A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçou estratégias para tentar evitar a abstenção de eleitores no dia do primeiro turno. O PT avalia que Lula pode ser prejudicado em sua tentativa de vencer a eleição no primeiro turno se houver um número elevado de pessoas que venham a deixar de votar. E isso ocorre devido ao perfil desse eleitor, que tenderia a ser mais favorável ao petista.
Articuladores do PT acreditam que os portadores de necessidades especiais, idosos e eleitores com menos escolaridade são os grupos mais suscetíveis a não comparecer às urnas no dia 2 de outubro. Além disso, o crescente temor da violência política pode levar eleitores de outros grupos a optarem por não votar. Para tentar evitar ao máximo a abstenção, o ex-presidente Lula centrou sua agenda na reta final dessa campanha direcionada para os públicos mais propensos à abstenção.
No último dia 13, durante reunião com influenciadores, Lula explicou porque considera um “problema sério” o alto número de abstenções registrado em eleições anteriores. "É importante que a gente tenha uma mensagem para essas pessoas, porque a pessoa que não vota perde um pouco da autoridade de cobrar de quem foi eleito. É importante participar do processo, mesmo quem quer se abster de votar. Essas pessoas têm pensamento para a família, para o país, têm um desejo para o tipo de vida que quer para sua família, e isso está muito ligado ao tipo de política que pode ser feita no Brasil", disse.
Em 2018, quase 30 milhões de eleitores não votaram no primeiro turno das eleições, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao todo, os ausentes representaram 20,33% do eleitorado daquela eleição.
Em alguns segmentos, essa taxa foi ainda maior, e isso tem forte relação com o nível de educação formal (quanto menor, maior é a abstenção). No eleitorado analfabeto, por exemplo, a abstenção atingiu 50%. A taxa ficou em 29% entre os alfabetizados. Dentro do segmento dos brasileiros letrados, a abstenção também é maior entre os que tem menos escolaridade. Ficou em 22% entre os eleitores que iniciaram ou concluíram o ensino fundamental. Por outro lado, apenas 11% dos que completaram o ensino superior deixaram de votar.
Na avaliação da campanha do PT, esse grupo de eleitor pode ser determinante na estratégia de vencer a disputa presidencial ainda no primeiro turno. Levantamento mais recente do instituto FSB, divulgado no último dia 19, por exemplo, mostrou que Lula tem 54% das intenções de voto entre os eleitores menos escolarizados, com apenas o ensino fundamental. Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve 28% nesse segmento. Por isso, a campanha de Lula vai incentivar ao máximo o comparecimento às urnas.
Campanha de Lula também quer evitar abstenção de eleitores com mais de 70 anos
No Brasil, o voto é facultativo para idosos acima dos 70 anos. E, de acordo com o TSE, em 2018 a abstenção entre os eleitores de 70 e 74 anos, por exemplo, foi de 44,74%.
Por isso, aliados do ex-presidente Lula intensificaram a busca por esse eleitorado nos últimos dias. Na última quinta-feira (22), Lula acenou para os idosos em um evento em São Paulo. O ex-presidente reforçou promessas como a de ampliar o número de especialidades médicas na rede pública em cooperação com estados e municípios. Além disso, defendeu que a proposta de reajustar o salário mínimo pelo crescimento da média do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos cinco anos beneficia também aposentados e pensionistas. Também prometeu uma "Previdência humanizada" se for eleito.
O ex-presidente também prometeu investir em cuidadores de idosos, ressaltando a importância deste tipo de função. “Tem uma profissão que vai se tornar forte que é a dos cuidadores. Nós vamos ter que formar muita gente e nós temos que transformar isso em um serviço público”, afirmou. De acordo com membros da campanha, uma das estratégias é reforçar a imagem de carinho e cuidado com idosos, incluindo aqueles de classe média.
Antes disso, o petista já havia se encontrado com representantes de movimentos que atuam em defesa dos direitos das pessoas com deficiência.
PT avalia que clima de violência política pode ampliar a abstenção
A campanha de Lula acredita que os casos de violência política podem ampliar a abstenção no primeiro turno e prejudicá-lo na disputa com Bolsonaro. De acordo com pesquisa Datafolha do último dia 15 de setembro, ao menos 10% dos eleitores do petista consideram não ir à seção eleitoral por medo da violência política. Entre os eleitores de Bolsonaro esse número é de 5%. No cenário geral, 9% do eleitorado indicou receio de votar por conta dos casos de violência.
Neste ano, ao menos dois apoiadores petistas morreram durante conflitos com aliados do presidente Bolsonaro. Em junho, um militante petista foi morto a tiros durante sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu, no Paraná. Neste mês, um trabalhador rural foi morto a facadas por um colega de trabalho durante uma discussão política no Mato Grosso.
Para evitar o embate direto entre eleitores no dia da eleição, a campanha de Lula vai intensificar a mobilização para que os eleitores petistas não se exponham nos locais de votação. Entre as ações programadas, a campanha vai investir em peças publicitárias na propaganda eleitoral no rádio e na TV nesta última semana antes do primeiro turno.
"É necessário garantir a todos os cidadãos a segurança para a livre manifestação na semana da eleição. Precisamos garantir que os eleitores possam comparecer às urnas, e livremente, exercerem o democrático direito ao voto", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), integrante do comitê de campanha de Lula.
Metodologia de pesquisas citadas na reportagem
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-07560/2022.
O Datafolha entrevistou 5.296 eleitores entre os dias 13 e 15 de setembro. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-04099/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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