O coach Pablo Marçal (Pros), palestrante e vendedor de cursos motivacionais na internet, assegurou a seu partido que sua pré-candidatura à Presidência da República é séria e que ele está disposto a se manter na corrida presidencial. Com foco nos jovens e cristãos, Marçal está convencido de que pode arrebatar esse nicho do eleitorado e se viabilizar como a principal opção da chamada terceira via. E conta com apoios dentro para viabilizar sua candidatura dentro do Pros – partido que indicava apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais, Marçal ganhou notoriedade além da internet em janeiro, depois de se perder com outras 30 pessoas no Pico do Marins (SP), na Serra da Mantiqueira. A atividade na montanha fazia parte de um de seus cursos de motivação; e o grupo que ele conduzia teve de ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros devido às más condições do tempo no local.
A força nas mídias sociais é a principal aposta de Marçal e do Pros na tentativa de viabilizar sua candidatura à Presidência. Com discursos religiosos e frases de motivação, o coach cresceu como influenciador digital transmitindo ideias de crescimento "pessoal" e econômico. Impulsionado pelo público majoritariamente jovem das redes sociais, ele construiu um discurso que tem influenciado o público mais jovem e cristão. Não à toa, ele vende cursos que podem chegar até a R$ 3 mil e tem esse público como principal consumidor do conteúdo que produz.
Em uma eleição tão polarizada, a estratégia de Marçal é atrair votos do que perfil que alguns no Pros classificam como o "novo cristão", o jovem que tem interesse em crescimento econômico e pessoal. "O Pablo vai arrebatar esse nicho e a campanha dele é meio que já voltada para o jovem cristão", destaca um interlocutor da executiva nacional do partido que apoia a candidatura do "coach da montanha".
O Pros planeja trabalhar a imagem do influenciador digital Pablo Marçal como um legítimo outsider – ou seja, alguém que não é da política. Internamente no partido, ele é apontado como um "jovem empreendedor" que quer ingressar na política com as propostas de crescimento e prosperidade para toda a população no cenário pós-pandemia, especialmente os jovens.
"Ele surgiu no período da pandemia quando todo mundo estava na casa e sem esperança do que podia fazer para um crescimento pessoal. E ele passou a palavra da construção pessoal, de você pegar o seu destino e construir ele", diz um interlocutor do presidente nacional do Pros, Marcus Holanda.
A estratégia para se viabilizar no curtíssimo prazo é apostar em um discurso com propostas para o brasileiro que enfrentou o período da pandemia e busca crescimento econômico em um mercado com novas propostas e modelos de trabalho, como o home office. A ideia, portanto, é propor estímulos ao que seria a "revolução" do trabalho no Brasil.
"A campanha dele é meio que já voltada para o jovem. As redes sociais, hoje, são uma busca constante das pessoas que buscam o conteúdo de diversão e das pessoas que buscam pelo conteúdo da política e crescimento pessoal, que é o conteúdo dele, voltado ao cristão. Na busca por esse conteúdo, as pessoas criaram muitos personagens fortes desse tipo, como a pessoa que é o Pablo Marçal hoje", diz um interlocutor do Pros.
O objetivo de Marçal e do Pros é de que, com esse discurso, eles consigam ter muita sensibilidade para buscar o eleitor indeciso, que é analisado na legenda como um voto conservador e de família cristã desacreditado com a política atual, mas que preza pelo crescimento pessoal e busca por uma renovação política.
Pré-candidatura de Pablo Marçal não é vista como "balão de ensaio" no Pros
O Pros está disposto a encampar a pré-candidatura de Pablo Marçal pelo menos até o período das convenções partidárias, que começa em 20 de julho e vai até 5 de agosto. Enquanto isso, o partido sustenta que ele terá o respaldo para se viabilizar e representar a legenda na corrida presidencial.
Por esse motivo, representantes da legenda rechaçam que a pré-candidatura seja um "balão de ensaio" político para apenas elevar o capital político do Pros numa negociação de apoio a outro candidato na eleição presidencial. "Não entendo que seja [um balão de ensaio]. Não é como se ele tivesse lançado [a pré-candidatura] sem nenhuma ação envolvida. Ele lançou, marcou uma ação em São Paulo, encheu o Estádio Barueri e está marcando outros eventos", diz o presidente do diretório paranaense do Pros, Alisson Wandscheer.
