Os movimentos de rua acreditam que as manifestações convocadas para a próxima quarta-feira, 7 de setembro, serão as maiores da história do país. Em pauta, a celebração do Bicentenário da Independência do Brasil, e a defesa das liberdades e de eleições transparentes. Os organizadores também admitem que os atos de 7 de setembro serão um ato de apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página República de Curitiba na internet, assegura, porém, que os movimentos estão atentos para não tornar as manifestações em um ato de campanha. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre a agenda de Bolsonaro nos atos, a respeito da preocupação dos organizadores com a segurança, e rechaça as acusações feitas por críticos que chamam as manifestações de atos antidemocráticos.
Há algumas semanas no Brasil, o empresário, que mora nos Estados Unidos, articula com organizadores de todo o país os atos para o aniversário de 200 anos da independência. Segundo ele, há um esforço por trás do trabalho voluntário. "Eu procuro me redimir. Eu sou avô já, e a minha geração deveria ter entregue um país muito melhor para os nossos filhos e nossos jovens, e não entregou. Então, uma forma de nos redimir é fazendo esse trabalho de resgate dos nossos valores, da nossa liberdade, da nossa democracia", diz.
O empresário rejeita ser associado como um dos principais coordenadores das manifestações e se diz como um dos "milhares de brasileiros patriotas anônimos que têm ido às ruas" pelo país. "Nossas ruas não têm dono, é uma nação, um povo lutando pela liberdade, pela democracia, e por um país melhor e mais justo. E apoiando o nosso governo, que está no caminho certo", afirma Generoso.
Confira a entrevista completa abaixo:
Quais são as pautas das manifestações de 7 de setembro?
Paulo Generoso: Em primeiro lugar, o desejo de celebrar e fazer uma grande festa democrática pelos 200 anos da Independência. Neste bicentenário, continuamos lutando por nossa liberdade, outra pauta. Também defenderemos a defesa das instituições, da nossa democracia e de eleições transparentes, que não é pauta de direita, nem de esquerda, acho que é de interesse de todo eleitor brasileiro que as eleições sejam transparentes.
O que os brasileiros que forem às ruas podem esperar?
Como todas as manifestações democráticas de verde e amarelo até agora, será uma manifestação para toda a família. Podem ir pessoas idosas, podem levar crianças. Está todo mundo animado em fazer uma manifestação patriótica, democrática, pacífica e ordeira em celebração aos 200 anos da Independência do Brasil neste 7 de setembro. Então, podem reunir a família, vestir sua camisa verde e amarela, pegar sua bandeira do Brasil, essa bandeira linda, verde, amarela, azul e branca, e ir para as ruas em todo o país.
O apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro será um tema a ser defendido nos atos?
Com certeza! Eu acredito que fica difícil desassociar essas manifestações democráticas dos últimos anos, principalmente portando nossa bandeira verde e amarela, do apoio ao governo e à reeleição do presidente. Por coincidência, neste 7 de setembro estaremos no mês de uma campanha presidencial e demonstrando toda nossa preocupação com o futuro do nosso país. Com certeza, estaremos apoiando, sim, o presidente Jair Messias Bolsonaro, e muitos discursos e palestrantes defenderão o voto nele.
A operação contra empresários ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes estimula mais pessoas a irem às ruas?
Com certeza, muita gente está muito mais motivada ainda e pensando em levar muito mais pessoas e se mobilizando mais ainda por conta disso. Se a gente não lutar por nossa liberdade hoje, estaremos lutando nas ruas por um prato de comida depois. Não abrimos mão da nossa liberdade, este é um dos motivos da nossa pauta de estar nas ruas neste 7 de setembro.
A decisão que embasou a operação é avaliada por alguns juristas como inconstitucional. O senhor entende que foi uma medida abusiva e que os manifestantes também irão às ruas protestar com essa percepção?
Sim, e inclusive tem um vídeo do [ex-procurador da Lava Jato] Deltan Dallagnol e da procuradora Thaméa Danelon que colocam 12 pontos de ilegalidades nesse inquérito contra os empresários. É típico de Cortes aparelhadas, como na Venezuela e em Cuba, e não de uma democracia, como nós vivemos. Pela primeira vez, além de dividir o STF, vimos muitos veículos de imprensa condenando essa atitude do Alexandre de Moraes. Acho que já é um começo e o Brasil começa a perceber o abuso do Judiciário através do Alexandre de Moraes, que está chegando em um ponto exorbitante e inaceitável.
Empresários investigados pela decisão de Moraes estão convidados a fazer uso da palavra nas cidades onde haverá atos?
Os empresários investigados no inquérito ilegal do Alexandre de Moraes são muito bem vindos e, com certeza, estão convidados a subirem em qualquer trio, a qualquer momento. São patriotas, nos orgulhamos deles, são pessoas honestas e decentes que geram emprego em um país difícil para o empreendedor até os dias de hoje, que está melhorando muito com o presidente Bolsonaro. Com certeza serão muito bem vindos e recebidos como heróis em qualquer manifestação no 7 de setembro.
