Se de um lado os aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) comemoraram o crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de outro o entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) analisa com cautela os efeitos da melhora dos indicadores econômicos sobre a disputa presidencial. Manter o foco na economia é uma das principais estratégias da candidatura petista para tentar vencer a eleição.
Divulgado pelo IBGE, o balanço do PIB superou as expectativas de analistas do mercado – a mediana das projeções era de uma expansão de 0,9%. O crescimento trimestral foi o quarto consecutivo, e um dos maiores entre as principais economias globais. Na avaliação do governo, o país caminha para superar duas crises, a da pandemia e a recessão de 2014 a 2016.
Além do crescimento do PIB, outros indicadores são comemorados pela equipe de Bolsonaro. O desemprego está caindo mais rápido que o previsto e, pelo lado dos preços, agosto provavelmente teve o segundo mês seguido de deflação – o dado oficial sai na próxima sexta-feira (9).
A reação pública da equipe de Lula, até o momento, veio por parte da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que pelas redes sociais afirmou que o "povo não come PIB". "Não adianta o país crescer pra uns e pra outros não. Temos 39 milhões de trabalhadores sem nenhum direito, 33 milhões de brasileiros passando fome e outros 60 milhões comendo menos do que deveria", afirmou.
Para ela, a melhora no desempenho econômico é enganadora. "Indústria ainda patina com prejuízos e cortes de pessoal. População desalentada é de 4,3 milhões, informalidade chega a 40,1%, trabalhadores subutilizados ou subocupados são 32 milhões. E o povo continua a viver com dificuldade", elencou.
Campanha de Lula relativiza impacto da melhora da economia na eleição
Assim como Gleisi, outros aliados da campanha de Lula relativizaram os impactos que o crescimento do PIB terá na disputa presidencial. A avaliação interna é de que a melhora na economia vai demorar a ser percebida, principalmente para os mais pobres.
"Queremos que esse crescimento do PIB chegue nas famílias mais pobres, com 33 milhões de pessoas passando fome e 120 milhões que vivem em insegurança alimentar no nosso país. O início da recuperação econômica não chega a todos”, disse o deputado Alexandre Padilha (SP), durante debate na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).
Integrantes do PT acreditam que a campanha de Bolsonaro não terá tempo suficiente para explorar os números até 2 de outubro, data do primeiro turno. Para se contrapor ao presidente, a campanha de Lula explora, principalmente, a inflação dos alimentos. O balanço mais recente – o IPCA-15 de agosto, considerado uma prévia do índice "cheio" – mostrou que o custo da alimentação no domicílio subiu 17,37% em 12 meses, bem acima da inflação média.
Além disso, os aliados de Lula acreditam que o cenário de rejeição de Bolsonaro será determinante na reta final das eleições. De acordo com o último levantamento da Quaest, 56% dos entrevistados afirmaram que não votariam no atual presidente, enquanto a rejeição ao candidato petista foi de 43%.
Ainda de acordo com a Quaest, 63% dos eleitores avaliam que as medidas econômicas do governo são, principalmente, para "ajudar" na reeleição do atual presidente. Por isso, a campanha petista pretende manter a estratégia de reforçar a imagem de que as medidas econômicas adotadas pelo governo nos últimos meses foram eleitoreiras.
Orçamento de 2023 vira aposta de Lula para rebater Bolsonaro
Em outra frente, a campanha de Lula promete explorar ao máximo a proposta da Lei Orçamentária Anual (LOA) enviada pelo governo para o Congresso na última semana. A proposta não prevê recursos para manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 nem ganho real ao salário mínimo.
Esses dois pontos serão os mais explorados pelos aliados de Lula em entrevistas e na propagada eleitoral do partido. Até o momento, a LOA prevê que a partir do ano que vem o programa social terá o valor de R$ 405 e que o novo salário mínimo deverá ser de R$ 1.294, um aumento de R$ 82, ou pouco menos de 7%, sobre os atuais R$ 1.212.
"[A LOA] é a proposta do governo para o orçamento de 2023. E lá nem tem a continuidade do auxílio emergencial e nem tem o aumento do salário mínimo [acima da inflação]. É uma vergonha porque já faz vários anos que o salário mínimo não aumenta, no nosso governo aumentava todo ano", disse Lula durante agenda em Belém (PA) na última semana.
Recentemente, o ex-presidente afirmou que, se eleito, o Auxílio Brasil vai voltar a se chamar Bolsa Família e, além do pagamento de R$ 600, prometeu um adicional de R$ 150 para cada criança de até 6 anos inscrita no programa. Lula, no entanto, não explicou publicamente como arcar com a despesa, que giraria em torno de R$ 52 bilhões por ano.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
A pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, foi realizada de forma presencial entre os dias 25 a 28 de agosto com 2 mil eleitores de todo o país. A margem de erro é estimada em dois pontos percentuais para mais ou menos, para um intervalo de confiança de 95%. O estudo foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-00585/2022.
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