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Sergio Moro
Sergio Moro discursa na filiação ao Podemos: imagem sisuda adquirida nos tempos de juiz não atrai o eleitor| Foto: Sergio Lima/Podemos

Desde que o ex-juiz Sergio Moro filiou-se ao Podemos e lançou sua pré-candidatura à Presidência, em novembro do ano passado, seu entorno alimentava a expectativa de que as intenções de voto nele cresceriam no início de 2022 para se consolidar como o concorrente mais forte da chamada terceira via – grupo de pré-candidatos que aposta suas fichas no eleitor que rejeita votar no presidente Jair Bolsonaro (PL) e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Passados três meses, no entanto, Moro praticamente não saiu do lugar na preferência do eleitorado e empata com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).

As três pesquisas mais recentes mostram a estagnação de Moro. Segundo o Ipespe, o ex-juiz tinha 11% das intenções de voto em novembro e, em fevereiro, marcou 8% – como a margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou menos, a variação possível de lá para cá indica que ele ficou estacionado, apesar da oscilação negativa.

Já a Quaest verificou trajetória semelhante: 8% das intenções de voto em novembro, variação para 10% em dezembro, 9% em janeiro, e em fevereiro, 8% – aqui, a margem de erro é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

O PoderData tem dados semelhantes: em dezembro, Moro tinha 7% das intenções de voto, e agora, em fevereiro, 9% – uma oscilação dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais.

Para entender as razões pelas quais a candidatura de Moro não decolou, a reportagem ouviu analistas e políticos que observam de perto sua campanha – alguns preferiram opinar sob reserva. Abaixo, estão os três principais fatores apontados.

1. Dificuldade em fazer alianças

Até o momento, Moro tem apenas o Podemos, um partido ainda pequeno, para o desafio de uma campanha nacional. A sigla tem 9 senadores, 11 deputados federais e 24 deputados estaduais, oriundos de 22 unidades da federação, e nenhum governador em exercício.

Nem todos, porém, devem fazer campanha para o ex-juiz. O senador José Medeiros (MT) e o deputado federal Diego Garcia (PR), por exemplo, apoiam Bolsonaro e podem deixar o partido. O mesmo pode ocorrer com o deputado federal Bacelar (BA), que apoia Lula.

Se Moro não conseguir apoio de mais nenhum outro partido, o Podemos calcula que terá cerca de 20 segundos na propaganda eleitoral na TV e R$ 169 milhões do fundo eleitoral (valor que terá de ser dividido por todos os candidatos da legenda a todos os cargos em disputa).

Desde janeiro, políticos simpáticos a Moro tentaram uma aliança com o União Brasil, partido que resultou da fusão entre PSL e DEM e que se tornou a maior legenda do país dentro da Câmara. Uma ideia era filiar Moro à nova sigla, lançando o deputado Luciano Bivar, ex-presidente do PSL, como candidato a vice-presidente.

Mas as conversas não avançaram, em parte porque muitos políticos do DEM rejeitam Moro e também porque alguns de seus aliados defenderam que Renata Abreu, a presidente do Podemos, ficasse com a vaga da vice. Hoje, o apoio do União Brasil a Moro é improvável e o partido já cogita apoiar Simone Tebet (MDB) para a Presidência.

Outra possibilidade de aliança do Podemos surgiu com o Cidadania (antigo PPS), na forma de uma federação, que obriga os partidos a atuarem juntos por quatro anos em âmbito nacional. O Cidadania, porém, também estuda a possibilidade de fechar com o PSDB de João Doria, governador de São Paulo e também pré-candidato à Presidência.

Para parte do mundo político avesso a Lula e Bolsonaro, Moro não conseguiu criar o que se chama de “expectativa de poder” – isto é, não conseguiu ainda demonstrar que é competitivo a ponto de se eleger, o que atrairia o apoio de partidos interessados em dividir o governo.

