A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está disposta a fazer diversas concessões para fora do campo da esquerda no intuito de vencer o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. Pelo plano desenhado pela cúpula do PT, o petista vai precisar atrair eleitores de centro e centro-direita. E, para isso, está disposto a acenar com propostas no campo econômico e nas pautas de costumes.
"Agora a escolha não é ideológica. Agora vamos conversar com todas as forças políticas que têm voto, que têm representatividade, que têm significância política neste país para que a gente consiga somar um bloco democrata contra quem não é democrata", disse Lula após a reunião com aliados na segunda-feira (27).
A avaliação de interlocutores da campanha é de que, neste momento, o antipetismo é uma força a ser considerada como o antibolsonarismo. Os aliados de Lula acreditam que a busca pelo voto útil na reta final pode ter recrudescido o sentimento antipetista entre os eleitores de centro e centro-direita em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
Para amenizar esse movimento, a campanha de Lula se prepara para fazer acenos claros para esses segmentos do eleitorado. A expectativa é de que Lula faça gestos enfáticos à direita com propostas no campo econômico e até no campo ideológico.
"Vamos ter que conversar mais com as pessoas e vamos ter que convencer a sociedade brasileira daquilo que nós estamos propondo. No segundo turno temos de construir um leque de alianças, um leque de apoio antes de você ganhar, para você mostrar para o povo o que vai acontecer, o que vai governar esse país", disse o ex-presidente.
Lula faz concessões ao centro com guinada na pauta econômica
Nessa estratégia, Lula pretende atrair lideranças de centro e centro-direita como a senadora Simone Tebet (MDB). A emedebista, que terminou o primeiro turno em terceiro lugar com cerca de 4% dos votos, ainda não anunciou o seu apoio formal ao petista. Mas tende a fazer isso ainda nesta quarta-feira (5). Já o MDB decidiu liberar seus filiados a apoiarem quem quiserem no neste segundo turno.
O MDB rompeu com o PT desde o impeachment de Dilma Rousseff. Mas Lula já sinalizou que está disposto a recompor com os emedebistas – ou ao menos com grande parte deles. Nesse cenário, não está descartada um indicação de Tebet para um ministério de um eventual governo Lula a partir de 2023.
Paralelamente, Lula deve incorporar propostas do plano econômico de Simone Tebet nas suas propostas de governo. Como a Gazeta do Povo mostrou, o candidato do PT não apresentou a versão final de seu plano de governo como estratégia para atrair apoios para o segundo turno.
Os petistas esperam que Tebet colabore, principalmente, com propostas voltadas para o agronegócio. Os aliados de Lula argumentam que a declaração de Tebet de que é possível conciliar o desenvolvimento do campo com a preservação ambiental pode ter força para atrair o setor rural.
Além de Tebet, Lula quer trazer para dentro da campanha outros nomes como o do ex-ministro Henrique Meirelles, que declarou apoio ao petista na reta final do primeiro turno. Meirelles comandou o Banco Central durante os governos Lula e é visto como um interlocutor direto com o mercado financeiro.
A avaliação de líderes petistas é de que Lula precisa demonstrar para o eleitorado de centro e centro-direita que vai governar com uma frente ampla de aliados. Neste caso, a campanha esperar atrair esse público mostrando as concessões que serão feitas através da apresentação clara de propostas econômicas. Também faz parte dessa estratégia o apoio de economistas que já foram críticos ao PT – é o caso do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que anunciou que vai apoiar Lula.
"Um governo mais ao centro é uma consequência da união das forças políticas. Não há problema nisso", disse o deputado Jacques Wagner (PT-BA), integrante do núcleo de campanha de Lula.
Campanha de Lula quer "carta de valores" para falar com eleitor conservador
Além da guinada no campo econômico, a campanha de Lula estuda a viabilidade de o petista lançar uma carta aos brasileiros voltada para o eleitorado conservador. Assim como fez em 2002, com uma carta volta para as pautas econômicas, desta vez a mensagem seria um compromisso com a agenda de valores.
A medida seria uma forma de Lula reafirmar seu compromisso contra pautas como a legalização das drogas e do aborto, por exemplo. Nessa frente, aliados querem a participação ativa de Geraldo Alckmin (PSB) e de Marina Silva (Rede) – que são ligados, respectivamente, a segmentos católicos e evangélicos. Marina entrou na campanha de Lula no fim da campanha do primeiro turno.
Paralelamente, a campanha de Lula pretende conversar com os evangélicos por meio de material para redes sociais, televisão e rádio. Nesse campo, Lula vai aparecer falando de liberdade religiosa, debatendo com pastores e desmentindo que vai fechar igrejas evangélicas caso seja eleito presidente.
Negociação com partidos fora da esquerda impõe dificuldades para Lula
A campanha de Lula também aceitará fazer concessões para atrair o apoio do União Brasil, que teve como candidata à Presidência a senadora Soraya Thronicke. O apoio, no entanto, é visto como improvável diante de disputas como a da Bahia, onde o ACM Neto (União Brasil) concorre ao governo contra o petista Jerônimo Rodrigues.
O partido de Thronicke discute ainda uma fusão com o PP, que faz parte da base aliada de Bolsonaro e tem como líder o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Além disso, o União Brasil conta com quadros como o ex-juiz Sergio Moro, que se elegeu senador pelo Paraná, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que já sinalizaram apoio à candidatura de Bolsonaro no segundo turno.
Apesar disso, o partido de Lula pretende conversar diretamente com o presidente do União Brasil, Luciano Bivar. Em jogo estão a oferta de espaço no eventual governo do petista e o apoio do Planalto à candidatura de Bivar para a presidência da Câmara dos Deputados em 2023.
Já no PSDB o apoio deve vir por meio de acordo costurado por meio de lideranças tucanas. Na terça-feira (4), a Executiva Nacional liberou os diretórios estaduais para costura de acordo levando em conta interesses regionais.
Fora do segundo turno em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia declarou apoio formal ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) no maior colégio do país. No Rio Grande do Sul, no entanto, o PT já sinalizou disposição em apoiar à candidatura de Eduardo Leite (PSDB) no segundo turno contra Onyx Lorenzoni (PL). A mesmas concessões por parte do partido de Lula podem ocorrer no Mato Grosso do Sul, onde o tucano Eduardo Riedel disputa o governo contra Capitão Contar (PRTB).
Reservadamente, a campanha de Lula admite as dificuldades para atrair o apoio dos partidos. Para isso, Alckmin será o principal personagem para viabilizar a negociação entre petistas e tucanos. Também vai participar das articulações a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. "As eleições estão nas mãos do centro e da centro-direita", disse Alckmin nesta semana.
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