O presidente Jair Bolsonaro (PL) está decidido a postergar ao máximo a escolha do vice de sua chapa à reeleição. Aliados da base no Congresso e interlocutores do governo dizem que a intenção é fazer uma escolha apenas "aos 45 minutos do segundo tempo". O objetivo, segundo explicam os mais próximos do presidente, é evitar o "fogo amigo" do núcleo político do governo para "queimar" o preferido de Bolsonaro: o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa.
Cientes dessa preferência do presidente pelo general, aliados políticos ainda tentam demover Bolsonaro dessa ideia e persuadi-lo a optar por outro nome. A opção mais citada na base governista é o a deputada federal Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura. Ele é a preferida do Centrão, o bloco que partidos que dá sustentação ao governo no Congresso.
Entre os aliados políticos que apoiam Tereza como vice estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP); o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP; e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
Com menos de um mês restando para as convenções partidárias, que ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto, os aliados políticos tentam convencer Bolsonaro a escolher Tereza em conversas privadas. Mas o presidente da República reiteradamente desconversa sobre o tema e tenta sempre mudar o assunto.
Embora não tenha objeções pessoais em relação a Tereza e não a descarte como vice, Bolsonaro demonstrou incômodo a interlocutores com a pressão política para a escolha da ex-ministra. Inclusive, ele suspeita de que a base governista esteja usando a imprensa para "fritar" Braga Netto, com sugestões e informações de que o general teria "entregue os pontos" e que o núcleo político estaria tentando encontrar uma "saída honrosa" para o ex-ministro.
A fim de evitar o "fogo amigo" contra Braga Netto, Bolsonaro deixou claro ao seu núcleo eleitoral que também não descarta escolher a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos); e o ex-ministro Rogério Marinho (PL), do Desenvolvimento Regional.
Como Bolsonaro tenta conter a pressão política pela escolha do vice
A indefinição momentânea pela escolha do vice é politicamente estratégica para Bolsonaro. Interlocutores palacianos entendem que ele quer evitar uma fritura política semelhante à que sofreu Geraldo Alckmin (PSB) quando foi definido como o vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diferentes alas dos partidos que apoiam a pré-candidatura do petista deram sinais de oposição à escolha e geraram mal-estar político e eleitoral.
Ao postergar a escolha do vice, Bolsonaro mantém a base de apoio na expectativa e adia possíveis oposições internas ao nome escolhido. Como consequência, ele diminui o tempo que seu vice seria exposto a potenciais frituras e tem a chance de explicar seus motivos quando "bater o martelo".
O presidente sabe que o nome a ser escolhido por ele não será uma unanimidade na base aliada, mas o objetivo de Bolsonaro é buscar algum minimamente consensual a fim até de mitigar possíveis críticas em sua base eleitoral. A lógica política é de que, quanto menor for a oposição e maior a união, mais eleitores o vice poderá conquistar.
Quando questionado pela imprensa sobre a escolha de vice, Bolsonaro tem evitado dar sinais de preferência por um nome ou outro. Na segunda-feira da semana passada (13), Bolsonaro disse que Braga Netto é um nome "palatável" e "de consenso", que "sabe conversar com o Parlamento", mas também falou de Tereza Cristina. "É um excelente nome também. Vai ser definido mais tarde", disse.
Em entrevista à jornalista Leda Nagle no dia 15, ele disse que Braga Netto está "cotadíssimo", bem como Tereza Cristina está "cotadíssima". "Eu nem falei que o Braga Netto é meu vice, como é que vou trocar? Vou trocar de esposa se nem casei ainda? Toda semana inventam uma fofoca", desabafou. "Querem fazer uma briga [entre] homem e mulher. É isso o que eles querem fazer. Vão querer falar que eu prefiro não uma mulher, mas um homem. Ou então tumultuar, o que já estão fazendo em Brasília", acrescentou.
