Lula trabalha para que Fernando Haddad seja candidato do PT ao governo de São Paulo| Foto: Ricardo Stuckert
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Na busca por apoio à pré-candidatura de Fernando Haddad ao governo de São Paulo, líderes do PT avaliam a dimensão da operação policial contra o ex-governador Márcio França (PSB). Em negociações tensas, PT e PSB travam uma guerra fria para encabeçar a chapa que concorrerá à sucessão paulista. Mas aliados de ambos admitem reservadamente que a investigação desgasta a imagem de França, que é postulante ao Palácio dos Bandeirantes, e indiretamente fortalece o nome de Haddad como candidato único da esquerda.

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Na semana passada, França foi um dos alvos de um desdobramento da Operação Raio-X, do Ministério Público paulista. As investigações apuram desde o início de 2020 a ação de um grupo criminoso especializado em desviar recursos da saúde pública por meio de contratos de prestação de serviços fraudulentos com prefeituras do estado de São Paulo.

De acordo com os investigadores, as secretarias de Saúde contratavam empresas que simulavam serviços que não eram feitos, mas recebiam os pagamentos mesmo assim. Ao todo, a Justiça já condenou 19 pessoas por ligação com o esquema. Nesta nova fase, as investigações apuram os possíveis envolvimentos de políticos, entre eles, o médico Cláudio França, que é irmão do ex-governador.

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Márcio França classificou como política a operação policial em endereços ligados a ele e insinuou que o caso é uma tentativa de prejudicá-lo na eleição para governador. "É lamentável que se comece uma eleição para o Governo de São Paulo com estas cenas de abuso de poder político", afirmou.

Apesar disso, a avaliação interna entre nomes do PT e do PSB é de que a operação pode inviabilizar o nome de França na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Pré-candidatura de França deve ficar em aberto pelos próximos meses

Um acordo entre PT e PSB sobre a candidatura ao governo de São Paulo vem sendo construído nos últimos meses, mas há resistências e exigências nos dois partidos. Padrinho político das conversas entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (sem partido) para uma composição na disputa presidencial, Márcio França tenta se cacifar como candidato ao governo paulista, mas integrantes do PT resistem em abrir mão do nome de Haddad.

O plano era filiar Alckmin no PSB, que o indicaria então para o posto de vice na chapa de Lula com aval do PT, tirando o ex-tucano da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Mas para aceitar esse acordo, a cúpula do PSB cobra um alto preço ao PT: o apoio ao nome de França em São Paulo e de pré-candidatos aos governos de outros estados, como Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A cúpula petista até aceitar apoiar o PSB nos outros estados, mas não em São Paulo.

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A sugestão do PT é lançar Márcio França candidato ao Senado, com apoio de Lula e Haddad. Com a operação policial, petistas acreditam que essa composição deve ser chancelada. No entanto, isso só deve ocorrer no final do primeiro trimestre deste ano. Integrantes dos dois partidos admitem que se a pré-candidatura de França for retirada da disputa agora ou nas próximas semanas, seria como confirmar as suspeitas levantadas pelas investigações.

"As conversas eram no caminho do França retirar a pré-candidatura. A operação [policial] deve atrasar isso, mas o acordo já estava pré-estabelecido", disse um integrante do PT paulista.

PT abre ofensiva enquanto ala do PSB tenta chancelar filiação de Alckmin 

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, vinha colocando como condicionante à filiação de Alckmin ao partido o apoio dos petistas às candidaturas estaduais do PSB. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT), no entanto, já sinalizou que a composição da chapa "Lula-Alckmin" independe da filiação do ex-tucano ao PSB — o ex-governador, inclusive, já tem convites de outros partidos para se filiar.

De férias desde o final de dezembro, Siqueira está afastado das negociações, que passaram a ser conduzidas por líderes do PSB no Congresso. Integrantes do partido, como o deputado Marcelo Freixo (RJ), e lideranças da sigla em Pernambuco buscam distensionar as negociações para a viabilização de um acordo até o final de março, mês em que Lula pretende confirmar sua candidatura.

Em paralelo, o Solidariedade fez um convite formal para filiar Alckmin e apoiar Lula na disputa. O deputado Paulinho da Força (SP), presidente da legenda, diz que o seu partido não pretende fazer uma série de exigências como o PSB. “Acredito que uma chapa Lula-Alckmin ganha em primeiro turno”, disse.

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Além do Solidariedade, Alckmin também já recebeu convites do Partido Verde (PV), o que na avaliação de petistas enfraquecem o PSB na condução dos acordos. Para integrantes do PSB, a retirada do nome de França em São Paulo poderia se recompensada com o apoio para as eleições nos demais estados tidos como prioritários para o partido, como Pernambuco e Rio de Janeiro, além do fortalecimento das candidaturas do partido para o Congresso.

"Em São Paulo, o Haddad lidera as pesquisas de intenção de voto, enquanto em Pernambuco e Espírito Santo nomes do PSB estão à frente. Isso deve ser considerado. Vamos trabalhar com entendimentos", afirmou uma liderança do PSB. Um encontro entre a cúpula do PT e do PSB deve ocorrer na segunda quinzena deste mês, após as férias de Siqueira.