Os três candidatos ao Senado pelo Paraná que melhor se posicionam na mais recente pesquisa disponível (veja abaixo), Alvaro Dias (PODE), Paulo Martins (PL) e Sergio Moro (União) disputam os votos de um eleitorado que transita praticamente dentro do mesmo campo político – o da direita. Assim, na tentativa de atrair os eleitores, o tom ameno do início da campanha não perdurou até aqui, a quase um dia da votação. Dois movimentos em especial marcaram o período. A temperatura subiu a partir do aceno de Sergio Moro a eleitores de Bolsonaro: com a bandeira anti-Lula, Moro evitou confrontar o presidenciável do PL, com quem rompeu em abril de 2020. A estratégia não agradou Paulo Martins, que é o candidato de Bolsonaro no Paraná e tem no atual chefe do Executivo seu principal cabo eleitoral, ao lado de Ratinho Junior (PSD).
Moro e Paulo Martins se uniram, contudo, quando o alvo foi Alvaro Dias. Ao longo da campanha, especialmente Moro insistiu na tentativa de “colar” o campo da esquerda em Alvaro, aproveitando a aliança do senador com o PSB, sigla de Geraldo Alckmin, candidato a vice de Lula. Com longa trajetória na oposição ao PT, Alvaro rejeitou a tese do ex-aliado, mas observou de longe a disputa ao Planalto, sem criticar presidenciáveis. Possível beneficiado pelo “voto útil” de eleitores de esquerda que priorizam a derrota de Moro, Alvaro fez acenos discretos tanto a Lula (PT) quanto a Bolsonaro (PL), e nem se envolveu na campanha de Simone Tebet (MDB), com quem o PODE se aliou nacionalmente.
"Eu quero voto de todo lado. Da esquerda, da direita, do centro, de cima, de baixo, de todo mundo. Todo voto me honra muito", disse Alvaro.
Também disputam a cadeira do Paraná no Senado os seguintes nomes: Aline Sleutjes (Pros), Desiree (PDT), Dr Saboia (PMN), Laerson Matias (Psol), Orlando Pessuti (MDB), Roberto França da Silva Junior (PCO) e Rosane Ferreira (PV).
Moro x Alvaro
O primeiro conflito público envolvendo os três candidatos aconteceu no início de setembro, quando a Federação do PT, PCdoB e PV foi à Justiça Eleitoral reclamar de irregularidades na confecção de materiais da campanha de Moro e Paulo Martins. A Justiça Eleitoral mandou apreender o material, o que irritou os candidatos. Nas redes sociais, tanto Moro quanto Paulo Martins chamaram a atenção para o fato de a federação não ter contestado material da campanha de Alvaro. “O PT “esqueceu” de reclamar do santinho do Alvaro Dias. Afinal, quem é o candidato real do PT ao Senado no Paraná?”, escreveu Moro. “O PT achou que os nomes dos meus suplentes não estavam em tamanho adequado em minhas peças de propaganda e na do Moro, mas não viu nada de errado na propaganda do Alvaro Dias, cujos nomes dos suplentes são quase ilegíveis. O PT não enxerga mais o Alvaro ou enxerga bem demais?”, continuou Paulo Martins.
Naquele momento, Alvaro não se defendeu publicamente, mas aliados começaram a entrar em cena, como a presidente nacional do Podemos, a deputada federal por São Paulo Renata Abreu, que distribuiu um longo vídeo no qual apontava “decepção” com Moro. Enquanto isso, as batalhas dentro da Justiça Eleitoral já ganhavam corpo. Um vídeo disparado a eleitores via WhatsApp, e com uma narrativa na qual Alvaro era apresentado como o candidato do PT, foi levado à Justiça Eleitoral, mas a campanha de Moro negou a autoria da peça e o caso não avançou. Em outro processo, Moro conseguiu obrigar a coligação de Alvaro a falar nas inserções de rádio os nomes de todos os partidos que integram a coligação do senador, incluindo o PSB.
