Após uma campanha com muitas críticas a Lula, Ciro Gomes e o PDT decidem apoiar candidatura petista.| Foto: Fernando Bizerra/EFE
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O ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, e seu partido PDT oficializaram nesta terça (4) o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste segundo turno da eleição, com a condição do petista incorporar quatro propostas ao seu plano de governo. As conversas começaram ainda no domingo (2) após a apuração – o candidato pedetista terminou a eleição em quarto lugar, com apenas 3,04% dos votos (3.599.287 votos).

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Com isso, o plano de governo de Lula, que é alvo de críticas de adversários por conter apenas diretrizes, deve incorporar o programa de renda mínima de R$ 1 mil por família, a renegociação de dívidas de brasileiros que estão negativados nos serviços de proteção ao crédito (SPC/Serasa), o projeto de implantar a educação em tempo integral nas escolas brasileiras, e a revisão de parte da reforma trabalhista principalmente dos trabalhadores intermediados por aplicativos. (veja mais detalhes abaixo)

“Tivemos uma hora e meia de reunião com toda a executiva nacional de partido, e decidimos unanimemente a decisão de apoiar o mais próximo da gente que é o Lula, de 12 + 1. A nossa prioridade absoluta é derrotar Bolsonaro, não admitimos nenhum pedetista apoiando Bolsonaro”, disse Carlos Lupi, presidente do PDT, durante o anúncio.

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Ciro Gomes não participou do anúncio, se pronunciou logo depois. Mas, Lupi afirmou que ele endossa a decisão da executiva nacional mesmo com as críticas feitas ao longo da campanha. O presidente do partido minimizou e disse que esse “acirramento” faz parte de qualquer eleição, em que o “processo politico descamba, mas partido existe pra isso, que se reúne e acata. O Ciro endossa integralmente a decisão do partido, não viajará e já declarou esse apoio”, completou.

"Última saída"

Logo depois, Ciro Gomes fez um pronunciamento dizendo que segue a decisão do partido em apoiar a candidatura de Lula, mas lamenta que esta seja a saída para esta eleição.

“Frente às circunstâncias, é a ultima saída. Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que reste para os brasileiros apenas duas opções, ao meu ver, insatisfatórias. Não acredito que a democracia esteja em risco neste embate eleitoral, mas sim no absoluto fracasso em construir um ambiente de oportunidades que enfrente a mais massiva crise social e econômica que humilha a maioria esmagadora do nosso povo”, disse.

Ciro afirmou que aceita apoiar o ex-presidente sem pedir um cargo em troca, e que não aceitará um convite para compor o novo governo que for eleito. “Quero estar livre ao lado da sociedade, em especial da juventude, lutando por transformações profundas como as que propusemos durante nossa campanha”, completou.

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PT vai ter que acatar mais uma proposta

Lupi também afirmou que uma outra proposta de Ciro será incorporada ao plano de Lula: a de se criar um "Código Nacional do Trabalho" para revogar trechos da reforma trabalhista que, segundo ele, retiraram direitos dos trabalhadores.

Com esse apoio, a campanha de Lula espera conseguir boa parte dos quase 3,6 milhões de votos de Ciro no primeiro turno, que pode aumentar a margem sobre Bolsonaro na disputa da segunda rodada eleitoral.

MDB, PSDB e Podemos podem ser os próximos

A campanha de Lula espera, agora, o apoio dos partidos que integraram a coligação de Simone Tebet (MDB), que terminou a eleição em terceiro lugar com 4,9 milhões de votos. O partido dela, o PSDB e o Podemos devem anunciar seus posicionamentos entre esta terça (4) e quarta (5).

A expectativa é de que o MDB oficialize apoio ao petista, por conta das afirmações que Tebet fez ao longo da campanha contra o presidente Bolsonaro. E, mesmo nos estados em que saiu com candidato próprio ou em coligação, o partido foi com Lula.

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Levantamento feito pela Gazeta do Povo aponta que dos nove estados em que a legenda teve candidato próprio, três estiveram com Lula. Já nos outros 18 em que o partido estava coligado, três apoiaram Bolsonaro e sete fizeram campanha para o petista.

