O aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, válido até dezembro, já começou a surtir efeito positivo na candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). As últimas pesquisas BTG/FSB, Datafolha e PoderData apontam um crescimento das intenções de voto no candidato entre os beneficiários do programa social, que substituiu o antigo Bolsa Família no início deste ano.
O Auxílio Brasil de R$ 600 começou a ser pago no início de agosto, após o Congresso Nacional promulgar, em 14 de julho, a Emenda Constitucional 123/22, oriunda da chamada "PEC dos Benefícios". Acusada pela oposição de ser uma medida eleitoreira do governo, a emenda incluiu mais 2,2 milhões de famílias no programa e o total de lares beneficiados chegou a 20,2 milhões.
Com mais famílias inseridas no programa e um "ticket" médio maior, a BTG/FSB verificou um salto de 11 pontos percentuais nas intenções de voto em Bolsonaro entre beneficiários do Auxílio Brasil. O salto foi registrado entre as pesquisas de 11 de julho, antes da promulgação da PEC, e da última segunda-feira (22).
A taxa geral de intenção de voto em Bolsonaro subiu de 20% para 31% nesse período de pouco de mais de um mês, aponta a BTG/FSB. Em uma semana, a alta é igualmente expressiva, com um avanço de sete pontos percentuais. Na pesquisa de 15 de agosto, a taxa entre aqueles que afirmavam votar no presidente e receberam o Auxílio Brasil era de 24%.
Já o levantamento do Datafolha, publicado na última quinta-feira (18), também mostra um crescimento de Bolsonaro entre os beneficiários do Auxílio Brasil. Em julho, 26% indicavam o voto no presidente. Em agosto, a taxa avançou para 28%, um progresso de dois pontos percentuais.
A alta também pode ser observada nos dados do PoderData. Levantamento publicado em 4 de agosto apontava que a intenção de votos de Bolsonaro entre os beneficiários do Auxílio Brasil era de 25%. Já a última pesquisa do instituto publicada duas semanas depois aponta que a taxa subiu para 39%, um aumento de 14 pontos percentuais.
Outros impactos gerados pela PEC dos Benefícios
O Auxílio Brasil de R$ 600 foi o "carro-chefe" entre as medidas promulgadas pela PEC dos Benefícios, mas não a única. Também foi aprovado o aumento de R$ 55 para R$ 110 no Auxílio Gás pago bimestralmente, com tickets em agosto, outubro e dezembro.
O "vale-gás" é pago para as famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) para programas sociais do governo federal com renda per capita menor ou igual a meio salário mínimo e que estejam no Auxílio Brasil, ou que recebam o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Em agosto, eram 5,6 milhões de famílias aptas a receber o auxílio.
Os programas Auxílio Brasil e Auxílio Gás beneficiam famílias de eleitores que recebem até dois salários mínimos. É uma fatia do eleitorado onde a intenção de voto em Bolsonaro registrou alta.
Entre 11 de julho e 15 de agosto, o índice entre aqueles que recebem até um salário mínimo desacelerou de 17% para 15%. Em 22 de agosto, subiu para 20%. Já entre os que recebem de uma a duas rendas mínimas subiu de 26% em julho para 29% no primeiro e, depois, para 31% na última pesquisa, aponta a BTG/FSB.
O crescimento entre os menos abastados não foi, porém, captado nas outras pesquisas. O Datafolha aponta em agosto uma estagnação de Bolsonaro em 23% em relação a julho na faixa entre as famílias que recebem até dois salários mínimos. Já o PoderData aponta até uma desaceleração de 32% para 30% neste mesmo grupo do eleitorado na comparação entre as últimas pesquisas.
Como a PEC influenciou o preços dos combustíveis
Outras três medidas da PEC dos Benefícios também influenciam diretamente na popularidade de Bolsonaro. Uma delas é a compensação aos estados que reduzirem suas alíquotas de ICMS sobre o etanol. Embora não tenha sido a principal medida responsável pela diminuição dos preços dos combustíveis, é uma providência que está presente no discurso da campanha quando a emenda constitucional é referenciada.