Existe algum monitoramento sobre o engajamento da população nas manifestações?
Sim, há um monitoramento em grupos de WhatsApp, onde viraliza muita coisa, até algumas coisas mais do que em plataformas como Facebook e Instagram, e também nas redes sociais. A gente percebe uma movimentação grande. Principalmente o pessoal “lavajatista”, e muita gente que estava até desmotivada com a campanha e a reeleição do presidente está voltando a apoiar Bolsonaro e se mobilizando para o 7 de setembro com o receio, realmente, de que a esquerda volte e a gente tenha um Judiciário cada vez mais aparelhado. É o que a gente está percebendo nesse movimento com os contatos feitos.
Como será a participação do presidente no dia 7 de setembro?
O presidente vai estar em Brasília, às 9 horas, na parada militar. Pela primeira vez, inclusive, haverá 28 tratores juntos participando do desfile militar, sendo cada um dos 27 com uma bandeira de um estado, e um liderando na frente. É uma deferência e uma honra, a convite do presidente, ao agro, que tem sido fundamental não só para o Brasil, mas para o mundo. É uma forma de honrar o nosso agro que tem feito um excelente trabalho sempre, não é de hoje, apesar do candidato do PT chamar de fascista e não gostar do agro, o agro tem sido honrado pelo presidente e sido motivo de orgulho para nós.
E depois do desfile cívico-militar em Brasília?
Depois da parada, temos a manifestação. O pessoal do agro está colocando um trio na Esplanada. O presidente vai passar lá, está convidado para passar no nosso trio, a Esplanada estará lotada. Depois de Brasília, ele irá ao Rio de Janeiro, onde haverá um grande movimento também em Copacabana, com a Esquadrilha da Fumaça, mais Marinha e a Aeronáutica. De lá, vai falar com o pessoal que estiver na [Avenida] Paulista por uma ligação.
Vai ser um vídeo gravado previamente ou uma ligação ao vivo feita no Rio de Janeiro?
Será uma ligação ao vivo no Rio de Janeiro transmitida na Paulista.
Será transmitida só a voz ou terá imagem do presidente também?
Olha, é possível ter imagem, só que a gente sempre tem problema na Paulista com a questão de sinal, até pela quantidade de pessoas lá. Não dá para garantir que terá imagem também, mas a ligação dele ou uma fala para o pessoal da Paulista é certa.
Essa transmissão será feita em um telão ou na caixa de som dos trios?
Nos dois modelos. A gente vai passar em um telão e na caixa de som também nos trios.
A ida do presidente ao Rio de Janeiro não desestimula os participantes do ato na Paulista?
Com tudo o que vem acontecendo, os 200 anos da Independência, todos os problemas que temos enfrentado para garantir a nossa liberdade nas ruas, mais esse ato do Alexandre de Moraes contra os empresários “bolsonaristas” sem prova nenhuma, mais a campanha pela reeleição do presidente, o que está em jogo é o futuro do nosso país, das nossas crianças, do nosso povo, da nossa nação. E o povo está consciente disso, então, não vai desanimar. Vamos lotar a Paulista, as ruas de Copacabana e a Esplanada [dos Ministérios], em Brasília.
Os organizadores preveem atos em quantos municípios?
Temos confirmadas manifestações em mais de 300 cidades no Brasil. Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro serão, com certeza, as maiores, mas teremos atos também em Belo Horizonte, Recife, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, que sempre faz uma bela manifestação, Florianópolis... Não tenho a menor dúvida de que o Brasil inteiro fará uma das maiores manifestações patrióticas e democráticas da história do país.
Haverá manifestações em todas as capitais?
Com certeza, todas as capitais farão grandes eventos neste 7 de setembro.
Há preocupação dos organizadores com relação a segurança?
A gente sempre tem preocupação com a segurança do evento em si. Não nos preocupamos com quem participa do evento de forma democrática e ordeira. Nunca tivemos problemas com o pessoal de direita. Mas, especificamente nesta data, a preocupação é maior. Inclusive, passei para os órgãos de inteligência [o nome de] um jornalista, não lembro o nome agora, escrevendo uma matéria sugerindo que surja neste 7 de setembro mais um mártir como foi, segundo ele, o Adélio [Bispo, que atentou contra a vida de Jair Bolsonaro em 2018].
Por isso, a gente tem a preocupação com a segurança, sim, trabalhamos muito próximos com as secretarias de segurança de cada estado para que a gente não tenha problema nenhum. Mas, realmente, até por ser em período de campanha, a gente tem uma preocupação um pouquinho mais elevada com a segurança.
Qual tem sido o seu papel ao longo dessas últimas semanas na coordenação dos atos?