Por outro lado, o Cidadania, que também fez parte da coligação de Simone Tebet, oficializou o apoio a Lula na tarde desta terça (4). Em uma sequência de postagens nas redes sociais, o partido diz que chegou a essa decisão "diante dos riscos de escalada autoritária de um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro".

Em uma nota publicada no site da legenda um dia antes, Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, elogiou o desempenho de Tebet na eleição e pediu que a executiva nacional oficializasse o apoio ao petista.

Disputa pelo União Brasil

Além dos votos de Ciro e Simone, a coligação de Lula está em busca também dos 600 mil votos de Soraya Thronicke, do União Brasil. Em um pronunciamento nesta segunda (3), Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, disse que iria conversar com o partido, que conquistou a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, com 59 deputados, e a segunda maior do Senado, com 12 cadeiras.

A própria Soraya foi crítica a Bolsonaro ao longo do primeiro turno, mas manteve a neutralidade nos primeiros posicionamentos após a votação de domingo. “A semeadura é facultativa, a colheita é obrigatória. Boa sorte, Brasil”, disse em uma publicação no Twitter.

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Luciano Bivar, presidente do União Brasil, ainda não se pronunciou. À reportagem, o partido disse que ele vai se reunir com aliados nesta quarta (5), em Brasília, para bater o martelo e oficializar o apoio para o segundo turno entre quinta (6) e sexta (7).

No entanto, o vice-presidente do partido, Antônio Rueda, tem conversado com os partidos dos candidatos, inclusive com Bolsonaro, com quem tem contato através do filho Flávio Bolsonaro, senador do PL.

Propostas de Ciro incorporadas ao programa de Lula

Veja abaixo quais são as propostas do plano de governo de Ciro Gomes que serão incorporadas ao de Lula para ter o apoio do PDT no segundo turno:

1- Renda mínima de R$ 1 mil
Embora não seja citado no programa oficial protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o projeto intitulado de “Programa Eduardo Suplicy” vai englobar o Auxílio Brasil, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o seguro-desemprego e a aposentadoria rural, ao custo de R$ 170 bilhões ao ano.
As diretrizes apresentadas por Lula já mencionas um plano semelhante, citado como “renda básica de cidadania”, mas sem citar valores. Ciro Gomes pretendia financiar o programa com um imposto sobre grandes fortunas e remanejamento de recursos já existentes, o que não é sinalizado pelo petista.

2- Renegociação de dívidas dos brasileiros no SPC/Serasa
O programa de Ciro Gomes diz que o endividamento privado de famílias e empresas deverá ser renegociado com taxas de juros menores e prazos mais longos de pagamento, incluindo as dívidas contraídas com o Financiamento Estudantil (FIES), a ser iniciado pelos bancos públicos e, posteriormente, com os privados. Lula já prometeu esta ação e disse que pretende avançar na regulação e incentivar “medidas para ampliar a oferta e reduzir o custo do crédito, ampliando a concorrência no sistema bancário”.

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3- Educação em tempo integral
Em seu plano de governo, Ciro Gomes propunha a educação em tempo integral para o ensino fundamental e para o ensino médio profissionalizante, com o “suporte técnico e administrativo do governo federal para a sua implementação”. Já as diretrizes de Lula não preveem explicitamente o ensino em tempo integral, apenas mais investimentos e metas do Plano Nacional de Educação.

4- Código Brasileiro do Trabalho (CBT)
O plano de governo de Ciro Gomes prevê uma revisão na legislação trabalhista brasileira que “abranja as melhores e mais modernas práticas de proteção internacionais e as Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, diz. O documento prevê regulamentar o trabalho intermediado por aplicativos, com “patamares de higiene, segurança e de ganhos compatíveis com o Princípio da Dignidade de Pessoa Humana”.
A medida não é inédita e já está também no plano de governo de Lula. O petista pretende propor “a partir de um amplo debate e negociação, uma nova legislação trabalhista de extensa proteção social a todas as formas de ocupação, de emprego e de relação de trabalho”. Ele pretende, ainda, revogar o que chama de “marcos regressivos da atual legislação trabalhista, agravados pela última reforma e reestabelecendo o acesso gratuito à justiça do trabalho”.