Até o fim de julho, ao menos oito estados e o Distrito Federal haviam anunciado a redução de ICMS sobre o etanol. Como a gasolina comum pode ter até 27% de álcool em sua composição, é uma medida que auxiliou na desaceleração dos preços na economia. Em julho, houve deflação, e Bolsonaro disse a prefeitos prever outra em agosto.
A queda do preço dos combustíveis e a consequente desinflação gera um impacto natural entre os mais pobres, mas também é bastante sentida entre a classe média. Não é para menos que os melhores resultados nas intenções de voto em Bolsonaro foram captados entre eleitores que recebem de dois a cinco salários mínimos.
A BTG/FSB aponta que, entre 11 de julho e 22 de agosto, o índice de votos de Bolsonaro entre a classe média subiu de 39% para 43%, alta de quatro pontos percentuais. Em 15 de agosto, o indicador era de 40%, ou seja, o avanço foi de três pontos percentuais em uma semana.
Também na comparação semanal, a pesquisa da BTG/FSB aponta um salto de 64%, em 15 de agosto, para 72% em 22 de agosto entre os eleitores que acham que os preços dos combustíveis estão "um pouco" ou "muito menores". Em 25 de julho, quando saiu o primeiro dado dessa série histórica, o índice era de 54%. A taxa entre os que acham que os custos estão "muito maiores" ou "pouco maiores" caiu de 25% para 21%.
O Datafolha aponta que, entre os que recebem dois a cinco salários mínimos, Bolsonaro saltou de 34%, em julho, para 41% em agosto. Entre o mesmo grupo, o PoderData indica que a intenção de votos do presidente subiu de 35% para 45% nas últimas pesquisas.
Outras medidas promulgadas pela PEC são a criação de auxílios temporários para cerca de 900 mil caminhoneiros e aproximadamente 245,2 mil taxistas. Segundo pesquisas encomendadas e publicadas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2016, sobre taxistas, e em 2019, sobre caminhoneiros, os trabalhadores de ambas as categorias se encaixam na faixa de dois a cinco salários mínimos.
Como fica Bolsonaro em relação a Lula e o que a campanha acha dos dados
Os resultados alcançados entre os eleitores que recebem o Auxílio Brasil, entre as famílias que recebem até dois salários mínimos e entre os que recebem de dois a cinco salários mínimos são comemorados pelo comitê da campanha de Bolsonaro. Para os coordenadores eleitorais, são indícios que sinalizam uma redução da diferença nos indicadores gerais de intenção de voto do presidente para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A BTG/FSB aponta, por exemplo, uma alta de 34% para 36% do indicador geral de intenção de votos de Bolsonaro entre 15 e 22 de agosto. No mesmo período, Lula ficou estagnado em 45%. Ou seja, a diferença entre ambos caiu para nove pontos percentuais. A diferença, porém, é a mesma observada em 11 de julho, quando o presidente tinha 32% e o ex-presidente tinha 41%.
A mesma pesquisa aponta que, em 11 de julho, Lula tinha 54% dos votos entre os beneficiários do Auxílio Brasil, contra os 20% de Bolsonaro, ou seja, uma diferença de 34 pontos percentuais. Chegou a 61% em 15 de agosto e caiu para 52% em 22 de agosto, reduzindo a vantagem para 21 pontos.
Entre os eleitores que recebem até um salário mínimo, Lula saiu de 53% em 11 de julho para 66% em 15 de agosto, quando chegou a uma diferença de 51 pontos para Bolsonaro. Porém, no último levantamento, desacelerou para 64%, reduzindo a margem em relação ao presidente para 44 pontos, indica a BTG /FSB.
Entre os eleitores que recebem de uma a duas rendas mínimas, Lula recuou de 52% em julho para 49% em 15 de agosto. Na última pesquisa, oscilou positivamente para os 50% e manteve uma diferença de 19 pontos para Bolsonaro.
