Os presidenciáveis André Janones (Avante) e Luciano Bivar (União Brasil) não confirmaram, ao longo desta sexta-feira (29), as especulações de que deixariam a corrida ao Palácio do Planalto. Ambos encerraram o dia mantendo o nome na disputa e elencando compromissos de candidato – Janones irá à convenção de seu partido em São Paulo, neste sábado (30), e Bivar reitera que será homologado candidato do União Brasil na convenção nacional da agremiação, marcada para a próxima sexta-feira (5).
Os dois foram sondados para se retirar da disputa pela sucessão de Jair Bolsonaro e apoiar, em menor ou maior grau, a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Janones trocou mensagens com Lula em seu perfil no Twitter e deve se encontrar com o ex-presidente na quinta-feira (4). Ele admite que o encontro pode representar o encaminhamento de sua desistência.
Já Bivar não falou publicamente sobre as especulações, mas indicou a aliados que pode concorrer à reeleição a deputado federal. Ele teria sido sondado pelo PT para excluir sua candidatura presidencial. Em contrapartida, contaria com o apoio dos petistas para uma das duas iniciativas: disputar a eleição ao Senado por Pernambuco, ou garantir uma vaga de deputado e se candidatar à presidência da Câmara Federal em 2023.
Deputados federais, Janones e Bivar não são, até o momento, candidatos de muita competitividade. O parlamentar do Avante somou 1% na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (28), e 2% no levantamento BTG/FSB anunciado na última segunda-feira (25). Já Bivar teve 0% nas duas pesquisas.
Ainda assim, a desistência dos dois é cortejada pelos representantes dos demais partidos por questões de cunho simbólico e prático. Do lado de Janones, a agregação de mais forças em torno do nome de Lula pode contribuir para uma possível vitória já no primeiro turno da eleição. Além disso, o candidato do Avante é reconhecido por ter um grande diálogo com a população de menor renda nas redes sociais – no Facebook, ele tem mais seguidores do que Lula.
Bivar, por sua vez, é o presidente nacional do União Brasil, partido que se constituiu com a fusão entre DEM e PSL e nasceu como a agremiação com acesso às maiores fatias do fundo eleitoral. O apoio do União Brasil a uma candidatura pode representar uma significativa contribuição financeira.
Candidatura está mantida por enquanto, diz Janones
A possibilidade de Janones retirar sua candidatura começou a ganhar corpo após ele receber uma mensagem de Lula, com teor positivo, na quinta-feira (28). O deputado publicou em seu perfil no Twitter uma espécie de manifesto, com três parágrafos, em que dizia que seu principal objetivo não é ser eleito presidente do Brasil, e sim "mudar a vida das pessoas". Lula, em resposta, disse que era também sua motivação para a política e encerrou a publicação com um "vamos conversar".
Nesta sexta, Janones expôs que Lula havia sido o único candidato que o chamara para uma conversa. E, em entrevista ao Estadão, admitiu que pode retirar seu nome. Reconheceu que não tem desempenho competitivo nas pesquisas e alegou que deixaria a corrida presidencial se outro candidato encampasse suas propostas.
Após confirmar sua reunião com Lula para a próxima quinta, Janones disse que se dedicará, nos próximos dias, a apresentar um conjunto de propostas para o ex-presidente, com temas como a permanência dos pagamentos do Auxílio Brasil. Declarou que não deseja ministérios e nem que o encontro com Lula tem o objetivo único de excluí-lo da corrida ao Planalto.
"Até lá, minha candidatura está mantida", afirmou. Neste sábado, ele estará presente na convenção paulista do Avante como candidato a presidente. Seu partido confirmará o apoio ao governador de São paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição.
Janones foi filiado ao PT por cerca de 10 anos. Se desligou do partido ainda em 2012. Antes de chegar ao Avante foi filiado ao PSC, pelo qual disputou a eleição municipal de 2016, como candidato a prefeito de Ituiutaba (MG).
Bivar: apoio ao PT em partido antipetista?
Bivar e o União Brasil não admitem publicamente a retirada da candidatura do presidente da agremiação ao Palácio do Planalto. Mas o projeto é tido como abortado e o desafio do deputado e de seu partido, agora, é o da definição de seu futuro político.
O presidenciável nunca foi exatamente um campeão de votos. Em 2014, por exemplo, somou apenas 24 mil votos e não conseguiu ser reeleito deputado federal. Acabou assumindo o mandato posteriormente, por ter permanecido como suplente e se beneficiado com vagas que foram abertas. Em 2006, quando se candidatou a presidente da República, foi o último colocado, com somente 62 mil votos.
A exceção foi a eleição de 2018, quando obteve mais de 117 mil votos. Na ocasião, concorreu beneficiado pelo apoio que deu a Jair Bolsonaro – ele abriu as portas do PSL, partido do qual era presidente e fundador, ao atual presidente da República.
A adesão histórica a Bolsonaro é um dos fatores que pode dificultar um compromisso com o PT na disputa atual. O União Brasil foi formado pela união entre DEM e PSL, dois partidos que se consolidaram como antipetistas, e lideranças de peso da agremiação são opositores ferrenhos do ex-presidente Lula. Alguns exemplos são o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o deputado federal Kim Kataguiri (SP), membro do Movimento Brasil Livre (MBL), e o ex-ministro Sergio Moro, responsável pela prisão de Lula quando juiz da Lava Jato.
Metodologia das pesquisas citadas
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 27 e 28 de julho em 183 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 22 e 24 de julho de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-05938/2022.
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