Candidato do PCO ao governo do Paraná, o funileiro mecânico Adriano Teixeira se apresenta nesta eleição para defender o programa do Partido da Causa Operária. Programa que, lembra o candidato, não tem propostas específicas para o Paraná, por ser um documento único, nacional, defendido por todos os militantes do partido, de “tomada do poder através da revolução”. Apesar de dizer que o processo eleitoral estabelece, no país, uma “falsa sensação de democracia”, Teixeira se coloca candidato para aproveitar o espaço e divulgar as causas do partido.
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Em entrevista à Gazeta do Povo, o candidato explicou algumas das proposições que constam no programa histórico do PCO, como a extinção de qualquer tipo de polícia e o fechamento do Supremo Tribunal Federal.
Apesar da disparidade de condições entre as candidaturas com representação no Congresso e sem representação que, por isso, não têm tempo de TV, não participam dos debates, não têm fundo partidário, a eleição no Paraná tem cinco candidatos nesta condição e apenas quatro de partidos tidos como grande. Numa campanha como essa, qual é o objetivo da sua candidatura?
Esse ponto que você toca é um ponto bem interessante, evidencia que estamos diante de uma falsa democracia. Como a gente vai eleger pessoas, como a gente vai ser conhecido do povo se tem essa barreira, se há um monopólio? Nosso partido vem sofrendo uma perseguição gigantesca do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Inclusive, alguns meses antes das eleições, esse ministro bloqueou todas as redes sociais do PCO, calou a nossa imprensa. Ele censurou a imprensa do Partido da Causa Operária nas redes sociais e, para além disso, demorou para liberar o nosso fundo eleitoral. Então, a gente perdeu praticamente uns 15 a 20 dias de campanha eleitoral por causa disso. A gente não sabe nem exatamente o que aconteceu, mas ele paralisou lá a verba que viria para o PCO, atrapalhando a nossa campanha. A Campanha já é de 45 dias, que é muito pouco tempo. O que me leva a ser candidato pelo Partido da Causa Operária é que nós temos um programa real, um programa concreto para a classe operária, para a classe trabalhadora. Um programa, também, de denúncia em relação a essa falsa democracia que nós temos no país hoje, que é essa questão das eleições, por exemplo. A gente sabe que isso aí é um jogo de cartas marcadas e que a burguesia sempre leva a melhor. Ou seja, quem tem dinheiro ou quem tem influência entre eles é que consegue se eleger. Nosso partido é um partido ligado à classe operária, aos trabalhadores, e eu sou funileiro mecânico. É nesse sentido que a gente vai com a candidatura operária. Não vou dizer que sou eu que vou fazer alguma mudança efetiva na vida da população e dos trabalhadores. O que a gente conclama é que a classe operária, a classe trabalhadora, trabalhe junto com a gente contra essa burguesia que está aí.
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Geralmente, os candidatos da esquerda estão vindo do meio acadêmico. O senhor é historiador, tem esse vínculo com a universidade, mas sua profissão, hoje, é de funileiro. Qual a importância de um operário ser o candidato do Partido da Causa Operária?
É que dentro da universidade, geralmente nesse campo mais ligado à esquerda, das ciências humanas, é que a gente começa a ter uma compreensão em relação à sociedade, em relação ao sistema e a toda a conjuntura histórica, política e social. A pessoa começa a perceber aí que ela tem que ter um viés de luta, que se não lutar contra a burguesia, nada vai melhorar para a classe operária. Nesse sentido aí que a gente vai trabalhando. Eu trabalhei um pouco de tempo nas escolas como estagiário, uma aula aqui, uma aula ali, uma coisa bem pouca. Mas eu já tenho essa profissão de funileiro desde a minha adolescência, meus irmãos trabalham como funileiro e eles me ensinaram essa profissão e eu levo adiante hoje em dia. Mesmo porque a situação do professor no Paraná é catastrófica nesse momento. No meu caso, que seria um professor PSS, é pior ainda. Os PSS estão sofrendo, então, comendo o pão que o diabo amassou na mão desse governo de direita, deste governador que é muito parecido com o Bolsonaro, mas limpinho e cheiroso, como diz a burguesia.
O senhor reconhece que que é utópico pensar numa eleição para governador do Estado, de um de um militante do PCO na eleição de 2022? E, por tudo aquilo que a gente já conversou, eleger um parlamentar já está no horizonte?