O representante do Pros fala em referência ao evento de lançamento da pré-candidatura de Marçal, em que ele reuniu cerca de 15 mil pessoas em um estádio de futebol em Barueri (SP) cobrando um ingresso de aproximadamente R$ 50. "Político levar 15 mil, 20 mil pessoas a um evento pagando ingresso não é algo que me parece um balão de ensaio. Ele não precisaria se predispor a isso. É um cara financeiramente bem resolvido. É milionário, pelo que falam. Tem seu avião e helicóptero particular", diz Wandscheer.
Outro fator que agrada lideranças do Pros é o fato de que a pré-candidatura de Marçal não vai consumir os recursos do fundo eleitoral do partido. O influenciador digital arrecadou R$ 1 milhão para a sua pré-candidatura e, no partido, é dito que ele está disposto a financiar sua candidatura eleitoral com recursos próprios. Ou seja, as verbas públicas destinadas à legenda poderiam custear outras candidaturas, algo que agrada a cúpula da legenda.
O presidente do diretório paranaense do Pros analisa, porém, que Marçal tem um tempo inferior a três meses para viabilizar sua pré-campanha. A avaliação dele é de que o coach precisa atingir um piso mínimo de intenções de voto em pesquisas eleitorais para pleitear a formalização de sua candidatura.
A depender dos resultados, a pré-campanha pode ir até o fim ou se transformar em capital político para que o partido possa negociar uma eventual composição com outra candidatura à Presidência. "Tudo vai depender do que vai acontecer. Para ter essa relevância em uma disputa presidencial, precisa pontuar em pesquisas", diz Wandscheer. "Hoje, eu não vejo por que não deixá-lo se viabilizar. O nome dele nem saiu em pesquisa nenhuma", complementa.
Para Wandscheer, é preciso saber se ele sobe acima de 1%, ao menos. "Se ele sai e dá um capital [político] de 5% [das intenções], você já mudou o escopo de como se olha o partido. Agora, eu tenho essa consciência de que, se você pontuar 0% ou 1%, a relevância é uma. Se pontuar mais, é outra", destaca.
Pré-candidatura paralisa negociações de aliança com Bolsonaro
Um dos motivos pelo qual o Pros pretende dar tempo para Pablo Marçal se viabilizar é o interesse de uma ala da legenda que deseja apoiar oficialmente a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) á reeleição. Antes de o coach ser lançado pré-candidato pelo Pros, a legenda negociava uma coligação formal na chapa de reeleição do presidente.
Interlocutores do governo apontavam como certa a entrada do Pros na coligação, mas lideranças do partido dizem que a construção desse acordo fica suspensa em função da pré-candidatura de Marçal – que agrada uma corrente no partido favorável a uma candidatura de terceira via.
Mas a candidatura presidencial do coach, mesmo que se viabilize, pode esbarrar em uma divisão interna do Pros. A deputada federal paranaense e vice-líder do governo no Congresso, Aline Sleutjes, que abandonou o União Brasil e migrou para o Pros na janela partidária, diz ter o compromisso da direção nacional para apoiar a reeleição de Bolsonaro.
"O acordo [de liberação do diretório estadual] continua valendo em função do que foi tratado na época em função dos deputados federais, principalmente da deputada Aline, que tem um alinhamento muito forte com o presidente Bolsonaro. Ela se filiou dentro do compromisso mais coerente para ela e não existe como descumprir esse combinado", confirma o presidente do diretório, Alisson Wandscheer.
"É capaz de termos gente que, daqui a pouco, não vai com o Bolsonaro, que vai acabar indo com o candidato do partido. Mas não temos como descumprir esse compromisso. A executiva nacional deixou claro que aquilo que foi acordado não mudou. A deputada Aline e outros estarão livres para manter suas pré-candidaturas e fazer o que foi acordado no momento de suas filiações", complementa Wandscheer.
Aline Sleutjes diz ainda entender que é natural que os partidos tenham pessoas interessadas em lançar sua candidatura a presidente. Mas ela afirma que vai trabalhar pelo apoio a Bolsonaro. "Eu trabalharei para unificar o partido na base do presidente. Se isso não for possível, levarei o máximo de diretórios estaduais comigo [no apoio a Bolsonaro]", diz a deputada.
Ela também diz acreditar que o lançamento da pré-candidatura de Pablo Marçal é mais uma vontade pessoal dele do que um desejo do Pros.
Como a eleição de Trump afeta Lula, STF e parceria com a China
Alexandre de Moraes cita a si mesmo 44 vezes em operação que mira Bolsonaro; assista ao Entrelinhas
Policial federal preso diz que foi cooptado por agente da cúpula da Abin para espionar Lula
Rússia lança pela 1ª vez míssil balístico intercontinental contra a Ucrânia
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024
Deixe sua opinião