Na última sexta-feira (17), ele reforçou, em entrevista à rádio Meio Dia Rio Grande do Norte, que ainda não havia escolhido o vice e que poderia ser Tereza, Braga Netto e poderia "até ser o Rogério Marinho". "Está em aberto ainda. Tem especulações, nós estamos abertos para conversar, discutir. Mas digo: tem dois excelentes nomes, Tereza Cristina e Braga Netto no momento", afirmou.
Quais as chances de Braga Netto ser escolhido o vice da chapa de Bolsonaro
A depender da vontade de Bolsonaro e das condições em convencer aliados políticos de sua escolha, o vice da chapa tende a ser Braga Netto. Interlocutores do Planalto evitam dizer que a escolha do general está definida, mas afirmam que ele de fato está está bem cotado.
No Planalto, é dito que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi sondado por Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira para ajudá-los a persuadir Bolsonaro a escolher Tereza Cristina como vice. Os três são membros da coordenação política da pré-candidatura à reeleição. O filho do presidente os teria avisado, porém, que a escolha de vice é "inegociável" e que a decisão final cabe ao pai.
O entendimento de Bolsonaro é que ele cedeu em muitos aspectos ao seu núcleo político desde o início do relacionamento com o Centrão, em 2020, com a distribuição de cargos políticos, a liberação de generosos recursos para as emendas de relator e a permissão para que a Casa Civil tenha a última palavra na execução do Orçamento. O presidente, porém, quer ter a palavra final na indicação do vice e espera que seus aliados respeitem.
Braga Netto preenche alguns requisitos considerados imprescindíveis por Bolsonaro. "É discreto, leal e alinhado. O presidente quer alguém que esteja na mesma sintonia que ele; não alguém que fique batendo de frente, igual ao [atual vice, Hamilton] Mourão", diz uma liderança do governo na Câmara.
Outro motivo pelo qual Braga Netto é bem cotado é pelo fato de ser um militar. Na política, um general (quatro estrelas) do Exército é tido como uma figura que assegura um "seguro" contra um possível impeachment de Bolsonaro. "Eu tenho de ter um vice que não tenha ambições de assumir a minha cadeira ao longo do mandato", declarou Bolsonaro em março em entrevista à TV Jovem Pan.
Bom relacionamento entre Bolsonaro e Braga Netto pode ser decisivo
Há alguns sinais nos bastidores que sugerem a possibilidade de Bolsonaro definir Braga Netto como vice, segundo avaliações de aliados da base mais ideológica e de interlocutores palacianos. Um deles é o relacionamento próximo entre os dois. O fato do militar ter se desincompatibilizado do Ministério da Defesa e assumido um cargo de assessor especial do gabinete pessoal da Presidência da República é um gesto considerado significativo no Planalto.
Desde abril, Braga Netto trabalha muito próximo de Bolsonaro. O militar é recebido todos os dias pela manhã pelo presidente e também os dois costumam almoçar juntos. Outro sinal de que Braga Netto pode ser definido como vice é a decisão tomada por ele em se desincompatibilizar do atual posto de assessor especial até 30 de junho. A legislação eleitoral prevê que servidores públicos comissionados têm o prazo de até três meses antes das eleições para desocupar cargos públicos a fim de concorrer às eleições.
Antes de se desincompatibilizar, Braga Netto vai viajar ao Rio de Janeiro. A pedido do próprio Bolsonaro, o general tem auxiliado o presidente em interlocução com empresários e políticos no Rio e em Minas Gerais, onde cumpriu agenda no início deste mês com industriais na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e com prefeitos na Associação Mineira de Municípios (AMM).
Aliados de Braga Netto cobram que ele faça mais viagens pelo país. Mas, devido ao atual cargo, ele tem evitado isso e cumpre mais agendas acompanhado de Bolsonaro. A expectativa é que ele comece a circular com mais autonomia a partir de 30 de junho, quando se desincompatibilizar. Os mais próximos do ex-ministro sustentam que sua proximidade com Bolsonaro é um "ativo" importante e que mesmo a rejeição do presidente entre as mulheres seria um argumento insuficiente para preterir Braga Netto. No Planalto, seus apoiadores destacam que o próprio setor agropecuário prefere o militar como vice do que Tereza Cristina, segundo informações de abril do jornal Estado de S. Paulo, confirmadas pela Gazeta do Povo.