Olha o nosso partido, ele vai aí com força total em todas as campanhas. Eu acredito que pelo crescimento que o partido tem tido agora nos dois últimos anos, a gente tem sido muito divulgado nas nossas fileiras, tem aumentado muito nosso número de militantes e de filiados. Estamos fazendo um bom trabalho em toda a regional aqui no Estado; mas essa situação do PCO está acontecendo nacionalmente, é um fenômeno que está aparecendo de forma organizada. Sem recursos, o nosso trabalho tem que ser um trabalho literalmente militante, literalmente mesmo. A gente vai ali como militante, vai trabalhando, conversando, entregando panfletos para a companheirada, para a galera que se interessa pelo nosso programa, pelo nosso partido. A gente acha que tem condição sim de, se não nesta eleição, numa próxima, começar a eleger nossos representantes.
No que o programa do PCO se difere dos demais partidos de esquerda, que não permite uma coligação, por exemplo?
São vários pontos. O nosso programa é um programa revolucionário, não é um programa reformista. Isso já exclui o programa do Partido dos Trabalhadores, apesar de a gente ter apoio à candidatura do Lula. Com os outros partidos, apesar de parecerem menores as divergências, elas também são intransponíveis. O PSTU, por exemplo, acredita que não houve golpe contra a presidente Dilma Ropusseff em 2016, uma posição que a gente considera absurda e que nos afasta deles. A posição do PCB de levar uma candidatura própria a presidente, o que atrapalha a candidatura do presidente Lula. Outra questão é a pauta do armamento dos cidadãos. Alguns partidos de esquerda são contra o armamento da população. Como partidos que se dizem revolucionários acham que vão conseguir fazer a revolução sem armas? Como vamos tomar o poder sem ter que confrontar com a burguesia diretamente? É óbvio que a população tem que estar armada não só para se defender, se proteger, mas também para estar organizada e se defender também do estado opressor da repressão estatal que é organizada contra a população através de instituições como a polícia.
Aproveitando esse gancho, na segurança pública, o senhor defende o fim das polícias e a organização de milícias comunitárias. Como isso funcionaria?
O Partido da Causa Operária tem uma ideia de que a segurança pública deve partir da própria população e não de uma instituição organizada pelo Estado. Nada disso. A população mesmo que deve garantir sua própria segurança, seja a segurança física, a segurança do bairro, os seguranças da cidade, segurança daqueles que têm que se defender. Esse é o programa do partido já faz muito tempo, pelo fim da instituição polícia, né? Porque a gente considera essa polícia uma máquina de matar preto e pobre e de aterrorizar a população, literalmente. Também é um braço opressor do estado, em que atacam os movimentos sociais, que atacam as manifestações populares. É uma coisa aterrorizante e que não vale a pena ser continuada. A população é que deve mesmo levar essa discussão em torno dos seus grupos e colocar esse ponto de pauta e ver o que é melhor para ela. Tem que ser uma coisa organizada pela população. A população debate, a população se esclarece, e a população chegará à conclusão de que essa instituição deve ser extinta. É outro ponto que a gente considera como milícias populares. Seria essa organização popular, a população aí, através de associações de bairro, através da comunidade, de todos fazerem um debate e escolherem pessoas que eles acreditam possam cuidar do bairro. Pessoas confiáveis, eleitas pela população para fazer a segurança do bairro. Sei que a palavra milícia está em descrédito, mas seria isso mesmo.
A gente considera a polícia uma máquina de matar preto e pobre e de aterrorizar a população, literalmente. Também é um braço opressor do estado, em que atacam os movimentos sociais, que atacam as manifestações populares. É uma coisa aterrorizante e que não vale a pena ser continuada
Adriano Teixeira (PCO), candidato ao governo do Paraná
Quanto à punição que o PCO sofreu do Supremo Tribunal Federal. Muita gente acha que os conflitos do STF, no caso do inquérito das fake news, são apenas com políticos de direita, mas o PCO é um dos partidos atingidos pelas decisões do Supremo, tendo seu site e suas contas nas redes sociais retirados do ar por defender a dissolução do Tribunal. No seu plano de governo também consta a proposta de extinção do STF. Por que?
