O ex-juiz Sergio Moro reafirmou neste sábado (9) estar “à disposição” para ser o candidato à Presidência da República da chamada “terceira via” – de partidos que rejeitam o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas fez um apelo para que a sociedade civil e o setor privado se mobilizem, caso queiram um presidenciável de “centro”.
“Não é só o mundo político. É importante que a sociedade civil e o setor privado brasileiro se posicionem e digam o que esperam para o futuro do país. Há realmente um desejo de se ter uma via democrática, contra esses dois extremos? Se há isso, as pessoas precisam se erguer e se manifestar. Porque o que mais ouvi durante esses meses, muitas vezes era: ‘Precisamos de uma terceira via’ e um tapinha nas costas”, disse, durante a Brazil Conference, evento de sabatinas e palestras realizado em Boston, por estudantes da Universidade de Harvard.
“Ou seja, se a sociedade, se o setor privado, se as pessoas não se mobilizarem para se ter um candidato de centro, que possa vencer os extremos, nós não teremos. E teremos mais quatro anos, infelizmente e aqui espero estar errado, mas se tiver mais quatro anos com alguns desses extremos, são mais quatro anos perdidos e de progressiva degeneração institucional. Então, é aquele momento em que brasileiros têm que se levantar e discutir que país que eles querem para o futuro”, completou em seguida.
Antes, Moro disse que quem decidirá sobre candidatura é a União Brasil, “especialmente o presidente Luciano Bivar, que tem sido o principal agente na formação desse centro democrático”. Repetiu que sua atitude, de suspender sua candidatura, ao ingressar no partido, mostra seu “desprendimento”.
“Agora, é especialmente importante que o candidato do centro seja um candidato competitivo. O que nós tínhamos visto e estávamos vendo nas pesquisas é que meu nome estava lá em terceiro lugar, depois de Lula e de Bolsonaro. Então, acho que na formação desse centro democrático, eu tenho uma participação importante”, afirmou.
‘Autossacrifícios’ para aprovar reformas
Na sabatina, Moro foi questionado sobre como pretende formar maioria no Congresso, dado o passado de dificuldades para aprovar suas propostas junto aos parlamentares e de atritos com o presidente Jair Bolsonaro quando foi ministro da Justiça.
Moro disse acreditar que, no início do mandato, poderá aprovar com facilidade o fim da reeleição e do foro privilegiado para o presidente da República. Com essa demonstração de “autossacrifício”, poderia ganhar apoio para as reformas administrativa e tributária.
“O que nós estamos em falta hoje no Brasil é um pouco daquele espírito público de liderança de a pessoa mostrar que está disposta a enfrentar interesses especiais. E uma forma de demonstrar isso é fazer autossacrifícios. Então quando digo que é importante acabar com a reeleição para o presidente da República, é que o presidente acaba sinalizando para a população e mesmo para o mundo político que ele está disposto a fazer sacrifícios”, disse.
“Quando encaminha projeto de emenda constitucional, acabando com o foro privilegiado para todo mundo, inclusive para o presidente da República, é a mesma sinalização. E aí quando você vai fazer uma reforma administrativa, quando vai fazer uma reforma tributária, que envolvem também perdas e ganhos a depender dos grupos envolvidos, você tem a legitimidade pra destacar olha: eu fiz alguns sacrifícios, a classe política cortou alguns de seus direitos e interesses.”
STF, educação e segurança
Indagado sobre o STF, Moro repetiu que respeita a instituição e que não vai incentivar ofensas aos ministros. Em seguida, criticou “erros” recentes do tribunal no combate à corrupção, como a transferência de casos de corrupção para a Justiça Eleitoral e o fim da prisão após condenação em segunda instância.
“Agora, em vez de lamentando ou criticando o Supremo, o que eu tenho defendido é que a gente precisa, além das reformas necessárias para o Brasil voltar a crescer, o que gente precisa é de pacote ético”, disse, defendendo o fim da reeleição, o fim do foro privilegiado, a volta da execução em segunda instância e maior autonomia da Polícia Federal.
Ao responder a uma pergunta sobre seus planos para a educação, Moro disse não existir uma “bala de prata”. “O que faz boa educação pública são bons professores, que precisam ter treinamento, capacitação, remuneração condigna e precisa, claro, de cobrança de desempenho, para que tenhamos resultado”, afirmou.
Disse que tem uma equipe trabalhando em propostas na área, que incluem fazer o governo federal priorizar a primeira infância, com esforços para alfabetização e ensino de matemática. Outra ideia é transferir a gestão das universidades federais para o Ministério da Ciência e Tecnologia, para que o Ministério da Educação se concentre na educação básica.
Ao abordar a área da segurança, Moro citou números favoráveis de 2019, quando ocupou o Ministério da Justiça, principalmente a redução de 22% no número de homicídios, apreensões recordes de drogas e armas, e a transferência de líderes do PCC para presídios federais.
Afirmou que, em relação às armas, enquanto ministro, defendeu apenas o direito de as pessoas terem a posse dentro de suas casas e também o direito de usá-las em toda a extensão de uma propriedade rural.
“Relativamente a outros temas, de porte de arma e de armamento pesado, de grosso calibre ou de repetição automática, eu fui contra. Não concordo que pessoas possam andar na rua portando armas automáticas ou de grosso calibre”, disse.
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