Quais as chances de Bolsonaro escolher Tereza Cristina como vice
A possibilidade de Bolsonaro escolher Tereza Cristina como vice não é descartada no Planalto e na base governista, embora até alguns governistas favoráveis a ela admitam que Braga Netto é o nome favorito de Bolsonaro.
Outros dizem que ela "está na frente" na "disputa", embora ponderem que Tereza Cristina ainda tenha resistências em relação à ideia de assumir a missão. Aliados de Tereza da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que ela presidiu até 2018, admitem que ela própria não se sente convencida de aceitar uma indicação de vice. A ex-ministra sinaliza que sua posição não seria um impedimento para aceitar um eventual convite de Bolsonaro para concorrer com ele na chapa presidencial, mas ainda avalia tal cenário com ressalvas.
A meta de Tereza segue a disputa do Senado por Mato Grosso do Sul. O planejamento inicial do governo era tê-la como futura senadora para ampliar a base de Bolsonaro em caso de reeleição.
A alta rejeição de Bolsonaro junto às mulheres, porém, mudou um pouco os planos do núcleo político do presidente. Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira, por exemplo, recomendaram que ela mantenha aguerrida sua pré-campanha, mas pediram que deixe de sobreaviso a possibilidade de uma disputa à vice-presidência.
O entendimento da coordenação eleitoral de Bolsonaro é que Tereza ajudaria a reduzir a rejeição do presidente junto às mulheres e, consequentemente, conquistar mais votos nesse segmento social. Além disso, Costa Neto e Ciro Nogueira acreditam que ela também possa ampliar os votos da chapa no agronegócio e na região Centro-Sul do país, a fim de contra-atacar a estratégia de Lula em crescer nas regiões Sul e Sudeste.
Que fatores podem comprometer a escolha de Tereza Cristina
Os presidentes nacionais de PL, Valdemar Costa Neto, e PP, Ciro Nogueira, ponderam que Tereza Cristina também atende aos critérios de discrição, lealdade e alinhamento exigidos por Bolsonaro. Porém, há quem entenda que o presidente tem um pé atrás em relação a escolhê-la não por falta de confiança nela, mas pela influência que o Centrão poderia exercer em um eventual mandato dela como vice.
Pessoalmente, Bolsonaro gosta e confia em Tereza a ponto de técnicos do Ministério da Agricultura não descartarem a possibilidade de ela reassumir a pasta caso ela concorra ao Senado, vença a disputa e o presidente da República seja reeleito.
No caso de ser indicada a vice, contudo, existe um receio do presidente sobre o nível de influência política sobre ela e se ela seria fiel a ele ou aos partidos. A desconfiança de Bolsonaro em relação à escolha do vice é algo admitido reservadamente por alguns interlocutores do governo.
Ex-ministro da Saúde do governo, Luiz Henrique Mandetta (União Brasil) acredita que, por esse motivo, Tereza não será escolhida a vice na chapa. "Bolsonaro não põe a Tereza porque não confia em ninguém, muito menos nela, que fala pelos ruralistas. Dali saíram os impeachments", declarou ao jornal O Estado de S. Paulo. A escolha pela ex-ministra como vice favoreceria Mandetta, que também é pré-candidato ao Senado por Mato Grosso do Sul.
A disputa pelo Senado no estado é apontado nos bastidores como outro motivo pelo qual Bolsonaro não se sente muito convencido em ter Tereza como vice. O presidente ainda se ressente de Mandetta e não deseja dar chances de vitória a ele, principalmente ao considerar um cenário em que Bolsonaro seja reeleito. Alguns interlocutores acreditam, porém, que os dois poderiam se reaproximar e que o relacionamento atual não seria uma entrave para a ex-ministra ser indicada como vice.
