O ex-governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião, candidato do PT ao Palácio Iguaçu nas eleições de 2022, deu entrevista nesta quarta-feira (21) a jornalistas da Gazeta do Povo (assista ao vídeo). Requião criticou a política de isenção fiscal a empresas da atual gestão, apontando falta de transparência, e declarou que Ratinho Junior (PSD) faz “guerra” contra os servidores públicos. Também criticou a venda da Copel/Telecom, a atuação do Ministério Público e reforçou a proposta de um pedágio de manutenção para as estradas do Anel de Integração. O ex-emedebista ainda falou do PT e sobre contratações de parentes. Requião foi o primeiro entrevistado de uma série de sabatinas que a Gazeta do Povo realiza com os candidatos ao Executivo paranaense.
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Nesta quinta-feira (22) o entrevistado será Ricardo Gomyde (PDT), e, na sexta-feira (23), será a vez da candidata Professora Angela (Psol). Candidato à reeleição, Ratinho Junior dará entrevista no próximo dia 28. Cada sabatina é transmitida ao vivo e tem duração de uma hora.
Isenção fiscal
Questionado sobre as razões que o levavam a concorrer novamente ao Palácio Iguaçu, Requião aproveitou para criticar a atual gestão. Segundo ele, há “uma molecada” hoje no governo estadual. “Sou candidato porque descobri que o Paraná está sem governo. Não tem nenhuma identidade com o povo, nem solidariedade com as pessoas. Hoje, a população no fim do mês não sabe se paga a conta de água e luz, que são verdadeiros roubos, ou se paga a conta da comida para colocar na mesa da família”, iniciou o petista. Na visão dele, entre os erros cometidos pela gestão Ratinho Junior, está a venda da Copel/Telecom: “Ela dava lucro. E para onde foi a grande parte deste dinheiro? Para os acionistas. A Copel virou propriedade do mercado, dos sócios privados”.
Ainda sobre ações da atual gestão, o candidato também criticou a política de isenção fiscal, apontando que não há transparência: “Temos um governo que dá isenção fiscal para as grandes empresas secretamente. Dinheiro público. Isso é uma imoralidade absoluta”. Requião alega que são cerca de R$ 17 bilhões no ano “sem dizer para quem e nem para o quê” e que a política ao final prejudica municípios. “Os prefeitos de hoje não sabem que, com a isenção de R$ 17 bilhões para as empresas multinacionais, eles perdem 25% dos recursos. Eu vou cuidar das pessoas. Não vou cuidar das multinacionais, dando isenção e ferrando o povo do Paraná. Um estado que diz que não pode pagar funcionário?”, criticou ele, para quem a redução dos impostos às pequenas empresas deve se priorizada.
“Há uma guerra do Rato com professor, com enfermeiro e com médico, com pessoal da segurança pública. Só não faz guerra com os milionários que recebem 17 bilhões de isenção fiscal”, disse ele.
Quadros do PT
Filiado ao MDB até o ano passado, Requião também foi questionado sobre a resistência ao PT no Paraná, lembrando que a sigla nunca ganhou uma eleição ao governo estadual. “Acho que há uma resistência ao PT no Paraná provocada pela mídia. Acho que o PT, como todos os outros partidos brasileiros, cometeu erros – você não vai me pedir aqui para defender o Palocci, eu quero ver ladrão de dinheiro público na cadeia. Mas tem gente porreta”, afirmou ele, citando nomes petistas que já ocuparam secretarias em suas gestões no Palácio Iguaçu, como Enio Verri, Valter Bianchini e Padre Roque (falecido em 2019). “Fiz um governo plural. Tinham os tucanos de bico vermelho também. Hoje é uma molecada que não tem responsabilidade alguma. Governo que capturou prefeituras com pequenas doações”, disse ele.
Pedágio
Durante a entrevista, o candidato também falou sobre o pedágio nas estradas. Recentemente, ele anunciou que fez um acordo com o candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para implantar um pedágio apenas de manutenção, caso eleitos. “Estes R$ 44 milhões de obras previstas no atual edital do pedágio são dispensáveis?”, perguntaram os jornalistas. Requião retrucou: “O que aconteceu com o dinheiro das obras do pedágio nos últimos anos? As obras não ocorreram, mas o preço foi cobrado. É um bando de ladrões. É uma falácia”. O candidato também reforçou a interferência do valor do pedágio na inflação e disse que teme uma “recessão brutal” após as eleições, com “essas benesses do Bolsonaro de reduzir impostos e desarmar estados”.
