpas, mas ao se encontrarem no restaurante não havia problema em "tomar uma cerveja" com Fernando Henrique Cardoso, José Serra ou Alckmin.

Indagado sobre o incentivo da cúpula petista à militância contra adversários do PSDB em anos anteriores e a política do “nós contra eles”, o ex-presidente fez uma alusão à torcida de futebol e afirmou que não estimulava a polarização, mas que ela é saudável na democracia. “O que é importante é que a gente não confunda polarização com estímulo ao ódio”, prosseguiu.

Lula aproveitou para destacar a importância da democracia e criticar indiretamente países que adotaram o regime comunista. “Não tem polarização no partido comunista chinês. Não tinha polarização no partido comunista cubano. Quando você tem democracia, quando tem mais que um disputando, a polarização é saudável. Ela é importante, é estimulante. Ela faz a militância ir para a rua, ela faz a militância carregar bandeira”, disse.

Acompanhe a seguir em detalhes outros pontos abordados na sabatina:

Corrupção

A entrevista começou com Lula sendo perguntado sobre a corrupção na Petrobras, com pagamentos a executivos da empresa e a políticos de partidos como o PT. Ele agradeceu o questionamento e disse que durante cinco anos foi massacrado por denúncias de corrupção e criticou a Operação Lava Jato.

Defendeu que em seu governo foram criados instrumentos de combate à corrupção, como o Portal da Transparência, a Lei de Acesso à Informação e a Lei Contra a Corrupção. Disse ainda que o erro da Lava Jato foi ter ultrapassado o limite da investigação e enveredado por um caminho político.

Ele reconheceu ter havido corrupção na Petrobras. “Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram”, disse. Mas garantiu que, caso vença a eleição, continuará a criar mecanismos para que denúncias sejam feitas e investigadas.

“Eu quero voltar à Presidência da República e qualquer hipótese de alguém cometer qualquer crime, por menor ou maior que seja, essa pessoa será investigada, julgada e punida ou absolvida” e disse que “quem roubou pagará”.

Mais à frente, Lula afirmou que houve prejuízos econômicos ao país por conta da Lava Jato. “Você pode fazer investigação com a maior seriedade. Mas você permite que a empresa continue funcionando. Aqui no Brasil se quebrou as indústrias de engenharia que levamos quase um século para construir”.

Ao final, o âncora Willian Bonner rebateu afirmando que “muitos economistas afirmam que esses milhões de empregos não criados, esses investimentos que não foram realizados, seriam consequência não da Lava Jato, mas da crise econômica herdada da gestão de Dilma Rousseff”.

Lula foi investigado pela Lava Jato, que descobriu a existência de uma organização criminosa para fraudar licitações na Petrobras e fazer caixa 2 com dinheiro público para partidos políticos, como PT, PP e MDB.

O ex-presidente foi denunciado por corrupção pelo Ministério Público Federal e condenado pela 13ª Vara Federal de Curitiba nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Lula ficou preso por 580 dias pelo caso do tríplex, mas foi solto após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter mudado entendimento sobre a prisão em segunda instância, determinando que ela só pode ocorrer após o trânsito em julgado (fim dos recursos) da ação.

Em 2021, o STF anulou as condenações proferidas contra Lula alegando que a 13ª Vara de Curitiba não era o juízo natural da causa e remeteu as investigações para a Justiça Federal do Distrito Federal. Na prática, isso abriu caminho para a prescrição dos crimes. Meses depois, o Supremo declarou o ex-juiz Sergio Moro, que havia condenado Lula, parcial na condução dos processos da Lava Jato contra o ex-presidente.

A anulação das condenações devolveu os direitos políticos ao ex-presidente, que pôde se candidatar nas eleições deste ano ao deixar de ser considerado ficha suja com base na Lei da Ficha Limpa.

Indicação à PGR

Indagado por Renata Vasconcellos se vai indicar o primeiro colocado na lista tríplice para o cargo de procurador-geral da República em 2023 caso seja eleito, Lula disse que não falaria: “quero que eles fiquem com uma pulguinha atrás da orelha. Eu não quero definir agora o que eu vou fazer. Primeiro preciso ganhar as eleições”.

Questionado novamente sobre como procederia em relação à indicação do PGR quanto à listra tríplice, persistiu em não responder.

“Para mim a seriedade das instituições é o que vai garantir o exercício da democracia neste país. Então pode ficar certa de que as coisas irão acontecer da forma mais republicana possível”.