Isso também é um dos pontos do nosso programa defendido pelo partido. Desde quando o partido é partido. É um princípio político que toda a esquerda deveria ter, que é o fim dessa instituição. Essa instituição não tem uma serventia nenhuma, ela não é eleita pelo povo. E é quem, hoje em dia, está tomando as rédeas da Constituição, rasgando a Constituição, fazendo o que bem entende com a Constituição Nacional. Um juiz não tem esse direito. Ele está no cargo que está, não para criar leis, inventar leis, criar punições ou inventar punições. Ele deveria ter se candidatado para fazer esse tipo de coisa. Mas, nesse caso, aqui, o que está acontecendo com o STF é isso. Inclusive, deu agora de perseguir o Partido da Causa Operária. A gente avisou. Daí a gente vem alertando a esquerda de que a gente não pode dar poder para esse tipo de instituição, porque ela vai se virar contra a esquerda, porque é uma instituição burguesa, uma instituição da burguesia. A gente defende o fim. Mas a esquerda viu, em certo momento, alguns bois de piranha da extrema direita sendo calados de forma arbitrária, e bateu palmas. Enquanto eles riam lá que os bolsonaristas estavam sendo perseguidos, a gente já avisava que isso é um princípio que está errado, que isso é antidemocrático e que poderia se voltar contra a esquerda a qualquer minuto. Não deu outra. Então, a gente critica muito essa postura da esquerda e está apoiando isso daí; e a gente defende o fim do STF.
Falando especificamente sobre o Paraná. Qual é o programa do partido para o desenvolvimento do estado?
O partido da Causa Operária tem um programa próprio que é para todo o país. Não há um programa único para o Estado do Paraná. Se você pegar o nosso programa em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia, enfim, no Rio Grande do Sul, onde a gente vai organizar o programa, ele é o mesmo programa. Ele é um programa de luta, é um programa revolucionário. É um programa para a classe trabalhadora. Entre os pontos mais interessantes desse programa é a convocação em rede da classe operária a lutar contra o regime golpista que está instalado no país. Esse regime de golpista que atropela o país em 2016 e vem para destruir tudo o que é público. Tudo o que é ligado ao social. Tudo que é ligado à população, aos direitos dos trabalhadores, aos direitos da população, ao direito dos oprimidos em geral. Por consequência, destruir também toda a nossa indústria, toda a nossa tecnologia e deixar o país aí de joelhos, digamos assim, ou submisso aos interesses do imperialismo norte-americano, principalmente. Então a gente fala o seguinte não há o que fazer? Não. Não existe promessa para candidato do Partido da Causa Operária em relação ao futuro, se não for através de uma luta contra o regime golpista instalado no país, do qual a gente viu aí o STF também dando aval. A gente tenta de todas as formas organizar a classe operária, fazer uma luta e em torno da União Popular, para que a gente possa reverter esse quadro.
Mas então, em 3 de outubro, na segunda-feira da semana que vem, quando sentar para avaliar o resultado da eleição, o que que seu pessoal vai considerar um resultado satisfatório para as aspirações do partido?
Nesse momento aqui, apesar de toda a perseguição e da dificuldade que o partido está tendo aqui, eu posso, na minha avaliação pessoal, considerar que a gente está saindo vitorioso dessa situação. Muita gente tem conhecido o partido, muita gente tem procurado saber mais sobre o partido. Nossas redes sociais têm ampliado de forma vertiginosa. Então, a gente está vendo aí um bom resultado nesse sentido. Esse trabalho que a gente está tendo com a população também. É muito importante a gente chegar perto do pessoal, conversar com o pessoal, a gente ver também a necessidade da população. O futuro do nosso partido é saber e os pontos mais sentidos pela população e trabalhar com eles. Então, para nós aqui, para mim, do Paraná, eu considero como positivo tudo o que está acontecendo - tanto para o nosso partido, numa coisa mais ampla, quanto pessoalmente. Vai ser uma experiência e tanto para mim aqui conhecer por dentro de todo esse sistema, de toda essa situação que é ser candidato do governo do Estado.
Para a gente encerrar, um minuto para você falar é por que o paranaense deve votar em Adriana Teixeira para governador?
Bom, o paranaense aqui, como a gente sabe, a maioria de todos os estados são trabalhadores, são operários, assim como eu. A gente acha que o pessoal deve votar no Partido da Causa Operária porque, como eu disse anteriormente, é um programa de luta dos trabalhadores. É um programa concreto e real de luta. Não é um programa abstrato, um programa que não vai levar a luta a lugar nenhum. Muito pelo contrário. É um programa que leva, sim, condições reais de mudanças para a classe operária, para os trabalhadores, para os oprimidos de uma forma geral. Então, é nesse sentido que eu acho que você deve se juntar à luta do Partido da Causa Operária, trabalhar junto com a gente nas ruas, defender o nosso programa e ser cada vez mais contra o regime golpista, contra esse sistema organizado de fora para dentro, contra o imperialismo também, que coloca o nosso país de joelhos. No mais, reafirmo que é importante trabalhador votar em trabalhador.
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