É tal a incipiência da política local que nem em uma eleição estadual os caciques políticos do Paraná conseguem exercer algum poder para além do seu cercado.
Estamos assistindo a mais um capítulo deste "deixa que eu deixo" com o resultado das convenções partidárias que devem definir os candidatos às eleições de outubro. A última moda, julga o observador da política dos pinheirais, é "lançar" um candidato mas não lançar ninguém de verdade.
Tome-se por exemplo o "lançamento" da candidatura do deputado estadual Guto Silva (PP) ao Senado. Ex-secretário-chefe da Casa Civil do governo Ratinho Junior (PSD), homem com grande influência na montagem do governo, foi a grande estrela da maior convenção partidária no estado até o momento, do Progressistas, partido de Ricardo Barros. Na convenção, o partido "lançou" o nome de Silva à disputa. Mas, na verdade, sua candidatura pode ser descartada a qualquer momento, conforme a conveniência partidária.
Situação semelhante aconteceu com a candidatura naufragada de César Silvestri Filho ao governo, bombardeada por líderes de seu próprio partido, o PSDB. Emparedado por tucanos governistas, Silvestri se viu pressionado a retirar seu nome da disputa ao Palácio Iguaçu e contentar-se com a vaga ao Senado, passando a concorrer com o ex-juiz Sergio Moro (União) com quem, até poucos dias, negociava chapa conjunta.
A mais recente decisão à moda das convenções paranaenses foi a do PSB, partido que minguou no estado com a aliança nacional da sigla com o PT. Comandado pelo ex-prefeito de Curitiba Luciano Ducci, que fez carreira política ao lado do ex-governador Beto Richa (PSDB), a sigla anunciou no estado apoio à candidatura do governador Ratinho Junior, que deverá fazer campanha ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nacionalmente, porém, o partido deve fazer palanque à candidatura de Lula (PT), que tem o PSB como vice, na figura de Geraldo Alckmin.
É bom repetir, para que não se tenha dúvida da posição da legenda: no estado estão com Ratinho. Na eleição nacional, com Lula. A premissa é: Ducci se recusa a dividir palanque com Roberto Requião (PT). Com Lula, tudo bem.
Convenções partidárias valem menos do que a palavra de quem realmente manda na política
A verdade é que essas convenções convencionam muito pouco porque todas, direta ou indiretamente, dependem da decisão de quem realmente manda na política. Que, no momento, vem a ser o governador Ratinho, em primeiro plano, e o presidente Bolsonaro em segundo.
Ratinho segura todas as cartas que, postas na mesa, definirão quem joga contra quem. Ainda não definiu quem será seu vice, quem será seu candidato ao Senado (ou sequer se terá um nome próprio para o Senado) ou até quais partidos estarão oficialmente em sua coligação. A convenção do PSD será dia 3. Dia 5 é o prazo final para os partidos definirem seus candidatos de fato.
Nesta terça (26), caiu a primeira peça do dominó: o União Brasil definiu que também apoiará o atual governador, sem vetar qualquer outro partido na coligação. Hoje, enfileiram-se nas trincheiras de Carlos Roberto Massa Junior praticamente todas as legendas do centro à direita, pescando até algumas de centro-esquerda. E cabe mais.
Este casamento poliamoroso abrirá um precedente incomum: Ratinho poderá ter nada menos do que quatro candidatos de seu grupo ao Senado: Sergio Moro (União), Guto Silva (PP), Paulo Martins (PL) e Orlando Pessutti (MDB). Orbitam em volta do governador, ainda, as candidaturas ao Senado de César Silvestri (PSDB) e Aline Sleutjes (Pros).
É uma lista que inclui candidatos, definidos em convenção, e pré-candidatos, que ainda não tiveram a bênção oficial de seus partidos. Mas isso não faz a menor diferença. Não será de se espantar se essa lista aumentar ou diminuir até o prazo final das convenções, incluindo quem sabe o próprio senador Alvaro Dias (Podemos), cujo partido remarcou a data de convenção para os 45 minutos do segundo tempo, esperando uma melhor definição do cenário. Até lá, tudo (ou nada) pode acontecer.
É um fenômeno conhecido da política local: as lideranças que crescem muito, crescem tanto que fazem uma sombra tal que impede o florescimento de seus próprios aliados. No caso da coligação arrasa-quarteirão de Ratinho, a supostamente nobre vaga para o Senado virou uma corrida maluca. Alguns nomes com potencial de votos podem vir a abandonar a disputa por uma eleição menos concorrida à Câmara.
Essa hipercentralização não parecer ser o melhor modelo para uma democracia federativa, mas essa já é outra história.