Economia

Perguntado sobre a falta de clareza sobre os planos de sua campanha para a economia e como pretende lidar com desequilíbrios nas contas públicas, disse que durante seus mandatos anteriores reduziu o desemprego, a inflação e a dívida pública e falou sobre a política de inclusão social de seu governo.

“Tem três palavras mágicas para governar o país: credibilidade, previsibilidade e estabilidade. Tem que garantir primeiro que quando você falar, as pessoas acreditem no que você fala. Quando você fala na previsibilidade é porque ninguém pode ser pego de surpresa dormindo com mudanças no governo. E a estabilidade é para você convencer que os empresários do Brasil e os estrangeiros tenham condições e saibam que têm estabilidade para fazer investimento aqui dentro”.

Relacionamento com o Congresso

Perguntado sobre como evitaria novos escândalos de corrupção no tratamento do governo federal com o Congresso, a exemplo do mensalão, ocorrido durante o governo Lula, o ex-presidente disse que isso seria evitado punindo as pessoas e conversando com os parlamentares.

Ele ainda comparou o mensalão ao chamado "orçamento secreto", como ficaram conhecidas as emendas de relator que constam no Orçamento-Geral da União desde 2020 e cujo emprego são de livre escolha dos parlamentares.

Lula disse que o orçamento secreto é uma "usurpação de poder" e transformou o presidente da República em um “bobo da corte” e "refém do Congresso Nacional". O petista afirmou que combater o orçamento secreto será uma tarefa comum dele e de Alckmin. O ex-presidente afirmou ainda que não irá negociar com o Centrão, porque este não é um partido político. Vai sim negociar individualmente com cada legenda com direito a voto no Congresso Nacional

Dilma Rousseff

Em pergunta sobre o governo Dilma Rousseff (PT), que se notabilizou pelo aumento de gastos públicos e congelamento de preços, sobretudo de combustíveis, o que resultou na maior recessão da história do país, Lula reconheceu que houve erros por parte da petista e que não cometeria os mesmos equívocos.

O ex-presidente disse que Dilma é “uma das pessoas que tem o mais profundo respeito pela competência e pela ajuda que me deu quando era ministra da Casa Civil”. Afirmou que após o agravamento da crise econômica internacional, ela se endividou para manter as políticas sociais e o emprego, e que foi boicotado pelas casas do Congresso, na época fortemente influenciadas pelo deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Rejeição do agronegócio

Sobre a rejeição de grande parte do setor do agronegócio ao seu nome e possível correlação de tal objeção à atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse que isso se deve à política do partido em defesa da Amazônia e demais biomas brasileiros. “Nossa luta contra o desmatamento faz com que eles sejam contra nós”.

Mais à frente disse que essa definição se aplica ao “agronegócio que é fascista e direitista” e não a todo o setor. Indagado a respeito do papel do MST em seu governo, defendeu a atuação do movimento. “Aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”.

Política internacional

A respeito da postura de Lula de evitar críticas ao apoio do partido a ditaduras de esquerda (como Venezuela, Cuba e Nicarágua), afirmou que “como democrata deve respeitar a autodeterminação dos povos”.

“Estou muito tranquilo com minha relação internacional. Se eu ganhar as eleições vocês vão ver a enxurrada de amigos que estão desaparecidos e que vão visitar o Brasil, porque o Brasil vai ser amigo de todo mundo”.

Declarações finais

“Queria dizer ao povo brasileiro que nós já provamos que é possível cuidar do povo brasileiro. Eu não gosto de usar a palavra governar, eu gosto de utilizar a palavra cuidar. Ou seja, tentar colocar o pobre no orçamento do país, tentar fazer com que as pessoas possam chegar à universidade, e vocês sabem que eu tenho orgulho de ter passado para história como o presidente que mais fez universidades, mais fez escolas técnicas. Nós pegamos o Brasil com 3,5 milhões de estudantes universitários e deixamos com 8 milhões. Ou seja, esse país é o país do futuro que nós precisamos construir.

Não existe nenhuma experiência de país que ficou rico sem investir na educação. Nós vamos voltar para pode investir na geração de emprego. Aliás, uma coisa importante, nós temos quase 70% das famílias brasileiras endividadas e a grande maioria delas é mulher. Endividadas porque não podem pagar a conta de água, a conta de luz, a conta do gás. Nós vamos negociar essa dívida, pode ficar certo que nós vamos negociar com o setor privado e o sistema financeiro porque precisamos fazer com que o povo brasileiro volte a viver com dignidade.”

Outros presidenciáveis no Jornal Nacional

Além de Lula, nesta semana Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) também foram sabatinados no Jornal Nacional. A candidata Simone Tebet (MDB) dará entrevista ao telejornal nesta sexta (26).

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