O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dedicou a agenda desta quinta-feira (27) para se preparar para o debate da TV Globo, o último antes do segundo turno. Considerado decisivo pela campanha petista, o debate com Jair Bolsonaro (PL) acontece nesta sexta-feira (28), a partir de 21h30.
O principal foco do treinamento foi no controle do tempo das falas, pois a campanha de Lula avalia que esta foi uma falha do petista no debate da TV Band. Em um dos blocos, Lula esgotou o seu tempo e deixou Bolsonaro falando sozinho por quase sete minutos. A preparação envolveu o marqueteiro Sidônio Palmeira, os coordenadores de comunicação da campanha Edinho Silva e Rui Falcão, e o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins.
Lula também se prepara para apresentar respostas mais firmes para temas considerados sensíveis, como os casos de corrupção nos governos petistas. De acordo com membros da campanha, a avaliação é de que o petista precisa ser "convincente" e não se deixar levar pelas "provocações" de Bolsonaro.
Integrantes do PT avaliam ainda que o ex-presidente pode se sobressair ao tratar sobre temas como pandemia e economia. A estratégia desenhada é para que Lula não fique "divagando" sobre pautas de costumes e tente levar Bolsonaro para o que os aliados do PT afirmam ser a "agenda do Brasil real".
Para falar sobre economia, Lula pretende explorar temas como a possibilidade de desindexação do salário mínimo e do fim da dedução dos gastos com educação e saúde no Imposto de Renda. Ambas as propostas foram ventiladas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e depois desmentidas pelo governo. Para os aliados de Lula, no entanto, esse é um tema que desgasta Bolsonaro.
Prisão de Roberto Jefferson deve entrar no repertório de Lula
Em outra frente, a campanha de Lula pretende explorar no debate da Globo a relação de Bolsonaro com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). O petebista foi preso, no último domingo (23), depois de atirar contra agentes da Polícia Federal que tentaram cumprir uma ordem de prisão contra ele.
Para aliados de Lula, o episódio provocou desgastes na relação de Bolsonaro com a PF e pode ser o momento de o candidato petista fazer um aceno para a categoria. A campanha do PT avalia ainda a possibilidade de usar a imagem do ex-juiz e senador eleito Sergio Moro (União-PR) durante o debate.
No encontro da TV Band, Moro integrou a comitiva de Bolsonaro e foi um dos conselheiros do presidente. Agora, o PT avalia que o a presença do ex-juiz pode ser usada para reforçar a narrativa de que Bolsonaro interferiu no trabalho da PF no episódio Roberto Jefferson.
Ao deixar o Ministério da Justiça, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir nas investigações da corporação. A dupla, no entanto, restabeleceu a relação neste segundo turno e, de acordo com Moro, as divergências ''ficaram para trás''. Para a campanha de Lula, a associação do ataque de Jefferson à PF pode reforçar o desgaste de Bolsonaro nessa reta final da campanha.
Além disso, o episódio é visto pelo PT como uma forma de o ex-presidente tratar da política de liberação de armas defendida pelo candidato do PL. No cálculo dos estrategistas, Lula pode dialogar com o público feminino e com os mais jovens ao falar contra o porte de armas de fogo.
“Por que um cidadão que mora dentro da cidade, como o Roberto Jefferson, tem que ter tanta arma? Por que aquele vizinho do condomínio do presidente da República tinha tantos fuzis, 100 fuzis? Aquilo era coleção? Aquilo era contrabandeado? Aquilo era para vender? Para que tanta arma?”, discursou Lula durante agenda política nesta semana.
Lula vai usar audiência do debate da Globo para tentar reduzir abstenção
A campanha de Lula vê no debate da Globo ainda a oportunidade de convencer o eleitorado a participar das eleições no próximo domingo (30). A avaliação do PT é de que a redução da abstenção pode ser determinante num cenário onde a polarização contra Bolsonaro se acirrou neste segundo turno.
O candidato do PT deve defender o voto e incentivar o comparecimento dos mais pobres às urnas por meio do transporte gratuito liberado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) neste segundo turno. Até o momento, as 26 capitais e o Distrito Federal já confirmaram que irão oferecer o transporte de forma gratuita durante todo o dia de votação.
Os aliados de Lula acreditam que o apelo em defesa da democracia no debate pode influenciar o eleitorado neste segundo turno. No primeiro turno, o debate da Globo registrou a maior audiência desde 2006 em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
Observada a média nacional, a audiência da emissora dobrou na mesma faixa horária, com crescimento de 100% (+13 pontos), chegando a 26 pontos e 58% de participação, impactando quase 50 milhões de brasileiros, segundo dados do Ibope.
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