O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou neste sábado, em São Paulo, sua pré-candidatura à Presidência da República e deu o tom de qual será sua estratégia eleitoral: criticar o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e elogiar as gestões petistas. Esses dois elementos da narrativa de Lula foram "costurados" num discurso de que ele vai recuperar a soberania do Brasil – que, segundo ele, estaria ameaçada pelo que chamou "autoritarismo e incompetência" de Bolsonaro.
Em seu discurso, Lula procurou dizer que a soberania de um país está relacionada a muitos aspectos – tais como o bem-estar social, o desenvolvimento econômico, o meio ambiente, o patrimônio público. E, em cada um desses aspectos, fez críticas a Bolsonaro e elogios aos governos do PT.
Lula rememorou alguns dos principais projetos sociais das gestões do PT, como o “Minha Casa, Minha Vida”, “Luz Para Todos” e “Fome Zero”, sempre demarcando a oposição ao governo Bolsonaro. "Travamos uma batalha contra a fome e vencemos. Tudo o que fizemos e conquistamos, o atual governo está destruindo", afirmou o pré-candidato, elencando também o retorno do Brasil ao mapa da fome.
Segundo ele, um país em que pessoas passam fome não é efetivamente soberano. Lula também fez menções à classe média e à inflação. E disse que "famílias estão se endividando não para pagar a viagem de férias; estão se endividando para comer". Também prometeu apoiar a agricultura, especialmente a familiar, para garantir a soberania alimentar do brasileiro.
Para reverter essa situação, Lula disse que é preciso recuperar o desenvolvimento econômico que o país tinha em seu governo. Citou que, em sua gestão, o país tinha o sexto maior PIB do mundo, e que hoje tem o 12.º. Para ele, não é possível falar em soberania quando um país tem milhões de desempregados. E prometeu investir em infraestrutura.
O ex-presidente também disse que vai garantir a soberania nacional contra as ameaças ao patrimônio público. E citou que não vai privatizar estatais estratégicas, como pretende ou já cogitou o atual governo, casos da Petrobras e Eletrobras. Segundo ele, a Petrobras “vem sendo desmantelada dia após dia” pelo atual governo. "Pagamos a gasolina cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem o salário em real", disse, citando a alta do preço dos combustíveis.
“Vamos promover um modelo de crescimento econômico e desenvolvimento social e lutar para que o fascismo seja devolvido ao esgoto da história de onde jamais deveria ter saído”, disse.
Lula ainda garantiu que vai defender a soberania nacional ao proteger a Amazônia, o meio ambiente e os indígenas – áreas em que o governo Bolsonaro é criticado internacionalmente.
Também garantiu investir nas universidades públicas e em arte, para garantir a soberania de conhecimento e de cultura. O ex-presidente atacou o Ministério da Educação de Bolsonaro que, segundo ele, teria reduzido as verbas para a área ao patamar de uma década atrás. Ao defender a aliança dos partidos progressistas sob sua candidatura, teceu elogios ao educador Paulo Freire, de linha esquerdista.
Em aceno às chamadas pautas identitárias, o petista afirmou que "nunca um governo [como o de Bolsonaro] estimulou tanto o preconceito e a discriminação”. Lula associou a perda da soberania nacional a casos de “mulheres mortas pelo simples fato de serem mulheres, pessoas espancadas e mortas por conta de orientação sexual e extermínio da juventude negra”. Também criticou o “racismo estrutural que fere direitos e nega oportunidades".
Lula também fez referência à política internacional, afirmando que pretende “lutar por uma nova governança global” ao fortalecer o bloco do Mercosul e a aliança dos BRICS (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Disse que vai fazer isso contrapartida ao “negacionismo” e à “truculência” do atual governo, ao qual acusou de “agredir nossos maiores parceiros comerciais”.
Lula diz que não tem desejo de vingança contra a Lava Jato
Durante o discurso, Lula também criticou a Operação Lava Jato, mas fugiu do tom belicoso.
"Fui vítima de uma das maiores perseguições jurídicas e políticas da história desse país. Mas não espere de mim ressentimento, mágoa ou desejo de vingança. A reconstrução da democracia vai exigir muita energia. Não perderemos tempo odiando quem quer que seja", disse Lula.
Ao final do discurso, Lula também homenageou a ex-presidente Dilma Rousseff. Mas negou que ela ou o ex-ministro José Diceu terão cargos caso vença as eleições.
"As pessoas me perguntam: 'Ah, você vai levar a Dilma [para seu governo]? Vai levar o Zé Dirceu pro ministério? Eu não vou levar. A Dilma não caberia num ministério, porque tem a grandeza de ter sido a primeira mulher presidente. Você não vai ser minha ministra, mas vai ser minha companheira", disse.
Alckmin cumpre "missão" de fazer acenos ao centro
O ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice de Lula, discursou de forma remota, de casa, após testar positivo para Covid-19 (ele tem sintomas leves). Alckmin disse que as divergências do passado que teve com Lula não vão impedi-lo de apoiar o petista. Ambos disputaram o segundo turno das eleições presidenciais de 2006, quando trocaram acusações e críticas.
"Democracia é marcada, sim, por disputas. (...) Mas, acima das disputas, algo mais relevante e urgente se impõe: a defesa da democracia", disse Alckmin, ao justificar por que aceitou o convite para ser vice do petista e ao usar o mesmo tom de Lula de que o governo Bolsonaro seria uma ameaça às instituições democráticas. "Sem Lula não haverá alternância de poder no Brasil", afirmou.
O ex-governador também fez críticas duras ao atual governo, ao qual chamou de o "mais desastroso da história". E procurou cumprir a missão que Lula espera dele: fazer acenos ao eleitor de centro, ao mercado e aos empresários – mais resistentes às pautas da esquerda.
Alckmin afirmou, por exemplo, que não há oposição entre prosperidade pessoal e bem-estar social e entre liberdade e igualdade. Disse ainda ser possível estimular o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico juntamente com uma relação mais justa entre empresários e trabalhadores. "Vamos provar isso."
Na mesma linha de ser a "ponte" entre Lula com o centro, o ex-governador paulista também fez um chamado para que outras forças políticas e sociais se juntem à campanha para eleger Lula. "Venham se juntar a nós."
Alckmin "brincou" ainda com o apelido que ganhou durante sua carreira política: "Picolé de Chuchu" – devido a sua suposta personalidade "sem graça". O ex-governador disse que "lula cai bem com chuchu". O ex-presidente Lula, que falou depois de Alckmin, também embarcou na brincadeira. "Saio daqui na expectativa de que vamos comer chuchu com lula. Vai se tornar o prato da moda no Palácio do Planalto a partir das eleições", disse o petista.
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