Quais as chances de Damares compor a chapa com Bolsonaro
Entre a opção pessoal de Bolsonaro por Braga Netto e o apoio do núcleo político por Tereza Cristina, existe a possibilidade dos dois lados procurarem um "meio-termo". Esse nome seria o de Damares Alves. A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos agrada a diferentes alas do governo.
De um lado, Damares é fiel a Bolsonaro e vista pela base mais ideológica do governo como alguém que não se curvaria a vontades e pressões político-partidárias como vice-presidente. Ela também atenderia ao perfil almejado pela base política de escolher uma vice mulher, que ajude a puxar votos na região Centro-Sul e reduza a rejeição do presidente junto ao eleitorado feminino. Seus defensores dizem, ainda, que ela conseguiria votos nas regiões Norte e Nordeste.
Embora não tenha sido citada por Bolsonaro como opção à vice em entrevistas recentes, o presidente a mantém bem cotada no caso de a base política não se convencer da indicação de Braga Netto. E, embora o Centrão tenha preferência por Tereza, o núcleo político não rejeita Damares e valoriza sua agenda de viagens com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. As duas participam de eventos voltados para o eleitor evangélico e feminino com o objetivo de consolidar votos entre mulheres e conservadores.
A cúpula do partido Republicanos e os mais próximos de Damares até avaliam bem o fato de Bolsonaro não citá-la como opção a vice. A lógica política no entorno da ex-ministra é de que, ao ser "esquecida", ela consegue evitar o "fogo amigo" e "comer pelas beiradas", embora enfrente a oposição da deputada ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo Flávia Arruda (PL), no Distrito Federal. As duas são pré-candidatas ao Senado na capital federal. Damares descarta abrir mão da disputa e está disposta a manter sua candidatura caso não seja indicada a vice de Bolsonaro.
Quais as chances de Rogério Marinho ser o vice de Bolsonaro
A situação de Rogério Marinho não é muito diferente da de Damares. O ex-ministro do Desenvolvimento Regional também é apreciado pelo presidente e pelo núcleo político, a despeito de alguns interlocutores avaliarem que ele não tem amplo apoio dentro da ala ideológica e de segmentos da ala política do governo.
Diferentemente de outros nomes, contudo, Marinho traz consigo "ativos" políticos importantes: o fato de ser nordestino e ter entregado obras importantes no Nordeste, região onde Lula é favorito contra Bolsonaro. A sondagem por um vice nordestino sempre esteve no radar do governo, a ponto dos ex-ministros Gilson Machado (PL), do Turismo, e João Roma (PL), da Cidadania, terem sido sondados.
Marinho foi o responsável por concluir as obras da transposição do Rio São Francisco, o que levou Lula a defender a "paternidade" das obras e a atacar Marinho, a quem chamou de "baixinho" e "desgraçado" por não "pagar pelo plágio". "Todo mundo sabe que quem construiu 88% do canal foram os governos do PT", disse o petista na última quinta-feira (16).
Bolsonaro saiu em defesa de Marinho e chamou seu ex-ministro de "amigo" e "irmão". "[Marinho] trabalhou desde o primeiro momento, incansavelmente, para concluir a transposição do São Francisco. E um dado para vocês: só o que aquele cara [Lula] desviou da Petrobras no passado daria para fazer 60 vezes a transposição do Rio São Francisco", declarou na sexta-feira (17).
Marinho rebateu Lula em suas redes sociais e disse que o ex-presidente não tem "estatura moral" para criticá-lo. "Lula vem ao meu estado e me chama de ' baixinho e desgraçado'. Não sabe ele que a estatura física pouco importa. O que realmente importa é a estatura moral! Exatamente o que falta a ele na sua vergonhosa trajetória política", declarou.
Para alguns governistas, o embate com Lula pela transposição do São Francisco, tido como uma dos "pilares" do governo no Nordeste, mantêm o ex-ministro "vivo" e bem cotado para ser indicado como vice de Bolsonaro. Porém, o discurso no entorno político de Marinho é que ele está focado em sua pré-candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Norte.
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