2. Ataques de todos os lados

Um fator de desgaste apontado por aliados, e que tende a permanecer, são os ataques a Moro, tanto por parte de apoiadores de Bolsonaro, que o tacham de “traidor”, quanto por parte de eleitores de Lula, que o acusam de ser parcial e de ter agido politicamente como juiz.

Até o momento, Moro tem rebatido os dois, e com palavras duras: diz que quem traiu o eleitorado foi Bolsonaro, ao colaborar para o fim da Lava Jato, aliando-se ao Centrão; e que Lula nunca foi declarado inocente, acrescentando que foi um erro do Supremo Tribunal Federal (STF) a anulação de suas condenações por corrupção.

Para o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), um dos maiores aliados de Moro, os ataques centrados sobretudo contra o ex-juiz revelam que ele pode crescer. “Por que ataques da esquerda, direita e centro? Por que será? Será apenas vingança, porque como juiz alcançou a muitos na política? Ou seria receio de seu crescimento?”, questiona o senador paranaense.

A rejeição a Moro, no entanto, tem variado para cima, ainda que dentro da margem de erro. O Ipespe registrou que, em novembro, 50% dos entrevistados disseram que não votariam em Moro de jeito nenhum. Na última pesquisa de fevereiro, o índice passou para 55%. Na pesquisa da Quaest, em novembro, 59% responderam que conheciam o ex-juiz e não votariam nele; no início de fevereiro, 62% disseram o mesmo.

O analista político e estrategista de campanhas Alberto Carlos Almeida observa um dado interessante na série histórica da Quaest: os índices de rejeição de Moro (62%) e Bolsonaro (66%) caminham juntos ao longo do tempo, com linhas quase paralelas, sempre próximas e dentro da margem de erro, sendo a de Lula (43%) cerca de 20 pontos percentuais menor.

Em um relatório recente para clientes, Almeida disse: “Em fevereiro de 2020, a esposa de Sergio Moro, Rosângela, dissera: ‘Moro e Bolsonaro, vejo uma coisa só’. Inadvertidamente ela acabou por prever esta similitude na rejeição de ambos. Na realidade, a sua visão acerca dos dois estava inteiramente correta. O seu esposo foi considerado um dos superministros de Bolsonaro (Paulo Guedes era o outro) e esteve constantemente ao lado do presidente como principal símbolo de lei e ordem, combate à corrupção e à criminalidade. Isso ficou impresso na visão dos eleitores. A inércia da opinião pública é muito grande. O provável é que, na rejeição, eles permaneçam sendo ‘uma coisa só’.”

Não bastasse isso até a Polícia Federal, antiga aliada da Operação Lava Jato e ex-subordinada nos tempos de ministro da Justiça, se insurgiu contra o pré-candidato. Em uma dura nota divulgada na última terça-feira (15), a PF afirmou que Moro "mente" ao dizer que há um enfraquecimento nas investigações de corrupção e que a corporação "não deve ser usada como trampolim para projetos eleitorais". O "fogo amigo" pegou Moro de surpresa, que chamou a comunicação da PF de "inapropriado".

Polêmicas à parte, aliados dizem que Moro deve focar os contra-ataques em Lula, uma vez que parte de seus votos pode vir dos eleitores de Bolsonaro que se decepcionaram ou ainda podem se frustrar com o atual presidente.

3. Moro não é governo nem oposição

Alberto Carlos Almeida ainda chama a atenção para outros dois dados das pesquisas, diretamente relacionados a Bolsonaro, que, em sua visão, dificultam a decolagem de Moro.

O primeiro deles diz respeito à avaliação do governo. Ele observa que, entre os eleitores que consideram o governo ótimo e bom, a grande maioria vota em Bolsonaro. Já entre os que consideram o governo ruim ou péssimo, a maioria vota em Lula. Nos dois grupos, Moro tem pontuação baixa. Para o analista político, significa que Moro não é visto nem como candidato da situação, nem como o candidato de oposição.

