Após uma campanha com muitas críticas a Lula, Ciro Gomes recebeu apenas 3% dos votos válidos na eleição presidencial, um desempenho considerado pífio para quem terminou a eleição de 2018 já como pré-candidato.| Foto: Fernando Bizerra/EFE
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Vários candidatos foram derrotados nas eleições gerais deste ano, mas alguns saíram perdendo mais do que os outros. Políticos e partidos importantes em pleitos anteriores saíram minguados das urnas – e com um futuro incerto.

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O ex-ministro e ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT) é um dos exemplos mais evidentes. Candidato à Presidência da República pela quarta vez, ele adotou uma estratégia equivocada ao longo da campanha eleitoral e acabou perdendo para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acabou eleito, para Jair Bolsonaro (PL) e até para a novata Simone Tebet (MDB).

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Ciro teve seu pior resultado em eleições presidenciais. Conquistou apenas 3,59 milhões de votos (3,04% dos válidos), um tombo comparado aos 13,34 milhões de votos de 2018. Até mesmo em Sobral (CE), berço político da família Ferreira Gomes, Ciro perdeu para Lula e Bolsonaro, ficando com 18,46% dos votos no município.

Outro revés para Ciro foi a derrota do seu candidato ao governo do Ceará: o pedetista Roberto Cláudio ficou em terceiro lugar na disputa vencida em primeiro turno por Elmano de Freitas (PT). A aliança com o PT no estado foi rompida na campanha deste ano, depois que o grupo político de Ciro optou por não indicar a governadora Izolda Cela para a corrida eleitoral pelo Palácio da Abolição. Izolda saiu do PDT e agora é uma das cotadas para assumir o Ministério da Educação no governo Lula.

No segundo turno, o PDT apoiou a candidatura de Lula. Ciro chegou a divulgar um vídeo após a derrota externando sua rejeição a Bolsonaro, mas sem citar o nome do ex-presidente. O próprio Ciro se isolou após o resultado do primeiro turno.

Doria, Serra, Garcia e o PSDB

Outro nome que saiu perdendo nesta eleição – apesar de não ter concorrido – foi o ex-governador de São Paulo João Doria. A intenção dele era concorrer à Presidência da República pelo PSDB. E até chegou a vencer as eleições prévias do partido, realizadas em novembro do ano passado, contra o governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Contudo, depois que Doria renunciou ao governo paulista para disputar o Palácio do Planalto, a executiva tucana passou a demonstrar desinteresse no pleito nacional, fazendo com que Doria retirasse sua pré-candidatura. "Entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Sou um homem que respeito o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal. Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve", afirmou Doria ao anunciar a desistência.

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Posteriormente, a sigla optou por apoiar a candidatura de Simone Tebet (MDB). Sem o governo paulista e sem apoio para concorrer ao Palácio do Planalto, Doria se afastou da vida pública e, mais recentemente, deixou o PSDB.

O próprio PSDB também teve derrotas amargas nestas eleições – apesar de ter tido uma sobrevida no segundo turno. Além de não ter lançado nenhum candidato à Presidência pela primeira vez em sua história, o partido que por décadas foi uma das principais forças da política brasileira não conseguiu eleger nenhum senador das 27 vagas que estavam em disputa. E viu sua participação na Câmara dos Deputados cair de 22 para 13 cadeiras.

Aécio Neves, um dos nomes históricos do partido, foi reeleito, mas com 21 mil votos a menos do que teve em 2018, sendo apenas o 34º mais votado em Minas Gerais. José Serra, um dos fundadores do PSDB, acabou ficando como suplente por São Paulo.

Os tucanos também perderam o controle do estado de São Paulo, depois de uma hegemonia de quase três décadas. O governador Rodrigo Garcia (PSDB), que era vice de Doria, acabou ficando em terceiro lugar na eleição pelo Palácio Bandeirantes, sem conseguir passar para o segundo turno. A eleição acabou vencida por Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro.

O segundo turno, porém, trouxe boas notícias para o PSDB. O partido conseguiu eleger três governadores: Eduardo Riedel, em Mato Grosso do Sul; Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul; e Raquel Lyra, em Pernambuco. Com isso, o partido venceu na mesma quantidade de estados que em 2018. O desempenho, porém, é inferior ao visto em anos anteriores. Em 2010, por exemplo, oito tucanos foram eleitos governadores, inclusive nos dois maiores colégios eleitorais – São Paulo e Minas Gerais.

