O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou oficialmente que não comparecerá ao debate deste sábado (24) organizado por um pool de veículos de comunicação que inclui, entre outros, o SBT e a CNN Brasil. A decisão é vista como parte de uma estratégia de preparação para o debate da TV Globo, considerado decisivo. Além da expectativa de audiência maior, o evento da principal emissora de tevê do país ocorrerá na quinta-feira (29) que antecede o primeiro turno.
Será a última grande chance que Lula terá para convencer eleitores indecisos e tentar vencer a eleição presidencial sem a necessidade de um segundo turno. Para isso, o petista precisa obter no dia 2 de outubro mais de 50% dos votos válidos (que exclui brancos e nulos). Uma das apostas da campanha é no voto útil de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).
Todos os outros presidenciáveis com representação no Congresso confirmaram presença no evento do SBT/CNN, que reúne ainda o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Veja, o portal Terra e as rádios Eldorado e Nova BrasilFM. Inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aceitou o convite oficialmente nesta sexta-feira (23). O debate no SBT começa às 18h15.
"Eu adoraria participar porque eu tenho um profundo prazer de participar de debate, é bom. Lamentavelmente, o debate do SBT demorou um pouco. Minha coordenação mandou uma carta para fazer um pool, quando veio a resposta do debate, eu já tinha agenda no Rio e em São Paulo", disse Lula em Ipatinga (MG), onde cumpriu agenda de campanha nesta sexta.
Já Lula fará dois atos na cidade de São Paulo neste sábado: o primeiro será no bairro do Grajaú, na zona sul, às 11 horas, e o segundo comício será em Itaquera, zona leste, às 17 horas. No domingo, ele estará no Rio de Janeiro.
"O Lula quer viajar, quer voltar a Minas Gerais, ir mais uma vez a São Paulo. Por esse motivo, de dificuldade de agenda, nós estamos priorizando viagens", afirmou Edinho Silva, responsável pela comunicação da campanha petista, à CNN justificando a ausência do ex-presidente no debate. “É uma opção da coordenação da campanha", completou.
Em nota, o pool de veículos de comunicação que promove o debate deste sábado disse que recebeu com "surpresa" a justificativa do ex-presidente para se ausentar do debate. "Diferentemente do que foi declarado pelo candidato, a formação do pool deu-se antes mesmo da sugestão feita por sua campanha, com a parceria firmada originalmente entre SBT, VEJA, NovaBrasil e Estadão/Eldorado, ainda em março deste ano", informou.
Ainda de acordo com o comunicado, "em 22 de março, os quatro grupos enviaram formalmente email às campanhas presidenciais, comunicando a realização do debate e informando as datas escolhidas para os confrontos do primeiro e do segundo turno. E, em 28 do mesmo mês, foi realizada a primeira reunião presencial com representantes dos candidatos convidados. A campanha de Lula esteve presente em tal reunião, assim como em todas as demais reuniões convocadas para discutir os detalhes e regras do debate".
Por fim, o pool afirmou que "lamenta a decisão do candidato de não participar, por entender que o debate é um dos mais importantes instrumentos para fomentar a democracia e ajudar o eleitor na hora do voto".
Um olho na audiência e outro no voto útil
Integrantes da campanha afirmam que, ao priorizar o debate da Globo, que conta com a maior audiência do Brasil, Lula pretende amarrar a estratégia pelo chamado voto útil. Para isso, o petista vem sendo treinado para possíveis confrontos diretos com Ciro Gomes e Simone Tebet.
Em 2018, o debate da emissora teve média de 22 pontos no Ibope. Com a atualização do número de telespectadores feita pela Kantar Ibope, este índice representaria hoje 4,5 milhões de pessoas diante da TV somente na Grande São Paulo.
Os eleitores de Ciro e de Tebet são os mais cortejados por Lula na busca pela vitória ainda no primeiro turno. Ambos têm atacado o petista por causa dessa estratégia.
No voto útil, o eleitor abre mão de um candidato que acredita ter poucas chances de vitória para votar em outro melhor colocado nas pesquisas.
"Voto útil é o voto do futuro, não é nem tentar voltar às velhas fórmulas do passado, que não deram certo, que ficaram quatro mandatos e não fizeram o dever de casa. E muito menos manter um governo insensível, que não planeja, não conhece as realidades do Brasil e só vive criando crises artificiais para esconder a sua incompetência e a sua incapacidade", disse Tebet recentemente, em menções veladas a Lula e Bolsonaro.
O objetivo da campanha petista é usar a grande audiência da Globo para sensibilizar o eleitorado a votar em Lula e encerrar a eleição no dia 2 de outubro.
O que Lula pretende dizer no debate da TV Globo
Sob orientação da campanha, Lula já se prepara para rebater possíveis questionamentos sobre corrupção por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL) no debate da TV Globo. O petista deve contra-atacar citando as compras de imóveis em dinheiro por parte da família Bolsonaro.
Desde que a reportagem do portal UOL revelou que ao menos 51 dos 107 imóveis da família Bolsonaro foram pagos com dinheiro em espécie, o atual presidente ainda não foi questionado diretamente sobre o tema pelos seus adversários. O entorno de Lula avalia que esse tema pode acabar desestabilizando Bolsonaro durante o debate.
Nesta sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal determinou a retirada do ar das reportagens do UOL sobre transações imobiliárias da família Bolsonaro. A decisão liminar atendeu a um recurso da defesa do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A campanha de Lula já vem explorando o caso da compra de imóveis em sua propaganda eleitoral no rádio e na TV.
Outro assunto que o ex-presidente pretende explorar no debate são as suspeitas de corrupção no MEC, que resultaram na demissão e posterior prisão do ministro Milton Ribeiro. A avaliação é de que as respostas podem acuar Bolsonaro no embate sobre a pauta corrupção.
A estratégia dos aliados de Lula ocorre depois que o candidato do PL explorou os casos de corrupção dos governos petistas durante o primeiro debate da TV Band, ocorrido no final de agosto. Na ocasião, a avaliação foi de que o petista não soube se explicar e acabou saindo derrotado do embate direto com o atual presidente.
O próprio Lula, em entrevista a uma rádio de Belém, três dias após o debate, deixou transparecer que a resposta que deu a Bolsonaro sobre corrupção na Petrobras não tinha sido satisfatória.
“Obviamente que o debate da Bandeirantes, do jeito que ele é formulado, cria muita dificuldade para o debate de verdade, que é o enfrentamento entre os candidatos. Mas haverá outros debates e outras oportunidades. Vamos provar quem é quem na política brasileira”, amenizou na ocasião.
Campanha quer Lula sereno, mas combativo ao ser atacado
A expectativa dos assessores de Lula é de que o ex-presidente não suba o tom contra os adversários e demonstre um tom sereno e calmo diante de questionamentos dos adversários. Apesar disso, avaliam que o petista vai precisar ser combativo e incisivo durante o debate da Globo.
Paralelamente, a campanha espera que o debate da Globo seja usado por Lula para falar diretamente com segmentos do eleitorado. É esperado que Lula faça acenos diretos para as mulheres e para eleitores da classe média. Esses dois grupos são tidos com os mais estratégicos para que o petista vença ainda no primeiro turno.
Lula deve fazer ainda um apelo para que o eleitorado compareça às urnas no dia 2 de outubro. Além de atrair eleitores de Ciro e de Tebet, a campanha do PT acredita que evitar a abstenção do eleitorado no primeiro turno será determinante na estratégia adotada para essa reta final da campanha.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024
Deixe sua opinião