Terceira colocada no primeiro turno da eleição presidencial deste ano e tida como um dos principais novos apoios a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) vai assumir um protagonismo estratégico na campanha do petista nesta segunda fase da corrida ao Palácio do Planalto.
Além de já aparecer nos primeiros programas eleitorais veiculados desde que formalizou o apoio ao petista na última sexta (7), a senadora e ex-candidata deve começar a subir nos palanques de Lula pelo país a partir desta semana. É um pedido feito pelo próprio ex-presidente. Ele disse que Simone vai ajudá-lo "a ganhar esta eleição". "Me interessa que ela esteja comigo e com o [Geraldo] Alckmin [do PSB]”.
“Vou cumprir missões. Onde acharem que sou útil, vou lá cumprir”, disse a emedebista.
Embora ainda não tenha declarado publicamente como será sua participação além de dizer que vai percorrer o Brasil com Lula e Alckmin em comícios, Simone Tebet chega com grande expectativa à campanha petista.
Militante do partido há 38 anos, o deputado estadual Tadeu Veneri, do Paraná, vê nela a possibilidade de o PT ampliar a interlocução com outros segmentos da sociedade. “O PT não pode querer ser maior do que a busca da solução democrática dessa crise que estamos vivendo. E a solução democrática passa por um amplo entendimento de todos os segmentos da sociedade, e o PT não vai ganhar sozinho a eleição. É onde a Simone Tebet entra, de aglutinar e fazer uma interlocução”, analisa Veneri, reconhecendo que, apesar da importância do discurso, o ex-presidente não conseguirá todos os quase cinco milhões de votos que ela recebeu no primeiro turno.
A opinião de um novo caminho para a ideologia do partido é semelhante à do correligionário Requião Filho, deputado paranaense que trocou o MDB pelo PT neste ano. Para ele, a chegada da ex-companheira de partido vai ajudar a levar a campanha mais para o centro político do que para a esquerda. Para ele, se criou uma "falsa imagem de comunista, esquerdista, marxista” no Brasil nos últimos anos, que "não condiz com a realidade", e Simone Tebet terá um papel fundamental nessa renovação. "Ela tem a responsabilidade de fazer determinados setores da sociedade verem que há algo maior acontecendo, como vem enfatizando em entrevistas ao longo da campanha eleitoral", disse.
Menos vermelho nos comícios
Embora se mostre empenhada em dar seu “total apoio” à campanha do ex-presidente, Simone Tebet já deixou claro que diverge de alguns pensamentos petistas. Entre eles, a questão do teto de gastos. Ela admitiu bater de frente com o PT nesse tema, mas disse que aceita conversar sobre desenvolver uma nova âncora fiscal.
Outro desacordo era sobre o tom que vinha sendo adotado nos comícios de Lula ao longo da campanha. Mensagens obtidas pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, mostraram que ela pretende orientar uma estratégia diferente nos encontros que vier a participar pelo país, já que o ex-presidente foi enfático em dizer que a quer a seu lado nos eventos.
Um dos caminhos seria diminuir a menção ao PT e dar mais destaque ao próprio Lula, já que o tom adotado até agora estaria espantando eleitores mais conservadores. “O povo está votando contra [Jair] Bolsonaro [PL], e não no PT. [...] Alguém tem que colocar juízo na campanha do Lula”, teria dito Simone Tebet nas mensagens divulgadas pela jornalista.
Uma das estratégias sinalizadas por ela é a diminuição do uso da cor vermelha na militância e nos materiais de campanha, o que já começou a ser adotado pela coordenação petista. No comício que Lula fez na noite desta terça (11) em Belford Roxo (RJ), um dos anúncios pedia que as pessoas usassem roupas na cor branca “pelo amor e pela paz”. Lula também vestiu branco em um ato na Baixada Fluminense nesta quarta-feira (12).
“As nossas bandeiras permanecem as mesmas, mas a forma de trazê-las não pode mais ser a mesma. Não podemos ter só PT neste momento que temos pessoas que não necessariamente são ou nunca foram PT, como Roberto Requião [que também trocou o MDB pelo PT neste ano]; o [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso [do PSDB], que seria inimaginável; outros empresários que sempre tiveram questionamentos ao programa do PT”, analisa Veneri.
No entanto, Vera Chaia, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de pós-graduação em ciências sociais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que esta pode não ser a melhor estratégia. Para ela, Lula representa o PT em si, e isso não é algo que precisa ser desassociado.
Uma das pontes que Simone pode fazer, cita a analista, é com as mulheres e o agronegócio, públicos com os quais a ex-presidenciável falou amplamente durante a campanha de primeiro turno. A senadora é vista como uma interlocutora com o agronegócio, que votou em Bolsonaro no primeiro turno – o que a própria Simone reconheceu quando formalizou o apoio ao petista
Nos próximos dias, a participação de Simone Tebet nos comícios deve começar a ser vista, principalmente em São Paulo (onde ela teve 1,6 milhão de votos no primeiro turno) e no Rio de Janeiro, dois estados que deram maioria a Jair Bolsonaro (PL) e que Lula já deixou claro ser seu alvo para ganhar votos no segundo turno. Ela também estará no Centro-oeste, sua base eleitoral, onde deve focar esforços nesta fase da campanha.
Simone pode ser ministra de Lula?
A possibilidade da senadora sul-mato-grossense compor um eventual governo de Lula em 2023, se eleito, não é descartada – mas, também não é confirmada. Isso porque o pestista diz que só vai começar a montar a equipe ministerial depois de ter a vitória confirmada nas urnas. Antes disso, afirma ser impossível, tanto por não conhecer a fundo a situação do governo como por estar focando os esforços dos apoios recebidos para a campanha.
No entanto, desde o dia em que Simone Tebet anunciou o apoio à campanha, Lula vem enfatizando a importância dela em seu futuro governo. Fez menções à interlocução com o agronegócio, à “quebra do orçamento secreto”, à implementação de algumas das suas propostas de governo sugeridas para integrar a campanha, entre outras.
“A participação da Simone vai nos ajudar muito. E depois que a gente ganhar, vamos sentar à mesa para montar equipe para dar vazão as propostas. Temos uma equipe extraordinária para montar o governo [...] e a Simone está aqui para ajudar a gente a recuperar a democracia do país”, disse Lula, já contando com uma vitória.
A própria senadora completou afirmando que está disposta a ajudar. A escolha dela para um ministério ou algum cargo importante numa eventual gestão Lula é possível, já que seu mandato no Senado termina neste fim de ano.
“É possível, até porque ela tem uma história não só no poder Legislativo, mas também no Executivo. Ela foi prefeita [de Três Lagoas, MS], vice-governadora [do Mato Grosso do Sul], e a carreira política dela de parlamentar sempre foi muito clara e objetiva. O futuro governo pode ganhar com a presença dela”, avalia a professora Vera Chia.
Tudo vai depender, segundo a doutora em ciência política, de como Lula e Alckmin vão articular a composição do novo governo com todos os apoiadores da campanha. O próprio ex-presidente já afirmou isso em entrevistas nas últimas semanas ao ser cobrado por nomes do futuro ministério se eleito.
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