O que aconteceu com o dinheiro das obras do pedágio nos últimos anos? As obras não ocorreram, mas o preço foi cobrado. É um bando de ladrões. É uma falácia
Roberto Requião (PT), candidato ao governo do Paraná
Obras no Litoral
Requião também foi questionado sobre a polêmica obra da Faixa de Infraestrutura, no Litoral do Paraná, mas acabou respondendo sobre a engorda da praia de Matinhos. Segundo ele, Matinhos “precisava disso”, mas considera que o valor da obra – de cerca de R$ 500 milhões – está elevada. Ele também contesta a quantidade de empresas envolvidas no empreendimento. “O valor alto não tem cabimento. E por que sete empresas para fazer uma obra que uma empresa faria sozinha? Eu assumo e vou investigar isso”. O candidato do PT destacou ainda que, nas suas gestões, “me dediquei a cuidar dos caiçaras”. “Eu não vejo o Litoral só como espaço de lazer para a classe alta no verão”, disse ele.
Segurança pública
Sobre suas propostas para a área de segurança pública, Requião defendeu que “a polícia tem que ser preventiva, e não repressiva”: “A polícia repressiva da direita brasileira é para reprimir movimentos sociais, para colocar na porta de uma fábrica e bater nos operários que estão reivindicando direitos e salários. A polícia repressiva tem que ser cessada. Nós precisamos de uma polícia preventiva. Patrulha Escolar, Patrulha Rural, interação com movimento social. O policial que trabalha no bairro tem que conhecer você, a sua esposa, seus filhos”.
Ele também não endossa o modelo de “escola cívico-militar” proposto por Ratinho Junior. “Botar um militar na direção de uma escola? A formação genérica da corporação não tem nada com isso. Eu criei a Patrulha Escolar. Coloquei a polícia interagindo com pais e alunos, professores, para garantir a segurança”, disse ele.
Orçamento e MP
Perguntado sobre se concordaria com a redução da fatia orçamentária para os demais Poderes – como Judiciário, Legislativo e Ministério Público, Requião ponderou que os salários precisam ser bons, mas criticou “corporativismos”. “Acho que um procurador de Justiça tem que ganhar bem, um juiz tem que ganhar bem. Ele não pode estar preocupado com a manutenção da sua família quando ele está cuidando de julgamentos e sentenças importantes para todo mundo. Mas, o corporativismo é a manifestação coletiva do egoísmo e do individualismo. Este pessoal tem que entender que a finalidade deles é cuidar da estrutura do Estado, das pessoas e do Direito”, comentou ele, acrescentando críticas aos cargos comissionados recentemente criados na atual gestão do Ministério Público, encabeçada por Gilberto Giacoia. “Mas os cargos que eles criaram agora são de uma imoralidade absoluta. Como é que o chefe do MP pode falar em defesa do povo, pedindo cargo em comissão, sem concurso?”.
Contratação de parentes
Criticado durante suas gestões no Palácio Iguaçu por nomear parentes para postos do primeiro escalão, como os irmãos Maurício e Eduardo, o candidato do PT afirmou que não há problema quando “você tem parente que tem condições de fazer um bom serviço, que você conhece e tem confiança”. “O parentesco não é motivo para ser contratado, mas não é uma cláusula infamante. Tem parentes que eu não nomeei”, justificou ele, aparentando irritação com a pergunta dos jornalistas.
Ao final, Requião declarou que faz política por ideal e deu ênfase à disputa nacional: “Eu acho que não estou numa campanha eleitoral. Eu estou na campanha da minha vida. Eu quero ajudar a mudar o Brasil. Temos que mudar este governo federal enlouquecido e temos que dar uma perspectiva ao Paraná também. Faço por amor, por identidade com o povo, por solidariedade, para dar um sentido útil na minha vida”.
Assista ao vídeo da sabatina:
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