A pré-campanha PT tem evitado que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participe de eventos abertos ao público e na rua. Até o momento, o pré-candidato tem comparecido apenas de agendas fechadas e com controle de acesso ao público nos diversos estados por onde tem passado.
Isso tem sido usado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) para criticar Lula. Os aliados do atual presidente dizem que Bolsonaro não tem "medo" das ruas, pois ele com frequência participa de eventos abertos, tais como motociatas e marchas evangélicas.
A ausência de Lula em eventos abertos ao público e nas ruas foi discutida recentemente durante reunião da coordenação de partidos que apoiam a candidatura do ex-presidente. A avaliação, segundo dirigentes partidários, é de que a segurança de Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), indicado como vice na chapa, deve ser reforçada.
No encontro, Lula demonstrou desconforto com a situação e rechaçou a possibilidade de fazer campanha apenas pelas redes sociais. Mesmo com a resistência de Lula, integrantes do partido pressionaram para que, ao menos neste período de pré-campanha, as agendas ocorram em ambientes com controle de segurança.
Nesta semana, por exemplo, um ato público que estava previsto para ocorrer no Rio Grande do Sul foi transferido da Rua da Praia, uma das vias mais movimentadas de Porto Alegre, para um ambiente fechado. Paralelamente, o PT também alegou "questões de logística" para adiar uma agenda que Lula iria cumprir em Santa Catarina depois da passagem pelo Rio Grande do Sul. Em nota, o presidente estadual do PT, Décio Lima alegou que não "foi possível reservar locais adequados" e as "condições climáticas de Florianópolis não recomendavam um ato público em local aberto".
"A equipe do [ex-]presidente, que já estava no local para preparar a agenda, constatou a impossibilidade das questões climáticas para fazer em lugares abertos", informou Lima. Além disso, o PSB decidiu recomendar o adiamento devido à falta de consenso acerca do candidato ao governo estadual da coligação. No estado, o senador Dario Berger (PSB) e Décio Lima postulam o posto.
Incidentes na segurança de Lula deram alerta sobre eventos abertos
A preocupação com a segurança do ex-presidente tem sido alvo de debates dentro dos quadros do PT ao menos desde o começo deste ano, quando as agendas públicas se intensificaram. No lançamento oficial da pré-candidatura, em São Paulo, o PT exigiu credenciamento de todos os presentes e usou detectores de metal para acesso das 4 mil pessoas que participaram do evento.
Na semana seguinte, durante uma agenda em Campinas, no interior de São Paulo, o carro em que o ex-presidente estava foi cercado por um grupo de pessoas que hostilizava o petista. Dias antes, durante a participação de Lula em um ato do acampamento indígena Terra Livre, em Brasília, o carro em que ele estava ficou parado no meio da multidão por alguns minutos sem avançar. Os poucos seguranças privados não conseguiam abrir caminho para que o veículo passasse e o ex-presidente não baixou o vidro do carro para falar com apoiadores.
Recentemente, durante sua passagem por Minas Gerais, Lula foi alvo de protestos por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Depois, em Juiz de Fora, também em Minas, uma das agendas teve de ser alterada também por causa de protestos de opositores ao petista.
Por ser ex-presidente, Lula conta com apoio de agentes da Polícia Federal. E, em eventos abertos, costuma ter também o reforço de seguranças privados. Além disso, de acordo com o PT, as polícias militares costumam ser acionadas nos estados em que o petista tem cumprido agendas nas últimas semanas.
Integrante da coordenação de campanha de Lula, o deputado Rui Falcão (PT-SP) afirma que, apesar da preocupação com a segurança do petista, não é necessário criar pânico nem intimidar as pessoas. "É apenas uma coisa natural; Lula é uma pessoa muito visada. Ele conta com segurança profissional e naturalmente também o apoio da militância mais organizada", disse o petista ao jornal Folha de S.Paulo.
PT também quer evitar questionamentos da Justiça Eleitoral
Além da questão de segurança, a equipe do ex-presidente teme problemas com a Justiça Eleitoral se Lula participar de eventos públicos antes de a campanha eleitoral efetivamente estiver autorizada. Na avaliação dos integrantes petistas, neste momento atos abertos podem ser classificados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como campanha antecipada.
No mês passado, o PL, partido do presidente Bolsonaro, entrou com uma representação contra o PT por causa da participação de Lula no ato das Centrais Sindicais no Dia do Trabalho, em São Paulo. Na avaliação do PL, a cantora Daniela Mercury, que cantou no evento, entoou o slogan de campanha de Lula, enquanto balançava uma bandeira com o rosto do petista. "Ato contínuo, em verdadeiro ato de campanha antecipada ilícita, diz: 'Quem não votar pra Lula vai estar votando contra os trabalhadores, contra os artistas, contra o país, contra a Amazônia, contra tudo que a gente acredita e vem construindo democraticamente para esse país'", diz um dos trechos da representação.
Publicamente, Lula rechaça a possibilidade de reduzir as agendas públicas por causa de questões de segurança e tem pedido para a militância petistas evitar embates com os apoiadores do presidente Bolsonaro. De acordo com o petista, ele irá rodar o país em agendas abertas a partir do momento que a campanha estiver liberada. Oficialmente, a campanha eleitoral vai começar em 15 de agosto.
"Tem gente que acha que não precisa mais fazer campanha com comício, é só pela rede social. Quem quiser ficar na rede social, que fique. Eu vou viajar o Brasil, quero conversar com o povo brasileiro", disse Lula em evento um do partido Solidariedade no mês passado.
Polícia Federal vai reforçar segurança dos presidenciáveis
Na última terça-feira (31), a Polícia Federal apresentou um esquema inédito para reforçar a segurança dos presidenciáveis durante a campanha deste ano. O modelo apresentado envolve a criação de um grupo de inteligência de segurança dos candidatos e a definição de uma metodologia para identificar os riscos contra cada candidato.
De acordo com a corporação, ao menos 300 policiais federais serão designados para cuidar da segurança dos candidatos a presidente. Os agentes já trabalharam em eleições passadas ou em grandes eventos recentes, como a Copa do Mundo e a Olimpíada do Rio de Janeiro. Além disso, todos os profissionais passarão por um curso específico para exercer essa função.
Ao todo, serão investidos R$ 57 milhões para custear o esquema especial de segurança. Desse total, cerca de R$ 25 milhões serão gastos com o custo operacional (logística, diárias) e R$ 32 milhões com a compra de equipamentos. A PF informou ainda que adquiriu 71 veículos blindados para uso dos presidenciáveis. "É notório que vai ser uma eleição que até o momento está muito polarizada, mas isso não implica em dizer que é uma eleição de maior risco. Mas estamos preparados para realizar o trabalho mesmo em um ambiente de muitas paixões", informou Sandro Avelar, diretor-executivo da PF.
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