“Sergio Moro é um candidato ‘nem nem’, nem governo, nem oposição. Bolsonaro se consolidou como candidato de governo e Lula como candidato de oposição. Não há votos para que um candidato de terceira via cresça. Candidatos de terceira via acabam atacando o governo e a oposição. Na medida em que fazem isso, eles consolidam a antipatia de quem vota em Bolsonaro e em Lula, dificultando a migração destes votos para sua candidatura”, diz Almeida em sua análise.

Ele também chama a atenção para outro dado sobre Moro: suas intenções de voto vêm caindo desde que deixou o governo Bolsonaro. Segundo o Ipespe, em abril de 2020, quando pediu demissão, ele tinha 18% das intenções de voto. Em junho do ano passado, quando foi julgado suspeito pelo STF, o índice chegou a 7%.

Só nos últimos meses, quando passou a fazer a pré-campanha, recuperou parte das intenções, até os 8% atuais. “Sua candidatura é menos uma onda e mais uma maré. Era maré alta no governo Bolsonaro e baixou depois que saiu”, diz o analista.

Para aliados, candidatura de Moro vai crescer

Aliados de Moro consideram que, apesar de se manter no mesmo patamar desde novembro, a candidatura ao Planalto vai crescer – embora não haja certeza a partir de quando exatamente.

“Não cresceu porque ainda não teve campanha. A maioria dos eleitores não sabe quem são os candidatos. Enquanto não tivermos campanha mesmo, e isso só ocorrerá em agosto, é impossível alguém chegar a um crescimento significativo. Até lá, vamos ficar com duas candidaturas conhecidas, de um que já foi e outro que é presidente”, diz o senador Alvaro Dias.

Ele critica o fato de que a maior parte dos ataques seja direcionada a Moro, como se os outros pré-candidatos não tivessem problemas.

“Na realidade, ninguém fechou aliança até o momento. Não tem nem três meses que ele se lançou e chegou em torno de 10%. Há candidatos que estão na política há décadas, e não estão nem perto dele. O destaque é ele ter largado na frente dos outros e ter passado a compor esse tripé de protagonistas”, emenda o senador, em referência a Lula e Bolsonaro.

Avaliação semelhante faz o deputado federal Roberto de Lucena (Podemos-SP). Para ele, a campanha tem etapas e a primeira de Moro foi apresentar-se como pré-candidato. Um passo importante, segundo ele, ocorreu no início deste mês, quando Moro se apresentou como um conservador ao divulgar uma carta de princípios aos cristãos.

“Isso vai certamente vai acalmar algumas pessoas que estavam ansiosas, que queriam ouvir ele sobre esses assuntos. A campanha está cadenciada e acho que está em tempo de experimentar crescimento de maneira consistente. Até agora, foi apenas aquela volta que o carro dá na pista para conhecer melhor o caminho”, diz o parlamentar.

Mesmo entre aliados, dois fatores ainda precisam ser ajustados. O primeiro é a imagem austera que Moro ainda tem, por seu passado como juiz, e que precisa suavizar. Outro é o momento da apresentação de seu programa de governo. Apesar da curiosidade sobre o que exatamente vai propor na economia, principalmente, há quem considere que o ideal é adiar ao máximo a exposição dos detalhes, para evitar mais ataques e que outros copiem suas ideias.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

A pesquisa do Ipespe citada nesta reportagem entrevistou, por telefone, mil eleitores de todas as regiões do país entre os dias 7 e 9 de fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95,5%. A pesquisa foi contratada pela XP Investimentos e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03828/2022.

A pesquisa do Instituto Quaest entrevistou presencialmente 2 mil eleitores brasileiros entre os dias 3 e 6 de fevereiro de 2022. O nível de confiança estimado da pesquisa é de 95% e a margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos em relação aos totais da amostra. O levantamento foi contratado pelo Banco Genial e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-08857/2022.

A pesquisa PoderData, empresa do grupo Poder360 Jornalismo, foi realizada com recursos próprios. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06942/2022. Os dados foram coletados entre os dias 13 e 15 de fevereiro de 2022, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram feitas 3.000 entrevistas em 243 municípios nas 27 unidades da federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

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