O debate entre as candidatas ao governo de Pernambuco, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB), realizado na noite desta quinta (27) pela TV Globo, deixou as proposta para o estado de lado e se transformou em uma discussão sobre relações de família e apoios na eleição presidencial.
Marília, que é apoiada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fez comício com ele recentemente, tentou ao longo do programa colar a imagem de Raquel ao presidente Jair Bolsonaro (PL), embora ela tenha declarado neutralidade desde o começo da campanha.
A estratégia de Marília se explica pela quantidade de votos dos dois presidenciáveis em Pernambuco no primeiro turno: Lula fez 65,27% dos votos válidos e Bolsonaro, 29,91%. Já a votação entre elas foi muito mais apertada no primeiro turno: Marília fez 23,97% dos votos e Raquel, 20,58%, uma diferença de apenas 3,39% dos votos entre elas (pouco mais de 166 mil eleitores).
Marília Arraes também provocou Raquel Lyra por não se posicionar na disputa nacional, afirmando que a suposta neutralidade seria para esconder seu apoio ao governo de Bolsonaro. Parte do PSDB nacional apoia o candidato à reeleição, como o deputado federal Adolfo Viana (BA), líder do partido na Câmara dos Deputados, mas o partido liberou os diretórios estaduais para apoiar Lula ou Bolsonaro.
“Antes de responder, candidata, eu queria só tirar uma dúvida: o que é que você acha sobre a corrupção do governo Bolsonaro, existe ou não existe”, questionou sendo respondida logo depois: “toda e qualquer corrupção merece ser investigada e punida, e os representantes, quem quer que seja, merecem responder por isso”.
As falas foram repetidas mais quatro vezes na sequência até que Arraes emendou dizendo “a candidata sequer se pronuncia em relação aos absurdos que estão acontecendo no governo Bolsonaro. Não diz se existe, se não existe”, concluiu respondendo a pergunta original.
Raquel reafirmou que é a justiça que diz se há corrupção ou não e, em mais de um momento, relembrou a carreira de delegada da Polícia Federal entre os anos de 2002 e 2005, quando disse ter feito diversas operações.
Corrupção em Pernambuco e briga em família
A candidata tucana também relacionou Marília à corrupção, tentando colar a imagem da adversária ao atual governador Paulo Câmara (PSB), alvo de denúncias, e a Lula, a quem apoia e faz campanha no estado. Ela disse que Arraes “representa a continuidade de um grupo político que faz de tudo para se manter no poder”.
Marília rebateu, levando a discussão para o âmbito nacional, dizendo que “temos dois projetos [de país] em jogo, não dá pra ficar em cima do muro. Aqui em Pernambuco, todos sabem que sou oposição, Raquel. Não dá para ficar repetindo uma mentira mil vezes, ela não se torna verdade. Sou uma oposição alinhada ao que Lula quer fazer no Brasil”.
Raquel rebateu se dizendo “perplexa capacidade que essa candidata tem de mentir, ela já perdeu 12 ações contra a nossa campanha”, e levou a discussão para o lado familiar.
“Olha, não sou teu primo, aqui não é uma briga na cozinha da tua casa que vocês brigam de dia e se arrumam de noite e no almoço de domingo”, citando o distanciamento que Marília teve de João Campos (PSB) e que foram reunidos de novo em um comício de Lula. Arraes rebateu e disse que a adversária mentia sobre isso.
“O debate presidencial será amanhã [sexta]”, completou Raquel, tentando cortar as investidas da adversária em levar a discussão para o âmbito nacional.
Propostas para o estado em meio às farpas
A discussão de propostas para o novo governo de Pernambuco ficou em segundo plano durante o debate entre Marília Arraes e Raquel Lyra, mas centrou em temas como educação, maternidade, violência e segurança pública.
Este último assunto teve consenso entre as duas candidatas, que criticaram a gestão de Paulo Câmara à frente do programa Pacto Pela Vida, política implementada no primeiro governo de Eduardo Campos (PSB), falecido em 2014 em um acidente aéreo. Ambas afirmaram que pretendem reestruturar o programa com investimento em inteligência, nas polícias Científica e Militar, entre outras ações divergentes nas propostas delas.
Já o tema maternidade rendeu um ataque de Marília à Raquel, citando que a adversária teria deixado de construir uma maternidade em Caruaru, quando era prefeita, entre 2017 e 2022. Ao que Lyra rebateu dizendo que vai poder concluir esta e outras obras para o estado buscando dinheiro do Governo Federal por meio de emendas parlamentares.
Outro tema divergente entre as candidatas foi a construção de creches nos municípios pernambucanos, em que Marília afirmou ser possível através de uma nova redistribuição do ICMS, para que o estado consiga atingir a meta de ter 50% das crianças nestes espaços. Raquel Lyra questionou se as prefeituras terão de esperar a arrecadação de um ano inteiro para poder distribuir a verba, ao que Arraes desconversou e afirmou que, se eleita, seu governo teria articulação com um eventual governo de Lula para o envio de verbas.
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