O período pré-eleitoral no Paraná vem sendo marcado por um estranho fenômeno, sublinhado pela recente desistência da candidatura de César Silvestri Filho (PSDB) ao governo do estado: a escassez de postulantes à cadeira do Palácio Iguaçu e consequente aumento dos quadros em disputa pela vaga ao Senado Federal.
É um cenário incomum se considerando que o cargo de governador costuma ser o ápice da carreira de um político paranaense. Ainda que seja uma eleição difícil, não deveria haver mais gente disposta a disputar essa corrida?
Hoje são pré-candidatos ao governo o atual governador Ratinho Junior (PSD), o ex-governador Roberto Requião (PT) e... quem mais? Na mais recente pesquisa ao cargo, feita pela Real Time Big Data e divulgada nesta quinta (21)*, constam os seguintes nomes: Flávio Arns (Podemos), Ângela Machado (Psol), Solange Ferreira Bueno (PMN) e Zé Boni (Agir), além do próprio Silvestri, agora desistente.
Dessa lista, o nome do senador Flávio Arns é de fato especulado, conforme as portas se fecham e se abrem para a candidatura à reeleição do atual senador Alvaro Dias (Podemos), que ainda acerta a melhor posição para a legenda: pode ser que o partido vá de candidato próprio ao Palácio Iguaçu (Arns), pode ser que não. Pode ser que tenha candidato próprio à presidência da República (Dias), pode ser que não.
Sobre os demais nomes, com todo o respeito, desafio o leitor que já tenha ouvido falar de algum ou que conheça propostas de algum deles. Normal. Não são pessoas que tenham ocupado cargos públicos de destaque ou que tenham uma carreira política relevante. Têm a campanha toda para se fazer conhecidos.
Já a corrida para o Senado conta com os seguintes postulantes, citados na pesquisa da IRG de 4 de julho**: Alvaro Dias (Podemos), Sergio Moro (União Brasil), Paulo Martins (PL), Doutor Rosinha (PT), Aline Sleutjes (Pros), Guto Silva (PP), Orlando Pessuti (MDB), Elton Braz (PCdoB) e Desiree Salgado (PDT), além de Valdir Rossoni (PSDB), outro tucano que já se declarou fora da disputa.
São pelo menos sete nomes com forte atuação na política recente, o que indica o quanto essa será uma eleição disputada no Paraná.
O fracasso da terceira via, também no Paraná
A desistência de Silvestri é mais uma evidência do fracasso da chamada “terceira via” no Brasil de 2022. O termo vai entre aspas porque continuam existindo, afinal, candidatos que não sejam os dois principais a antagonizar a disputa tanto para o governo quanto para a presidência da República e que são, afinal, algum tipo de opção.
Mas é fato que a terceira via conseguiu fazer mais vítimas do que construir postulantes a cargos políticos neste ano. No plano nacional, sacrificou nomes como dos ex-governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de São Paulo, João Doria, ambos do PSDB, e de Sergio Moro (inicialmente no Podemos, depois no União Brasil). Hoje, Simone Tebet (MDB) luta para conseguir apoio dentro do próprio partido e tentar ocupar esse espaço.
No Paraná, Silvestri foi o único que tentou se posicionar na terceira via. Até porque o outro nome relevante que chegou a se colocar na disputa, o deputado federal Filipe Barros (PL), só foi considerado até que estivesse acertado o apoio entre Ratinho Junior e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Agora Silvestri é carta fora do baralho governamental e se coloca como mais um candidato ao Senado, aumentando ainda mais a concorrência ao posto.
O que explica mais candidatos ao Senado do que ao governo do Paraná
O que pode explicar essa prevalência ao cargo legislativo em relação ao executivo?
De um lado está a descrença dos partidos de centro – ou, mais precisamente, dos partidos que não compõem as bases de apoio de Lula (PT) e Bolsonaro – de que sejam capazes de construir uma candidatura que consiga roubar votos dos dois principais pré-candidatos. Sem um nome forte nacional, os palanques locais acabam enfraquecidos. Assim, resta a disputa pela segunda melhor opção, a vaga ao Senado Federal, com seu fórum de notáveis e confortável mandato de oito anos.
Mas de outro lado, e talvez mais relevante, está a força do principal ativo político do governador Ratinho Junior, que é seu poder de barganha.
Nesse ponto, Ratinho tem o mesmo perfil dos políticos tradicionais mineiros, conhecidos por construírem acordos no particular e pela pouca estridência no ambiente público. Figuras que poderiam ser simbolizadas pela personalidade do ex-presidente Tancredo Neves. Avesso ao confronto na arena pública, Ratinho é capaz de costurar apoios com líderes das mais diversas legendas, apaziguar as diferenças entre aliados e fechar caminhos de adversários.
Consideremos, como exemplo, o quanto o PSD cresceu no estado sob sua liderança, quantos prefeitos paranaenses são seus aliados hoje e como ele conseguiu facilmente trazer para seu palanque a família Barros – que, sim, tem um histórico de adesismo, mas, não podemos esquecer, foi contra quem Ratinho disputou sua primeira eleição ao governo do Paraná.
Só nas semanas que antecedem o período das convenções partidárias, Ratinho viu Moro abandonar a aventura de disputar o governo do estado e assistiu à desmontagem do palanque de Silvestri. Silvestri que, até poucos dias, fazia um “almoço público” ao lado de Moro, indicando uma possível aliança (contra Ratinho). São eventos que beneficiam fortemente o governador, mas que não ocorrem por mera sorte. São resultantes de refletidos movimentos no xadrez político. Agora resta, como verdadeiro e único antagonista ao atual governador, Requião, no que indica ser uma disputa fadada a terminar no primeiro turno.
Há quem possa argumentar que Ratinho não tem poderes sobre o PSDB de Silvestri, Beto Richa, Valdir Rossoni e companhia. Que a decisão pela desistência de Silvestri coube exclusivamente ao partido que, inclusive, sequer anunciou apoio à candidatura do atual governador: será “neutro” na disputa ao Palácio Iguaçu.
Mas há também quem argumente que não seria espantoso ver um tucano integrar um novo governo Ratinho, se isso vier a acontecer. Ou no mínimo ter suas recomendações muito bem consideradas pelo mandatário do Palácio Iguaçu.
Metodologias das pesquisas
* Pesquisa eleitoral encomendada pela Record TV para a Real Time Big Data entrevistou 1,5 mil pessoas presencialmente, entre os dias 19 e 20 de julho. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número PR-06745/2022.
** A IRG Pesquisa realizou 1.500 entrevistas por telefone com eleitores no estado do Paraná entre os dias 29 de junho e 3 de julho. A pesquisa tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o protocolo PR-03374/2022.
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