Já entre os eleitores que recebem de dois a cinco salários mínimos, Lula avançou de 35% em julho para 38% no primeiro levantamento publicado em agosto, mas desacelerou para 36% na pesquisa publicada em 22 de agosto. Com isso, Bolsonaro ficou sete pontos percentuais acima, a maior margem para o adversário no período.
O Datafolha foi outro instituto a observar um encurtamento entre Lula e Bolsonaro no indicador geral. Em julho, o petista tinha 47% das intenções de voto, 18 pontos percentuais acima dos 29% registrados pelo presidente. Em agosto, a diferença cai para 15 pontos, com o ex-presidente estagnado e o chefe do Executivo indo a 32%.
Entre os beneficiários do Auxílio Brasil, o Datafolha aponta que Lula subiu de 53% em julho para 56% em agosto. Com isso, ele ampliou a diferença para Bolsonaro de 27 pontos para 28 pontos percentuais no período. Entre os que recebem até dois salários mínimos, o ex-presidente oscilou positivamente um ponto, atingindo os 55%, 32 pontos acima do presidente.
Entre aqueles que recebem de duas a cinco rendas mínimas, Lula recuou de 40% para 38%, ou seja, ficou abaixo de Bolsonaro, que, entre julho e agosto, subiu sete pontos percentuais, de 34% para 41%, diz o Datafolha. É a primeira vez que o presidente supera o petista nesse grupo do eleitorado.
O PoderData também mostrou uma diminuição da margem entre Lula e Bolsonaro no índice geral nas duas últimas pesquisas. No levantamento publicado em 4 de agosto, o petista liderava por 43% a 35%, uma diferença de oito pontos. Na última pesquisa, a vantagem foi de 44% a 37%, um diferencial de sete pontos.
Entre os beneficiários do Auxílio Brasil, a intenção de votos de Lula caiu de 58% para 47%. Ou seja, sua diferença para Bolsonaro caiu de 33 pontos para oito pontos. Entre as famílias de eleitores que recebem até dois salários mínimos, o petista oscilou negativamente de 49% para 48%, uma vantagem de 19 pontos para o presidente.
Entre os eleitores que recebem de duas a cinco rendas base, ambos estavam empatados no primeiro levantamento do mês, com 35% das intenções de voto. Porém, na última pesquisa, publicada em 17 de agosto, Lula subiu três pontos, chegando a 38%, e Bolsonaro saltou sete pontos a frente.
Veja as metodologias das pesquisas citadas na reportagem
BTG /FSB
BTG /FSB de 11 de julho: O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 8 e 10 de julho de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-09292/2022
BTG/FSB de 15 de agosto: O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 12 e 14 de agosto de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-00603/2022.
BTG/FSB de 22 de agosto: O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 19 e 21 de agosto de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-00244/2022.
Datafolha:
Datafolha de julho: O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 27 e 28 de julho em 183 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A margem de erro específica na segmentação por renda familiar mensal até dois salários mínimos é de 2,7 pontos; a de dois a cinco salários é de 3,5 pontos.
Datafolha de agosto: O Datafolha entrevistou 5.744 eleitores entre os dias 16 e 18 de agosto em 281 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-09404/2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
PoderData
PoderData de 4 de agosto: O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3,5 mil eleitores em 322 municípios nas 27 unidades da Federação entre os dias 31 de julho e 2 de agosto de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no TSE sob o número número BR-08398/2022. A margem de erro para o segmento do Auxílio Brasil é de 3,4 pontos para mais ou menos. Para o segmento de até dois salários mínimos é de 2,5 pontos para mais ou menos; para o segmento de dois a cinco salários mínimos é de 3 pontos para mais ou menos.
PoderData de 17 de agosto: O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3,5 mil eleitores em 331 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 14 e 16 de agosto de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no TSE sob o número BR-02548/2022. A margem de erro para o segmento do Auxílio Brasil é de 3,4 pontos para mais ou menos. Para o segmento de até dois salários mínimos é de 2,5 pontos para mais ou menos; para o segmento de dois a cinco salários mínimos é de 3 pontos para mais ou menos.
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