Olha, eu costumo dizer que as ruas não têm dono. E quem tentou se apoderar das ruas argumentando que era dono delas já quebrou a cara. Apesar de ajudar a organizar vários atos, principalmente em Curitiba, São Paulo e Brasília, sou mais um de tantos voluntários e patriotas que fazem isso de forma realmente voluntária.
Como começou sua trajetória junto aos movimentos de rua?
Sempre acompanhei muito de perto a política e meu primeiro voto foi no PT, no Olívio Dutra, em 1988, em Porto Alegre [eleição municipal], na época que a gente ia para as ruas com a bandeira de um partido de graça, acreditando, realmente, que estava lutando por um país melhor, até ser enganado. Mas meu maior engajamento político surgiu em 2016, quando o ex-presidiário Lula falou que estava assustado com a “República de Curitiba”.
Então, eu criei a página República de Curitiba. E teve um crescimento gigante. A gente tem quase 2 milhões de seguidores. Depois fomos uma das grandes e primeiras páginas a apoiar a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, e continuamos trabalhando e apoiando o governo. Estou aí desde a época do impeachment da [ex-presidente] Dilma [Rousseff], passando pelo [ex-presidente Michel] Temer, e pela reeleição do presidente. Procuro contribuir e fazer minha parte para construir um país melhor.
O que o senhor diria aos críticos que acusam essas manifestações de serem antidemocráticas?
Em primeiro lugar, acho que somos uma nação, somos um povo, nos consideramos todos irmãos. E quando a gente vê uma senhora de 80 anos de idade, uma criança, um pai, ou uma família inteira caminhando com uma bandeira do Brasil nas ruas de São Paulo, em Brasília, em Curitiba, enfim, em tantas cidades, saindo e ficando horas em uma manifestação de graça, pagando e gastando para estar lá, e a gente vê isso sendo chamado de manifestação antidemocrática, de um ato violento ou de um atentado à ordem jurídica do país, é um absurdo.
Só nos motiva mais ainda a estar nas ruas de forma pacífica, ordeira e lutando agora pela nossa democracia e liberdade para que a gente não tenha que ser escravizado depois. A gente está consciente de que temos um trabalho e uma missão de continuar lutando pela nossa liberdade. Percebemos um agrupamento de todos contra o presidente e o nosso governo, que teve mais de 57 milhões de votos na última eleição. A imprensa e a esquerda nunca aceitaram a vitória do presidente, e me parece que uma ala do Judiciário também não.
Como vocês atuam para evitar tons ou palavras que possam sugerir algo que os movimentos não defendam?
Existe uma comunicação constante e a internet nos possibilita isso. E desde 2018, se tu lembrar, tinha movimento pedindo intervenção militar e fazendo campanha pelo presidente ao mesmo tempo. É algo que não combina, e a gente combateu isso desde o início, não fazia o menor sentido. A gente vem tentando conscientizar também uma ala da direita de que a gente precisa lutar pela democracia dentro das leis, sem contrariar e combater as instituições, a despeito da atitude de alguns ministros e de algumas pessoas que tentam usurpar da sua função e estão exagerando na dose.
A gente tenta conscientizar no sentido de que votamos errado durante 30 anos e a gente precisa de alguns anos votando certo, da forma correta, para corrigir o que fez. Sempre culpamos a imprensa, o STF, o PT, e a gente nunca assume nossa parcela de culpa. Então, temos tentado fazer um trabalho nesse sentido de que votamos errado e em pessoas erradas durante 30 anos e não dá para querer que, no primeiro ano, o presidente Bolsonaro chegue lá e resolva todas as coisas.
Se a gente não tiver paciência, estratégia e sabedoria neste momento para continuar trabalhando pelo nosso país, a gente acaba se decepcionando muito fácil. Temos, sim, essa interação constante no sentido de pacificar e fazer com paciência essa transformação que o Brasil precisa rumo a uma democracia sólida, com instituições sérias e pessoas sérias também.
Ou seja, os organizadores não apoiam qualquer manifestação de pessoas que venham a defender um golpe de Estado?
De forma alguma, não vejo nem do presidente, nem de nenhum organizador, muito pelo contrário. O nosso objetivo é trabalhar pela democracia, e quando falamos em democracia, a gente pensa em instituições fortes, pois as pessoas passam. Bolsonaro passa, eu passo, qualquer líder e ministro do STF passa. As instituições permanecem. Então, o nosso objetivo é respeitar todas as instituições, o Legislativo, Executivo e Judiciário, e principalmente, a nossa Constituição. O que a gente quer é que todos os agentes de qualquer um desses três poderes respeitem a Constituição.
Não tem golpe nenhum, nunca fomos para a rua pedindo golpe e a maioria tem uma parcela que, até por talvez desconhecer algumas regras, algumas leis e a própria instituição, talvez possa pedir, mas é a minoria da minoria. A maioria das pessoas que irão às ruas são moderadas e procuram trabalhar por um país com democracia sólida, por nossa liberdade e pelo nosso governo.
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