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O partido Novo, apesar de Zema

Apesar de ter eleito Romeu Zema para um segundo mandato no governo de Minas Gerais, o partido Novo teve um resultado desanimador nas urnas em 2022. Seu candidato a presidente, Felipe d'Avila, fez apenas 559,7 mil votos (0,47% do total), muito aquém do conquistado pelo presidenciável do Novo em 2018, João Amoêdo, que teve 2,6 milhões de votos (2,5%)

Nas eleições legislativas, o desempenho também foi pior do que em 2018. A bancada do Novo na Câmara dos Deputados vai passar de oito para três parlamentares a partir do ano que vem. Com esse número, o partido não conseguiu atingir a cláusula de barreira, que neste ano previa a eleição de no mínimo 11 deputados federais. O principal impacto disso é o bloqueio do acesso ao Fundo Eleitoral. Mas como o partido adota a prática de não usar verbas públicas em suas campanhas, a maior consequência será a restrição à propaganda gratuita no rádio e na televisão. O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, atribuiu a baixa votação à polarização entre Bolsonaro e Lula.

Após a eleição, o partido ainda teve que lidar com uma crise interna: Amoêdo, um dos fundadores da legenda que nasceu em 2015, foi expulso por ter declarado voto em Lula no segundo turno. "Seu posicionamento não representa o Partido Novo e vai contra tudo o que sempre defendemos. A triste declaração constrange a instituição, que se mantém coerente com seus princípios e valores e reforça que Amoêdo não faz mais parte do corpo diretivo do partido desde março de 2020”, disse o partido em nota, após a declaração do ex-presidenciável sobre o voto no petista.

Ex-aliados de Bolsonaro

Parte da base que se elegeu com Bolsonaro em 2018 também saiu perdendo nesta eleição. São nomes que tiveram bom desempenho nas urnas naquele ano, apostando no sentimento antipetista, mas que, ao longo do mandato, acabaram rompendo com o presidente ou se afastando dele. É o caso dos deputados federais Alexandre Frota (Pros) e Joice Hasselmann (então no PSL e agora no PSDB) e da deputada estadual de São Paulo Janaína Paschoal (PRTB), que terminam seus mandatos neste fim de ano.

Outro exemplo é o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), que desembarcou do governo no primeiro ano da pandemia da Covid-19, por divergências com o presidente sobre as políticas de combate à doença. Ele tentou sem sucesso se eleger senador pelo Mato Grosso do Sul em 2022. Também foi o caso da ex-presidenciável Soraya Thronicke (União Brasil), que foi tachada pelos seus eleitores sul-mato-grossenses de “traidora” ao fazer uma campanha crítica a Bolsonaro.

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Para José Alves Trigo, doutor em análise de discurso político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, estes candidatos entraram numa espécie de “vácuo” ao se descolarem de Bolsonaro nos últimos anos, mantendo o mesmo discurso que tinham em 2018 sem se ligarem a um campo ideológico específico – além de estarem em estados fortemente pró-governo. “Eles e todos os outros que partiram para a ‘neutralidade’ nesta eleição vão precisar, em algum momento, decidir qual discurso vão tomar se quiserem continuar relevantes na política nacional”, diz.

Pesquisas eleitorais

Os institutos de pesquisa eleitoral também saíram com a imagem arranhada desta eleição. Após a votação do primeiro turno, em que as principais empresas do ramo não captaram o comportamento dos eleitores de direita, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Câmara dos Deputados para investigar a atuação dos institutos.

Na justificativa do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), o objetivo é investigar o que seria um “uso político a fim de influenciar o resultado das eleições em favor de determinados candidatos, partidos ou espectro político”.

As empresas também foram criticadas por analistas políticos após os resultados do primeiro turno. Vários foram os erros, principalmente nas disputas aos governos dos estados e ao Senado. “Os institutos vão ter que ir pro divã porque parece que não estão conseguindo captar esse movimento da direita, principalmente no Sudeste”, disse o cientista político Renato Dolci à CNN logo após o primeiro turno.

Alguns institutos passaram a rever seus métodos de pesquisa no segundo turno. A Quaest Pesquisa, por exemplo, passou a divulgar um modelo de "likely voters" (eleitores prováveis), na tentativa de diminuir o efeito da abstenção em suas pesquisas. A sondagem da empresa na véspera do segundo turno chegou próximo ao resultado das urnas: neste cenário, Lula teria 51,4% de e Bolsonaro, 48,6% (nas urnas, o petista fez 50,9% e Bolsonaro, 49,1%). Outros institutos, porém, continuaram com dificuldades em mensurar o comportamento de eleitores da direita, como foi o caso do Ipec (antigo Ibope), que estimou uma vitória de Lula por uma vantagem de oito pontos percentuais.

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Para Trigo, os institutos realmente precisam rever seus métodos de apuração das intenções do eleitorado – apesar de não concordar que haja má fé das empresas, como afirmam aliados do presidente Bolsonaro. O doutor em análise de discurso político acredita que a apuração principalmente da opinião de eleitores de direita, que chegaram a se recusar a responder pesquisas, é um dos principais pontos a serem revistos pelos institutos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]