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Nos dois principais debates da campanha entre os candidatos ao Senado – um organizado pela BandNews TV e outro promovido pela Gazeta do Povo -, Moro insistiu no tema sobre a ligação entre Alvaro e o PT nesta campanha. Ausente no debate da Gazeta do Povo, Alvaro fez uma live no dia seguinte, com ataques ao oponente, a quem chamou de “Pinóquio novo na política” e “estagiário”. Moro rejeitou a atitude do rival na sequência: “Eu apontei as incoerências políticas, não fiz ataque pessoal. Fica muito confortável ele falar isso numa live, e não no debate”.
Já o PT vem negando que esteja estimulando o “voto útil” em Alvaro, na tentativa de derrotar seu algoz na Operação Lava Jato, e reforça que trabalha apenas pela vitória de Rosane Ferreira (PV). Durante o comício de Lula em Curitiba, contudo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, enfatizou o pedido para que o eleitor derrotasse Moro, e fez discreta menção ao nome de Rosane, já no final do discurso.
Paulo Martins x Moro
Nos debates, Paulo Martins, por sua vez, cobrou uma resposta de Moro sobre a saída dele do governo federal, levantando a questão da interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Moro se esquivou sobre o tema, sugerindo que a prioridade deveria ser derrotar o PT, e se incomodou com a estratégia do adversário: “Paulo, por que você me persegue? Acho que o nosso adversário é o Lula. Eu não sou seu adversário”, disse o ex-juiz federal na BandNews TV. “O senhor, em sua saída do governo, traiu o presidente Bolsonaro. Depois, traiu o Podemos, inclusive o Alvaro Dias”, apontava Paulo Martins.
Ao longo da campanha, Moro fez repetidos acenos ao eleitor do Bolsonaro. “Jamais estarei ao lado do PT e do Lula, você pode escrever na pedra. Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso te dizer. Nós temos o mesmo adversário”, disse Moro, em uma das primeiras peças de propaganda que exibiu na televisão. Mais recentemente, durante entrevista à RPC TV, declarou: “Eu tenho divergências importantes com Bolsonaro. Mas tenho mais convergências”.
Nos comícios de Bolsonaro no Paraná, Paulo Martins foi quem ficou no palanque. Mas, em encontros promovidos pela campanha do governador Ratinho Junior, candidato à reeleição, Moro também apareceu. “Perguntam-me sobre o fato de eu estar no mesmo palanque que Sergio Moro, ao lado do governador Ratinho Jr, em evento na noite de ontem. Importante esclarecer que Moro não foi convidado. Ele tenta estar ao lado do governador para parecer ser apoiado por ele. É um usurpador”, disparou Paulo Martins, em suas redes sociais.
A candidatura de Ratinho Junior é sustentada por 11 partidos políticos, incluindo o União Brasil de Sergio Moro, e também o MDB de Orlando Pessuti e o Pros de Aline Sleutjes. Mas, afinado com Bolsonaro, o governador optou por declarar seu voto em Paulo Martins.
Cenário disputado
Pesquisa eleitoral divulgada pelo Paraná Pesquisas nesta quinta-feira (29) aponta um empate dentro da margem de erro entre Moro e Alvaro. Moro aparece com 29,8% das intenções de voto, seguido de Alvaro, com 27,5%. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Paulo Martins aparece em terceiro lugar, com 18,3%, e Rosane figura na quarta posição, com 4%.
Na sequência, estão Desiree (1,6%), Aline (1,2%) e Pessuti (0,9%). Três candidatos registram 0,3%, cada um. São eles: Laerson Matias, Dr Saboia e Roberto França. Brancos e nulos somam 8% e 7,7% não sabem ou não responderam.
A pesquisa eleitoral feita com recursos próprios pelo Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 eleitores paranaenses, entre os dias 24 e 28 de setembro. O nível de confiança do levantamento é de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número PR-04147/2022.
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