Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se elegeu presidente do Brasil pela terceira vez neste domingo (30). Com 100% das urnas apuradas, o petista teve 50,90% dos votos válidos no segundo turno das eleições de 2022. Isso significa 60,34 milhões de votos. O presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou com 49,10% – ou 58,20 milhões de votos. A diferença entre Lula e Bolsonaro foi de apenas 1,80% – a menor já registrada nas eleições presidenciais. Além disso, desde que o país passou a ter a possibilidade de reeleição, em 1998, é a primeira vez que um presidente no exercício do mandato não vence a eleição que disputa.
Dos eleitores que compareceram às urnas neste domingo, 3,16% (3,9 milhões) anularam o voto e 1,43% (1,7 milhão) votaram em branco.
Eleição de Lula marca volta da esquerda ao poder
Aos 77 anos de idade, Lula vai comandar o país pela terceira vez a partir de 1.º de janeiro de 2023. Ele já havia sido presidente por dois mandatos sucessivos entre 2003 e 2010. Os mandatos foram marcados por esquemas de corrupção.
A eleição de Lula marca a volta da esquerda ao poder. O PT não comandava o país desde que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment, em 2016. O resultado de 2022 também é uma reviravolta pessoal do petista, que havia sido condenado e preso por corrupção em processos decorrentes da Operação Lava Jato. Por isso, ele não pôde disputar a eleição de 2018 devido às restrições da Lei da Ficha Limpa. Lula conseguiu anular suas condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e recuperou o direito de participar de eleições.
Como foi a campanha de Lula
A eleição presidencial de 2022 foi uma das mais disputadas desde a redemocratização do país, nos anos 1980. No primeiro turno, Lula já havia vencido com uma margem estreita de votos: recebeu 48,43% contra 43,20% de Bolsonaro.
A polarização de Lula com Bolsonaro marcou todo o processo eleitoral, da pré-campanha à campanha. O petista buscou explorar a insatisfação de parte do eleitorado com Bolsonaro – especialmente na economia. Lula apostou na estratégia de passar a imagem de que nos seus governos a população tinha uma vida melhor do que agora. Também prometeu "reconstruir" o país com foco nos mais pobres e no direito dos trabalhadores ao sinalizar que pretende promover mudanças na reforma trabalhista aprovada pelo governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
O PT apostou em críticas a outras políticas do atual governo e ao comportamento do presidente em relação, por exemplo, a mulheres e minorias. Além disso, a campanha petista explorou polêmicas de Bolsonaro no segundo turno, como declarações do presidente de que Lula venceu no primeiro turno no Nordeste por causa do analfabetismo na região e de que havia "pintado um clima" em um encontro dele com refugiadas venezuelanas.
Com o apoio formal de 10 partidos, a candidatura de Lula também foi marcada pela tentativa de ampliar sua base eleitoral para fora da esquerda. Com a formação de chapa com um antigo adversário, o ex-tucano e ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), o petista fez acenos ao eleitor de centro e ao empresariado.
O resultado apertado do primeiro turno levou Lula a ampliar as alianças fazendo concessões para fora do campo da esquerda. Terceira colocada no primeiro turno, a senadora Simone Tebet (MDB) assumiu a articulação da campanha junto ao setor empresarial e atuou nos estados do Sudeste para ampliar o apoio à candidatura do petista.
Para tentar conter as críticas do mercado financeiro a propostas como a de acabar com o teto de gastos, aliados de Lula chegaram a sinalizar que todas as mudanças serão negociadas com empresários, trabalhadores e governo. Além disso, o petista afirmou que pretende promover reformas tributária e administrativa.
Durante a campanha, Lula indicou que não pretende rever privatizações já feitas – embora anteriormente tenha afirmado que iria fazer isso. Ainda assim, ele disse que não irá privatizar estatais como Petrobras e Correios. "Não falo em rever privatizações, minha missão é reduzir a miséria. Preciso ganhar a eleição antes e tomar pé da situação", disse o petista durante entrevista à CNN Brasil.
Lula também foi criticado durante a disputa sobre os diversos escândalos de corrupção nos governos do PT, especialmente por Jair Bolsonaro. O petista, no entanto, reiterou a narrativa de que ele foi "inocentado" das acusações da Lava Jato – na verdade, ele não foi declarado inocente; seus processos apenas foram anulados e retornaram para a primeira instância judicial. Lula também afirmou que os desvios só foram apurados porque, à época, as gestões do PT criaram estruturas de investigação e não protegeram ninguém.
