O PSDB formalizou nesta quinta-feira (9) o apoio do partido à pré-candidatura presidencial da senadora Simone Tebet (MDB-MS). O anúncio, porém, foi desvalorizado por alguns dos tucanos que participaram da reunião que aprovou a parceria. Dois medalhões do PSDB, o deputado federal Aécio Neves (MG) e o ex-governador goiano Marconi Perillo, contestaram a decisão da executiva do partido e reiteraram a preferência por uma candidatura própria da agremiação.
Aécio chegou a sugerir que o quadro definido nesta quinta pode ser mudado nas convenções partidárias, previstas para o segundo semestre, que são o ato formal para a consolidação de candidaturas e coligações.
As manifestações de Aécio e Marconi indicam que a parceria Tebet–PSDB precisa superar alguns obstáculos para ser consolidada. A lista de desafios inclui a derrota de adversários internos, a redução da dianteira que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) mantêm na corrida presidencial e o arranjo de palanques regionais.
"A alma do PSDB era de uma candidatura própria. Mas nós entendemos que o PSDB existe não como fim em si próprio, mas fim em permitir o que é melhor para os brasileiros. Agora foi convocado a oferecer uma alternativa", contemporizou o presidente nacional do partido, Bruno Araújo. Caso a decisão desta quinta se confirme, será a primeira vez, desde sua fundação, que o PSDB não terá um candidato próprio nas eleições presidenciais.
Araújo, Tebet e os presidentes de MDB e Cidadania, respectivamente Baleia Rossi e Roberto Freire, se reuniram virtualmente nesta quinta para definir mais detalhes da aliança. Tebet participou da reunião mesmo após ter sido diagnosticada com Covid-19.
Quem será o vice tucano
Uma definição que o PSDB precisa alcançar para a consolidação da chapa com Tebet é a escolha do candidato a vice-presidente. O acordo entre PSDB e MDB determina que cabe aos tucanos a apresentação do vice da senadora.
O senador Tasso Jereissati (CE) é o principal favorito ao posto. Ele está no seu último ano de mandato no Congresso e já havia sinalizado que não pretende concorrer à reeleição. O parlamentar já havia ocupado uma cadeira de senador antes, entre 2003 e 2010, e foi governador do Ceará por três mandatos.
Bruno Araújo trouxe outro nome ao debate ao mencionar a senadora Mara Gabrilli (SP) como possível indicação para a vice. Em seu perfil no Twitter, a parlamentar chamou a decisão do PSDB de apoiar Tebet de "muito sensata" e disse considerar a emedebista "uma mulher preparada, com competência, coragem, experiência e coração".
Oficialmente, o MDB diz que não tem preferência sobre o nome tucano e nem buscará influenciar a decisão do PSDB.
Palanques regionais são dor de cabeça
Um dos motivos apresentados por Aécio para explicar sua ressalva ao acordo Tebet–PSDB é o de que, segundo ele, a parceria não será replicada nos âmbitos regionais. O próprio estado de Aécio é um exemplo de conflito entre as duas legendas. O PSDB tem como pré-candidato ao governo o ex-deputado Marcus Pestana. Já o MDB oscila entre o apoio ao atual governador Romeu Zema (Novo) e ao ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD).
O Rio Grande do Sul é outro estado em que emedebistas estão em lados opostos – ou ao menos estavam até o anúncio desta quinta. O MDB apresentou Gabriel Souza como pré-candidato, enquanto o PSDB deve ter Eduardo Leite na disputa novamente – ele foi eleito em 2018 e renunciou ao governo em março, na expectativa de ser candidato a presidente da República. As perspectivas de momento indicam que Souza deve retirar a candidatura e apoiar Leite.
Mais um campo de divergências entre MDB e PSDB se dá em Goiás. Os emedebistas apoiam a reeleição do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e o presidente regional do partido, Daniel Vilela, é pré-candidato a vice-governador. O PSDB planeja lançar Marconi Perillo, que já foi governador quatro vezes, para a disputa de um novo mandato.
Dissidentes e exemplos de "fogo amigo"
Tebet e o PSDB precisam ainda falar mais alto do que segmentos tucanos e emedebistas que declaram apoio público a Lula ou Bolsonaro.
Do lado do MDB, a ala pró-Lula reúne expoentes do partido como o senador Renan Calheiros (AL) e seu filho, o pré-candidato ao Senado Renan Filho, e o ex-senador Eunício Oliveira (CE). Eunício chegou a dizer que Tebet é um "bode na sala", referência a uma situação artificialmente criada, e "nem sabe onde fica o Nordeste".
O PSDB "lulista" tem como nomes o ex-senador Aloysio Nunes (SP), que indicou voto em Lula já no primeiro turno, e o vereador carioca César Maia. Ele é recém-filiado ao partido e foi convidado para ser o vice na chapa encabeçada por Marcelo Freixo (PSB) para o governo do estado. Freixo terá o apoio de Lula e é defensor do petista.
Na mão oposta, PSDB e MDB têm expressivos grupos que estarão ao lado de Bolsonaro na disputa de outubro. Entre os correligionários de Tebet estão os deputados federais Otoni de Paula (RJ), Rogério Peninha Mendonça (SC) e a deputada estadual Janaína Riva (MT). O PSDB tem como exemplo de governista Eduardo Riedel, seu pré-candidato ao governo do Mato Grosso do Sul.
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