A eleição de 2022 pode reverter um quadro registrado nas últimas disputas: o do crescimento de votos brancos e nulos, e também do elevado número de cidadãos que não comparecem para votar. A polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), somada ao declínio da pandemia de coronavírus, deve levar a uma diminuição do desinteresse pelo voto.
Desinteresse pelo voto, ou “alienação eleitoral”, é o termo utilizado pela ciência política para contabilizar, em um único indicador, os votos brancos e nulos e também os eleitores ausentes, seja por decisão própria ou por outros fatores. O desinteresse saltou de 18% para 25% entre 2006 e 2018, período que compreende quatro eleições presidenciais.
Os números foram detectados em pesquisa do Instituto Votorantim e divulgados em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O levantamento identificou que o crescimento da alienação se deu principalmente na Região Sudeste, que sofre uma elevação tanto na abstenção quanto nos votos brancos e nulos. Outro dado das pesquisas é o de que o eleitorado jovem, de até 24 anos, é o de menor comparecimento às urnas.
A eleição de 2020, em que foram eleitos vereadores e prefeitos, foi a de maior abstenção nos últimos anos: 24,27%. É o maior patamar da série histórica analisada pelo Votorantim. Parte da falta de comparecimento se explica pela pandemia de coronavírus – o pleito foi, até agora, o único realizado desde a deflagração da crise sanitária causada pela Covid-19. No Brasil, o voto é obrigatório, mas as punições para quem não comparece às urnas são brandas.
Foco nos jovens para reverter desinteresse pelo voto
A abstenção entre os jovens é “muito preocupante” e foi um dos fatores responsáveis pelas vitórias da esquerda nas eleições presidenciais do Chile e da Colômbia. A análise é de Evandro Araújo, coordenador do Movimento Conservador do Distrito Federal e apoiador do presidente Bolsonaro. Ele identifica nas redes sociais um caminho para reverter o quadro, e acredita que a mobilização em torno das duas principais candidaturas ao Palácio do Planalto também deve contribuir.
“Não sei dizer se a abstenção agora vai ser maior ou menor que a de anos anteriores. Mas uma coisa está muito clara: só existem duas escolhas, Bolsonaro ou Lula”, declarou.
A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, atribui a elevação do desinteresse pelo voto ao que chama de “ascensão das ideias da negação e da criminalização da política, e de muita desinformação”.
“Porém, como atuamos na base, nas escolas, universidades, o que vejo é um grande interesse de participação dessa geração, e hoje incluindo o mundo virtual e redes sociais, muitos estudantes estão entendendo mais a política como um meio para combater opressões e na defesa dos seus direitos”, afirmou.
Ela também destacou campanhas de estímulo ao voto jovem promovidas por entidades como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nulos e brancos podem diminuir, diz pesquisador
O quadro de polarização pode ser decisivo para a diminuição dos votos nulos e brancos, explica Marcelo Tokarski, diretor do Instituto FSB Pesquisa. “É a primeira vez que temos uma disputa entre um presidente e um ex-presidente”, afirmou.
Ele relata que pesquisas produzidas pela instituição mostram que, até o momento, é pequeno o percentual de eleitores que rejeita tanto Lula quanto Bolsonaro. “Lula tem rejeição de cerca de 44%, Bolsonaro tem de 50%. Mas quando vemos quem vai votar em um ou em outro, verificamos 90%”, disse.
Tokarski citou ainda que os levantamentos mostram uma faixa de brancos e nulos que oscila próximo de 7%. É um patamar, segundo ele, menor do que o registrado nas eleições presidenciais realizadas entre 2002 e 2018, que ficou entre 8,8% e 10,4%.
O diretor da FSB Pesquisa disse ainda que a abstenção eleitoral é um fenômeno complexo de ser medido em pesquisas. “É difícil, no Brasil, a gente medir isso por pesquisa, porque o voto é obrigatório. Então quando pergunta para a pessoa se ela vai votar, 93% do eleitorado diz que com certeza vai votar. E a gente sabe que a abstenção é bem maior do que esses 7% que dizem que provavelmente não vão, ou que com certeza não vão votar”, ressaltou.
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