Da eleição de 2002 até os processos da Lava Jatos
Líder sindical no ABC paulista e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula chegou à Presidência da República em 2002 com 61,27% dos votos no segundo turno – o que foi a maior votação percentual da história do Brasil até hoje.
Ainda durante o primeiro mandato, em 2005, o governo dele foi atingido pelo escândalo de corrupção conhecido como mensalão (a compra de apoio no Congresso). Diversos integrantes do PT e do governo posteriormente foram processados, condenados e presos por causa do mensalão. Lula não foi réu e declarou que não sabia de nada.
Apesar do escândalo, em 2006 o petista se reelegeu para um segundo mandato. Naquela disputa, o principal candidato de oposição foi Geraldo Alckmin, então no PSDB, que atualmente é vice de Lula depois de se filiar ao PSB. Na ocasião, o então tucano acusou Lula de ser “chefe de quadrilha”, em referência ao mensalão. “Que tempos são esses em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos que tem na lista ministros, auxiliares e amigos do presidente?”, questionou durante um comício em Minas Gerais.
Lula deixou o Palácio do Planalto em 2010 com mais de 80% de aprovação e depois de eleger a sua sucessora Dilma Rousseff. Durante o primeiro mandato de Dilma, Lula manteve sua influência no governo ao mesmo tempo em que dava palestras pagas por empreiteiras como Odebrecht e OAS – que viriam a se envolver nos escândalos de corrupção investigados pela Lava Jato, a partir de 2014.
Embora a Lava Jato tenha começado ainda no primeiro mandato de Dilma, foi apenas no segundo que Lula teve seu nome envolvido nas investigações. Em 2016, quando o processo de impeachment da petista já estava em andamento pelo Congresso Nacional, a então presidente chegou a nomear Lula como ministro da Casa Civil em uma manobra que foi vista como uma tentativa de frear as investigações da força-tarefa de Curitiba. Como ministro, Lula ganharia foro privilegiado no STF e não poderia ser investigado pela Lava Jato do Paraná.
Àquela altura, Lula já havia sido alvo de um mandato de condução coercitiva pelo então juiz da Lava Jato Sergio Moro. No mesmo dia em que ex-presidente foi indicado para ministro de Dilma, Moro divulgou a gravação de uma ligação entre Lula e a presidente em que eles falam em usar o termo de posse como ministro "em caso de necessidade".
Após a divulgação do áudio, o ministro do STF Gilmar Mendes, que à época apoiava a Lava Jato, barrou a nomeação de Lula como ministro de Dilma, ele não ganhou foro privilegiado e continuou a ser investigado em Curitiba.
Em 2018, Lula tentou concorrer à Presidência preso
Em 2017, Moro condenou Lula a nove anos de prisão no caso do tríplex do Guarujá. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4) referendou a decisão em janeiro do ano seguinte e aumentou a pena para 12 anos de prisão. Com uma condenação em segunda instância, ele se tornou inelegível e seria preso (à época, condenados em segunda instância podiam ser encarcerados, o que viria a ser revisto posteriormente pelo STF).
O petista recorreu da decisão do TRF4 ao STF para não ser preso. Mas acabou tendo o pedido de habeas corpus negado. Lula foi preso no dia 7 de abril de 2018 e levado para a carceragem da Polícia Federal (PF) de Curitiba.
Apesar de estar preso e inelegível, Lula anunciou que seria candidato a presidente em 2018. Mas o TSE barrou sua candidatura. E então o PT anunciou que o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad substituiria Lula na urna. Haddad chegou a ir para o segundo turno contra Bolsonaro. Mas perdeu.
Da carceragem da PF para o Palácio do Planalto
Em 2019, o STF reviu o entendimento sobre a prisão em segunda instância. Os ministros do Supremo entenderam que só condenados de forma definitiva em todas as instância judiciais, com o trânsito em julgado, poderiam ser encarcerados. Com base nessa decisão, Lula deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba em 8 de novembro de 2019, após ficar 580 dias preso.
Mas ele ainda estava inelegível, pois ainda tinha condenação em segunda instância. Já em abril de 2021, o plenário do STF formou maioria para decidir que o Sergio Moro havia atuado de forma parcial nos processos envolvendo o ex-presidente. Os processos foram anulados. Com isso, Lula restabeleceu o direito a ser candidato. Com os direitos políticos recuperados, Lula passou a preparar sua campanha para voltar ao Palácio do Planalto.
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