O Partido Novo viu sua votação retroceder de forma expressiva na comparação entre a eleição atual e a de 2018. A agremiação elegeu apenas três deputados federais e seu nome para o Palácio do Planalto teve cinco vezes menos votos do que o presidenciável de 2018.
Na mão oposta, porém, o Novo teve uma das mais significativas vitórias nas disputas pelos governos estaduais - a de Romeu Zema, reeleito em primeiro turno para o governo de Minas Gerais. Zema declarou apoio a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial e foi nomeado pelo chefe do Executivo como "cabo eleitoral" para reverter o quadro de Minas, onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado na primeira parte da disputa.
O contraste entre a votação ruim para a Câmara e o Palácio do Planalto e o sucesso de Zema deve ser um dos fios condutores da atuação do Novo nos próximos meses. O partido se vê ao mesmo tempo diante de uma queda significativa na representação legislativa e tendo em suas fileiras um possível candidato a presidente em 2026, o próprio Zema.
Além disso, o Novo terá o desafio de gerenciar dentro de seu interior as alas favoráveis a Bolsonaro e as que são contrárias ao presidente da República. O embate entre os grupos ficou evidente nos últimos dias, após brigas públicas por meio das redes sociais.
Fundador, ex-presidente do partido e candidato a presidente em 2018, João Amoêdo publicou em seus perfis, no dia seguinte ao primeiro turno, um comparativo entre as votações do Novo nas últimas eleições presidenciais. Com isso, abriu caminho para uma torrente de críticas à sua atuação.
Embora tenha apoiado Bolsonaro no segundo turno de 2018, Amoêdo é crítico do presidente há tempos. Ele chegou a pedir o impeachment do chefe do Executivo. A postura não foi endossada pela bancada do partido na Câmara, que vota com o governo na maior parte das vezes. E agora, com o segundo turno entre Bolsonaro e Lula, a maior parte das lideranças do Novo tem anunciado o voto no atual presidente. A relação inclui nomes como Paulo Ganime (RJ) e Vinícius Poit (SP), que concorreram aos governos de seus estados nestas eleições e são também deputados federais.
Moisés Jardim, ex-presidente do Novo e aliado de Amoêdo, considera que o apoio ao governo foi um dos fatores que explica a queda do partido nas eleições de 2022. "Houve uma adesão meio oculta, ou não muito explícita, mas sempre com uma postura de muito cuidado nas críticas ao bolsonarismo, a tudo o que o presidente vem fazendo. Isso custou caro ao partido. O Novo ficou sem um posicionamento claro. As urnas acabaram vindo com um resultado mais à direita do que se imaginava, e o Novo foi atropelado", declarou.
Ele cobrou que o partido faça uma rediscussão interna e também responsabilizou o atual presidente, Eduardo Ribeiro, pelos insucessos. "Ele fez muitas mudanças na estrutura do partido, a partir de 2020, e essas mudanças descaracterizariam o Novo. Eu temia por um resultado negativo nas urnas, e foi o que aconteceu", declarou.
Ribeiro foi procurado pela Gazeta do Povo para esta reportagem. Sua assessoria informou que ele optou por não falar com a imprensa nos últimos dias.
O deputado federal Gilson Marques (SC), um dos três do partido que continuarão na Câmara em 2023, acredita que o Novo responde por erros cometidos na eleição municipal de 2020. Na ocasião, o partido elegeu apenas um prefeito – Adriano Silva, de Joinville (SC). Teve desempenho pior do que Rede e PSOL, agremiações posicionadas no outro lado do espectro político. "Ali deixamos de crescer como deveríamos. Não fizemos uma boa base", apontou.
Marques reforça que a decisão da eleição presidencial será um grande definidor de como a agremiação se portará nos próximos anos.
"Nós [deputados federais] ainda não fizemos uma reunião para discutir um planejamento para a nossa atuação na Câmara. Mas a depender do que acontecer no segundo turno, nós tomaremos uma postura ou outra. Uma coisa é certa: precisamos combater as ideias da esquerda e do PT. Então se Lula for eleito, faremos uma oposição ferrenha", declarou. Ele anunciou o voto em Bolsonaro no segundo turno e pediu que seus seguidores façam campanha para o atual presidente.
Zema 2026?
O governador Romeu Zema anunciou seu apoio a Bolsonaro no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República. Para integrantes do Novo, o edifício pode se tornar a casa do próprio Zema: eles esperam lançar o governador à chefia do Executivo em 2026 – e o próprio gestor de Minas Gerais já teria sinalizado interesse na ideia.
Nota do jornal O Globo aponta que Zema e Bolsonaro teriam colocado na balança a candidatura de 2026 como um dos condicionantes do apoio atual do governador. A moeda de troca, de acordo com a reportagem de O Globo, seria uma neutralidade de Bolsonaro, caso Zema tenha que disputar a indicação de candidato entre outros representantes da direita.
"Com certeza é um presidenciável. Muita gente gostaria que ele fosse candidato já agora, mas aí ele deixaria de lado uma eleição já ganha [em Minas] para entrar em um vespeiro. Mas para 2026, a considerar a idade do Lula, se ele for eleito agora, e o fato de que Bolsonaro não poderia disputar a reeleição, Zema passaria a ser um dos principais favoritos, senão o principal favorito da disputa", disse Gilson Marques.
Já o ex-presidente do partido Moisés Jardim vê o projeto "Zema 2026" com mais ressalvas.
"Acho que é cedo para falar disso. Ele fez um governo muito bom em Minas, isso é inegável. Mas ele infelizmente não foi capaz de puxar votos para o partido, não foi capaz de construir uma bancada que lhe dê sustentação. É algo que ele precisa trabalhar", apontou. Em Minas Gerais, apesar da vitória de Zema, o Novo não elegeu nenhum deputado federal e fez apenas dois deputados estaduais.
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