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João Doria (SP), Ibaneis Rocha (DF) e Wilson Witzel (RJ)
Eleitos em 2018, João Doria (SP), Ibaneis Rocha (DF) e Wilson Witzel (RJ) se apresentavam como a nova política.| Foto:

As eleições de 2018 tiveram uma série de candidatos novatos, em sua primeira disputa por cargos eletivos, que se elegeram governadores. Foi o caso de de Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro; Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais; Ibaneis Rocha (MDB) no Distrito Federal; e Marcos Rocha (PSL), em Rondônia. Eles saltaram, em poucos meses, de desconhecidos do grande público para vencedores nas urnas. O ambiente que deu a vitória aos novatos em 2018, porém, não parece estar em alta na disputa atual. A pré-campanha tem sido protagonizada por políticos tradicionais tanto nas pesquisas como nas articulações dos partidos.

Levantamento feito pela Gazeta do Povo com pesquisas eleitorais em 16 estados verificou que, na quase totalidade deles, os nomes em destaque são os de políticos tradicionais, ou os de "ex-novatos" – isto é, os que foram eleitos em 2018 e, agora, voltarão a buscar os votos dos cidadãos, mas já não mais na condição de novidade. Virtuais candidatos à reeleição, Zema e Ibaneis se encaixam nessa categoria.

O governador de Minas, aliás, deve ter outro "ex-novato" como adversário: o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Kalil foi eleito para o posto em 2016 também sob o discurso de rompimento com a política tradicional. Foi reeleito com larga vantagem em 2020 e agora é pré-candidato ao governo de Minas. O panorama de momento em Minas é de favoritismo para Zema e Kalil, jogando para segundo plano PT e PSDB, partidos que por muito tempo foram hegemônicos no estado.

São Paulo e Rio têm novatos com apoio de medalhões

Se o Rio de Janeiro elegeu Wilson Witzel em 2018, que até então nunca tinha disputado uma eleição, São Paulo não ficou tão atrás: o estado mais populoso do país escolheu na ocasião João Doria (PSDB) – que apesar de já ter chegado à disputa na condição de ex-prefeito da capital paulista, ainda se apresentava como um nome de fora da política tradicional.

Em 2022, os dois estados mais populosos do país tendem a ter de escolher políticos mais tradicionais. Quem lidera a pré-campanha em São Paulo, segundo pesquisa do Ipespe feita em fevereiro, é Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro da Educação e candidato a presidente da República em 2018. Um dos seus principais potenciais adversários é o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) – que, apesar de nunca ter disputado uma eleição majoritária como cabeça de chapa, acumulou mandatos de deputado e foi presidente da Assembleia Legislativa paulista.

Já no Rio, o governador Cláudio Castro (PL) apareceu tecnicamente em primeiro lugar, de acordo com pesquisa do Real Time Big Data divulgada em 15 de março. Ele assumiu o mandato após a cassação de Witzel, em 2021. Na ocasião, já não era um novato em disputas eleitorais, pois havia sido eleito vereador da cidade do Rio em 2016.

Quem disputa a liderança com Castro no Rio é o deputado federal Marcelo Freixo (PSB). O parlamentar é um dos políticos tradicionais da esquerda local, com quatro mandatos de deputado e duas candidaturas derrotadas à prefeitura do Rio de Janeiro.

Tanto em São Paulo quanto no Rio dois nomes novos não muito tradicionais na política tentam avançar na pré-campanha com o apoio de figuras conhecidas. Em São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que chega à disputa com o apoio do presidente Jair Bolsonaro., pretende disputar o governo estadual. O ministro é carioca e mora em Brasília, e ainda não escolheu o partido pelo qual disputará a eleição. Nunca disputou uma eleição, mas não se pode dizer que seja exatamente um outsider da política, já que é ministro.

No Rio, o advogado Felipe Santa Cruz (PSD) também vai concorrer ao governo estadual. Ele foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ganhou notoriedade nacional ao trocar farpas públicas com o presidente Jair Bolsonaro. Nunca teve cargo eletivo, mas já disputou as eleições de 2004 – quando tentou uma cadeira de vereador no Rio de Janeiro, não sendo eleito.

Até o momento, entretanto, nem Santa Cruz nem Tarcísio registraram bom desempenho nas pesquisas.

Disputa pelo Senado também tem protagonismo de políticos tradicionais

As eleições para o Senado também têm como protagonistas, até o momento, pré-candidatos veteranos. A maior parte dos levantamentos nos estados indica o favoritismo de senadores que buscarão a reeleição ou de detentores de outros cargos que tentarão uma vaga ao Senado.

O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, é um dos poucos novatos que se destaca nesta fase de pré-campanha. Um dos principais apoiadores de Bolsonaro no meio empresarial, Hang deve concorrer ao Senado por Santa Catarina, mas ainda não definiu por qual partido.

Outras caras novas na disputa devem ser duas médicas que se tornaram conhecidas por serem defensoras do tratamento precoce contra a Covid-19. Nise Yamaguchi é pré-candidata pelo PTB em São Paulo e Raíssa Soares, pelo PL na Bahia.

São Paulo também poderá ter a candidatura do jornalista José Luiz Datena, filiado ao União Brasil. Ele, porém, chegou a se apresentar como pré-candidato em outras eleições, mas acabou não concorrendo.

Ambiente de 2018 era mais propenso a novidades, diz especialista

O cientista político Rafael Cortez acredita que o cenário de 2022 tende a ser menos favorável a novidades na comparação com 2018. Segundo ele, dois elementos tornaram a disputa de quatro anos atrás "muito singular": a Operação Lava Jato, que incriminou políticos de diferentes partidos, e a facada sofrida pelo então candidato Jair Bolsonaro, que alterou a dinâmica eleitoral daquele ano.

"Tudo aquilo gerou um ambiente político bem mais propenso a candidaturas de fora [da política], mas este quadro deve ter um peso diminuto em 2022. Quem entra de fora na política nacional precisa enfrentar um custo de entrada muito alto, que não é todo mundo que tem condições de pagar", diz o cientista político.

Segundo Cortez, outro ponto que pode fortalecer as candidaturas "convencionais" em 2022 é a aproximação do presidente Bolsonaro e de seus apoiadores a partidos relacionados ao Centrão – como PL, PP e PTB. "A filiação a um partido tradicional, na busca pela reeleição, é o resultado da adaptação de Bolsonaro ao quadro político", disse. Cortez recordou a fracassada tentativa de Bolsonaro de criar o seu próprio partido, o Aliança Pelo Brasil, que abrigaria o eleitorado conservador. O presidente acabou optando por se filiar ao PL.

O cientista político menciona ainda que o fortalecimento da cláusula de barreira, que tira recursos do fundo partidário de legendas que não obtiverem um bom desempenho eleitoral, também fecha espaço para novidades. "O efeito mais óbvio dessa medida é incentivar a candidatura de quem já tenha um capital político."

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

São Paulo
O levantamento Ipespe, encomendado pela XP Investimentos, ouviu mil eleitores do estado de São Paulo entre os dias 14 e 16 de fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-03574/2022.

Rio de Janeiro
O Real Time Big Data ouviu, por telefone, 1.500 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 12 e 14 de março de 2022. A margem de erro é de três pontos percentuais, com um intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi contratada pela Record TV e seu registro do Tribunal Superior Eleitoral é RJ-00573/2022.

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