• Carregando...
Janja em comício com Lula.
Janja em comício com Lula: mulher do ex-presidente tem cerca de 70 mil seguidores no Instagram, se descreve como “blogueirinha” e costuma dividir a agenda do dia a dia.| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Casada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) há cerca de cinco meses, a socióloga Rosângela Silva, conhecida como Janja, tem assumido um papel de destaque dentro do comitê de campanha do petista. Militante do PT desde 1983, a esposa do candidato petista tem atuado nas discussões sobre a agenda de campanha, opinado sobre as peças publicitárias e até sobre as pautas defendidas por Lula.

A participação dela, no entanto, tem gerado controvérsias entre parte dos articuladores da campanha de Lula. Eles identificaram que a imagem de Janja tem sido usada para desgastar o ex-presidente com evangélicos – e uma maior exposição dela poderia intensificar isso.

Contudo, líderes do partido admitem reservadamente que o ex-presidente costuma incentivar a participação de Janja e a expectativa é de que ela receba mais destaque no decorrer da campanha.

Além de participar das discussões internas da campanha, Janja também tem estabelecido uma agenda própria para pedir votos para Lula. Assim como ex-presidente, ela tem promovido encontros nos estados do Sudeste com foco no eleitorado feminino. Na quinta-feira passada (25), por exemplo, Janja esteve no Rio de Janeiro, onde discursou sobre assuntos como insegurança alimentar e violência doméstica.

"Eu quero ressignificar o conceito de primeira-dama ou primeira-companheira, focando em pautas que são prioridades para as mulheres, como insegurança alimentar, em que muitas têm se endividado para dar de comer a seus filhos, e também violência doméstica", discursou Janja.

Antes disso, Janja recentemente já havia cumprido agenda em São Paulo e em Minas Gerais. Para os próximos dias, a petista tem organizado um encontro com empresárias do grupo Esfera Brasil. A ideia é que, além de Janja, a agenda ainda inclua Lu Alckmin, esposa do candidato a vice de Lula, ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), e Ana Estela Haddad, mulher do ex-prefeito e candidato ao governo paulista, Fernando Haddad (PT).

O grupo Esfera também convidou a primeira-dama Michelle Bolsonaro para uma reunião nos mesmos moldes da que foi proposta a Janja. A esposa do presidente confirmou presença, mas ainda não definiu a data.

Janja faz interlocução de Lula com o meio artístico 

Antes do início oficial da campanha, Janja vinha atuando internamente na construção de agendas de Lula com integrantes do meio artístico. De acordo com líderes petistas, partiu da esposa do ex-presidente a estratégia de trazer artistas e influenciadores digitais para dentro da campanha.

Em seu casamento, a socióloga convidou nomes como Gil do Vigor, do BBB21, e a cantora Duda Beat. Na mesma estratégia, Janja autorizou que o perfil de internet "Lula verso", que utiliza linguagem voltada ao público mais jovem, fizesse a cobertura em tempo real do evento.

Além disso, partiu de Janja o movimento para tentar aproximar Lula da cantora Anitta. Ao divulgar apoio ao petista, Anitta ofereceu ajuda para "bombar" as redes sociais do ex-presidente e na sequência foi convidada por Janja para um almoço.

Com cerca de 70 mil seguidores no Instagram, Janja se descreve como "blogueirinha" e costuma publicar informações do dia a dia do casal.

Integrantes do partido que defendem a atuação de Janja na campanha afirmam que ela tem carisma e pode ajudar na candidatura presidencial, especialmente com mulheres e o eleitorado mais pobre. De acordo com o último levantamento da Quaest, Lula tem 46% das intenções de voto entre o público feminino, enquanto Bolsonaro registra 30%.

"Sou filiada ao PT desde os meus 17 anos. Não tem mordaça na minha boca justamente porque no meu partido eu posso falar", afirmou Janja durante a agenda no Rio de Janeiro.

Aliados de Lula temem que Janja vire alvo de apoiadores de Bolsonaro

Apesar do endosso do ex-presidente Lula, a atuação de Janja na campanha petista tem gerado receio por parte de alguns integrantes do PT. Na avaliação desse grupo, a exposição pode torná-la um alvo de aliados do presidente Bolsonaro.

Como exemplo, citam um tuíte feito por Janja no dia 9 de agosto, em que ela reagiu a publicação da primeira-dama Michelle Bolsonaro contrária a Lula e associando religiões africanas a "trevas". "Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo", postou Janja no Twitter, sem citar o nome de Michelle.

De acordo com essa ala, os articuladores do PT tinham se reunido no dia anterior e fechado um acordo para que a campanha não "caísse em provocações dos adversários". A avaliação era de que o ex-presidente Lula não poderia deixar a disputa ser levada para a agenda religiosa. Apesar disso, Janja voltou a defender o ex-presidente no segmento religioso depois que a campanha percebeu a divulgação de notícias associando a eleição do petista ao fechamento de igrejas.

Segundo membros do PT, a campanha de Lula identificou a divulgação de fotos de Janja em cerimônias de religiões de matriz africanas. A divulgação seria uma tentativa dos adversários de desgastar Lula junto aos evangélicos. Em uma das fotografias, Janja aparece de branco ao lado de imagens como a de Xangô, um dos orixás da Umbanda e do Candomblé. Ao postar a imagem no Twitter, ela escreveu: "Saudades de vestir branco e girar, girar, girar...". Contudo, Janja aproveitou uma agenda em Heliópolis, região periférica de São Paulo, para afirmar que ela e o seu marido respeitam todas as religiões.

Na semana, durante entrevista para a jornalistas estrangeiros, Lula saiu em defesa da esposa. "Quando começa a envolver mulher em campanha é porque não têm o que falar. Tenho lido [ataques] nas redes sociais. Partindo de quem parte, a gente sempre tem que esperar o pior. Daquele mandacaru não nasce flor cheirosa. É só coisa ruim", disse Lula, em uma referência a Bolsonaro.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem

O levantamento do instituto Quaest, encomendado pelo banco Genial, ouviu 2 mil eleitores presencialmente entre os dias 11 de agosto e 14 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-01167/2022.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]