A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não conseguiu emplacar a sua estratégia de falar com os eleitores evangélicos por meio das redes sociais. Para tentar reverter esse cenário, o comitê de campanha delegou ao deputado federal André Janones (Avante-MG) a tarefa de dialogar com os fiéis pela internet e adotou outras providências.
Na semana passada, o comitê petista protocolou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o pedido de registro de 12 endereços em plataformas como TikTok, Kwai, Twitter, Facebook e Instagram.
"Alguns setores evangélicos, tanto dos partidos da coligação quanto de fora dele, nos contataram com interesse em atuar junto a comunidades evangélicas na campanha, e para isso ser possível registramos esses sites e perfis no TSE", explicou a assessoria do PT. Mas os novos perfis ainda estão engatinhando.
No Twitter, por exemplo, o perfil "Evangélicos com Lula" contava com apenas 90 seguidores até esta sexta-feira (26) e fez apenas o "retweet" de uma publicação de Lula sobre a Marcha Para Jesus. "Como tem gente espalhando mentira, temos que lembrar que o Dia Nacional da Marcha para Jesus foi feito por nós em 2009, e que também fizemos a Lei da Liberdade Religiosa", escreveu o petista.
Oficialmente, a Marcha Para Jesus chegou ao Brasil em 1993 e, de fato, Lula foi responsável por sancionar a Lei Federal 12.025, que incluiu o evento religioso no calendário oficial do Brasil. A sanção da legislação vem sendo usada pela campanha do PT para rebater afirmações consideradas falsas de que Lula vai "fechar igrejas" se for eleito.
Já no Instagram, o perfil "Restitui Brasil" conta, até o momento, com 94 seguidores e realizou apenas três publicações. Famoso entre os evangélicos, o termo "restituição" remete a passagens bíblicas que significam compensar de forma justa o que foi perdido pelo povo de Deus.
Nos posts, a campanha usa textos bíblicos numa tentativa de atrair os fiéis. "E tudo aquilo que roubado foi, não poderá se comparar, com aquilo que o Senhor tem preparado ao que clamar!" É hora de voltar a sonhar! É tempo de restituição para as famílias brasileiras. Junte-se a nós", diz uma das publicações.
Redes sociais tentam fisgar eleitores para site da campanha de Lula
Os perfis criados estão divulgando um site da campanha de Lula onde é possível fazer um cadastro para recebimento de conteúdo do ex-presidente. Além de nome, e-mail e WhatsApp, a pessoa pode disponibilizar o nome da igreja onde congrega.
Ao concordar com o cadastro, o usuário autoriza a equipe de comunicação do ex-presidente a entrar em contato para diferentes tipos de ação, como participar de grupos de Whatsapp, envios de e-mail e ações correlacionadas, como preencher formulários e assinar petições, e chamadas para participar em ações no Facebook.
Levantamento mais recente do instituto Datafolha mostrou que Jair Bolsonaro (PL) tem 17 pontos de vantagem sobre Lula entre o eleitorado evangélico. De acordo com a pesquisa, o atual presidente lidera com 49% das intenções de voto do segmento, contra 32% do petista. Há um mês, segundo dados do instituto, a distância era de dez pontos percentuais.
Num segundo turno entre os dois, Lula ficaria com 37% dos votos, e Bolsonaro, 54%. Em julho, o ex-presidente tinha 40% desse eleitor com ele, e o atual, 52%. Como a Gazeta do Povo mostrou, a vantagem de Bolsonaro sobre esse eleitorado e os discursos de Lula na primeira semana de campanha geraram diversos embates dentro do comitê petista sobre a forma de abordagem desse eleitor.
Agora, articuladores da chapa petista acreditam que a estratégia por meio de perfis nas redes sociais pode ajudar. Há uma avaliação, porém, de que Lula não deve deixar a disputa com Bolsonaro ser levada pela pauta de costumes, mas pela agenda econômica. Com isso, a expectativa é de que o petista reduza os discursos religiosos, evitando cair em armadilhas retóricas, enquanto os articuladores trabalham no combate às fake news na internet.
Tarefa de atrair evangélicos pelas redes sociais passa a ser liderada por Janones
Com a decisão de manter o foco na agenda econômica, Lula pretende deixar de lado os discursos voltados para o segmento religioso. Com isso, o trabalho de tentar chegar aos evangélicos pelas redes sociais será tocada pelo deputado André Janones.
O mineiro, que é evangélico, membro da Igreja Batista da Lagoinha, do pastor André Valadão, desistiu de sua candidatura à Presidência para apoiar o petista. Uma das propostas é que Janones passe a realizar lives semanais com a participação de pastores para desmentir boatos contra Lula. A estratégia veio depois que a campanha identificou a proliferação de conteúdos afirmando que o petista, se eleito, iria fechar igrejas.
Popular nas redes sociais, o deputado tem 8 milhões de seguidores no Facebook (mais do que os 5 milhões de Lula), 2 milhões no Instagram (Lula tem 5,6 milhões) e 149,6 mil no Twitter (o petista tem 3,9 milhões). A avaliação da campanha é de que Janones consegue engajar o discurso principalmente no Facebook, onde os petistas acreditam que o público está mais suscetível aos conteúdos falsos.
Recentemente, Janones publicou uma imagem de Lula com a legenda: “Bolsonaro usa Deus. Deus usa Lula!”, que rapidamente passou a ser compartilhada por outros membros da campanha petista. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, compartilhou a publicação: “Bora lá, Janones. É com verdade e amor que vamos vencer essa eleição”, escreveu.
Paralelamente, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, um dos interlocutores lulistas junto aos evangélicos, realizou no último domingo (21), um encontro com pastores para desmentir boatos contra o petista. No evento, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa de Lula, agradeceu às igrejas evangélicas “pelo trabalho belíssimo de evangelização, e pelo trabalho social cuidando das famílias e dos mais necessitados”.
Campanha cita temas bíblicos para tratar de pautas como violência, fome e desemprego
Reservadamente, líderes petistas explicam que a campanha adotará uma linguagem bíblica para chegar mais facilmente ao eleitorado evangélico por meio das redes sociais. Nessa estratégia, os sites criados pela campanha de Lula já funcionam como esse novo discurso. Ao abordar o tema sobre violência, a publicação usa uma passagem bíblica como forma de se contrapor à liberação da posse e porte de armas.
“Ouviu-se um som em Ramá, um som de choro amargo. Era Raquel chorando por seus filhos; ela não quer ser consolada, pois todos estão mortos.” Jeremias 31:15. Na sequência, a publicação afirma que: "Todos os dias choramos a morte dos nossos filhos; jovens que têm suas vidas ceifadas pela violência. Não podemos aceitar o discurso mentiroso daqueles que, dizendo querer defender a vida, colocam mais armas nas ruas e cooperam com um plano diabólico que tem assassinado nossas crianças e jovens. Queremos nossos filhos vivos!".
De acordo com integrantes da campanha, esse tipo de linguagem consegue atingir diretamente o eleitor evangélico.
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
O Datafolha entrevistou 5.744 eleitores entre os dias 16 e 18 de agosto em 281 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-09404/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 27 e 28 de julho em 183 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no TSE com o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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