A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçou como objetivo neste segundo turno ampliar o número de eleitores nos estados do Nordeste como forma de mitigar a vantagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Sudeste. O candidato do PT desembarcou em Salvador (BA) na quarta-feira (12) para cumprir agendas em ao menos quatro estados da região – Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco.
Lula enfrenta uma série de dificuldades para reverter votos no Sudeste, onde no primeiro turno ele ficou à frente de Bolsonaro apenas em Minas Gerais. Na região, que concentra 42% do eleitorado brasileiro, o petista foi derrotado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Apesar disso, aliados acreditam que um crescimento do candidato petista nos estados do Nordeste, neste segundo turno, poderá compensar as dificuldades que vem tendo no Sudeste. No primeiro turno, Lula venceu nos nove estados nordestinos. Ao todo, ele fez 67% dos votos válidos, contra 26,8% de Bolsonaro em toda a região.
"Muitos brincaram com essa diferença em estados do Norte e Nordeste, mas ela tem um caráter decisivo nestas eleições. Basta lembrar que o Maranhão sozinho compensou a diferença no estado de São Paulo. Tivemos 1,7 milhão de votos de vantagem no Maranhão, e perdemos por uma diferença de 1,7 milhão de votos em São Paulo", explicou o ex-governador maranhense Flavio Dino (PSB), um dos estrategistas da campanha de Lula e senador eleito.
No Maranhão, Lula venceu com 68,84% dos votos válidos no primeiro turno, contra 26,02% do adversário. Em número de votos, o petista recebeu mais de 2,6 milhões, enquanto o atual presidente teve pouco mais de 980 mil. Na sequência, Ciro Gomes (PDT), teve 2,54% (96.095 votos), e a senadora Simone Tebet (MDB), 2,07% (78.254 votos).
"Significa que ampliar no Norte e no Nordeste será um dos vetores da nossa vitória. Só com os eleitores de Ciro e Simone, a gente consegue", prevê Dino.
Lula prioriza agendas de rua para mobilizar militância no Nordeste
Diferentemente do primeiro turno, Lula optou por investir em agendas de ruas nos estados por onde tem passado nesta segunda etapa da eleição. A avaliação é de que a mobilização encoraja a militância, principalmente no Nordeste, a manter o engajamento dos eleitores do ex-presidente em todo o país.
Na Bahia, onde o candidato do PT ao governo, Jerônimo Rodrigues, terminou o primeiro turno à frente do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), a avaliação é de que Bolsonaro vai ficar isolado na região neste segundo turno. Apesar da ofensiva de aliados do Planalto, ACM optou por não declarar apoio ao candidato à reeleição neste segundo turno, em virtude do apoio de Lula no estado.
Na última quarta, Lula participou de uma caminhada com apoiadores em Salvador. Assim como no Maranhão, a campanha do PT acredita que um crescimento na Bahia pode ser determinante para a vitória. No primeiro turno, Lula teve 3,8 milhões de votos a mais que Bolsonaro no estado, a maior distância em números absolutos em todo o Brasil.
“Quero agradecer o povo baiano, de coração. Eu não sei como agradecer, mas vou precisar de um pouco mais de voto. Se alguém tiver dúvida ainda, se alguém por acaso não votou, não fez a biometria direito, pode fazer que o Lulinha está doido para ter um voto a mais”, disse o candidato petista.
No cenário nacional, a vantagem do ex-presidente sobre Bolsonaro foi de 6,2 milhões de votos, no primeiro turno. Ou seja, mais da metade dessa diferença pode ser colocada na conta do eleitor baiano. Agora, a meta do PT é que Lula receba ao menos 75% dos votos do estado. "Vamos em busca de dar uma votação maior do que ele já teve no primeiro turno. Temos essa impressão", afirmou o senador reeleito pela Bahia, Otto Alencar (PSD).
Depois da Bahia, Lula desembarcou nesta quinta-feira (13) em Sergipe, onde no primeiro turno teve 63,82% dos votos válidos (828.716) contra 29,16% (378.610) do adversário. Na sequência, Lula seguiu para Alagoas, onde no primeiro turno teve 56,50% dos votos válidos (974.156). A viagem pela região se encerra nesta sexta-feira (14), com um ato em Recife (PE).
"Eleição se ganha na rua e militância se engaja quando o líder vai para a rua. Isso tem um efeito psicológico na nossa militância, que estava emparedada pela violência do fascismo. Quando a gente vai para a rua, a militância tira a bandeira da gaveta e também vai", disse Flávio Dino.
Campanha destaca engajamento de artistas da região
Em outra frente, a campanha de Lula vai explorar ao máximo uma fala de Bolsonaro sobre os nordestinos como forma de crescer na região. Após o resultado do primeiro turno, o presidente citou o analfabetismo no Nordeste para tentar explicar a derrota sofrida para o petista.
"Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta ou mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores na região", disse Bolsonaro.
A declaração do candidato à reeleição gerou críticas de diversos artistas e influenciadores da região, entre eles os ex-BBBs Juliette e Gil do Vigor, que no primeiro turno já haviam declarado apoio a Lula, além do humorista piauiense Whindersson Nunes. "Queria estar surpresa com as falas preconceituosas sobre o Nordeste, mas não estou. Nem com a pessoa, nem com a atitude. Esse é o reflexo de um pensamento raso, desinformado e maldoso. Novidade? Nenhuma!", afirmou Juliette, que é da Paraíba.
Agora, a campanha de Lula pretende usar o engajamento desses influenciadores como forma de crescer na região. Desde então, páginas de fã-clubes desses artistas têm se mobilizado para divulgar materiais de campanha do petista em grupos de WhatsApp e Telegram. Segundo integrantes da campanha, a repercussão da fala de Bolsonaro atrelado ao apoio dos artistas do Nordeste podem ampliar a vantagem de Lula na região.
"Infelizmente o presidente da República estimulou, mais uma vez, o preconceito contra o Nordeste. Nós aqui votamos de modo consciente, reconhecendo quem de fato investiu em infraestrutura, obras e políticas sociais para a nossa região. Bolsonaro virou as costas para o Nordeste", explicou Dino.
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